segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

MARIA TOPADA E O DELEGADO

Texto de Aloisio Guimarães

Figura folclórica, Maria Topada, foi bastante querida por toda a população da cidade de Palmeira dos Índios, independente de classe ou posição social, mesmo sendo ela uma "ex-dama da noite” (quando jovem) e tendo vivido numa época em que as mulheres tinham vida regrada; tempos em que às mulheres tudo era proibido; tempo em que mulher não bebia, não fumava, não cheirava...
Baixinha, sempre com seus vestidos de chita, pobre, ela sobreviveu muitos anos com as doações que recebia dos seus conhecidos. Sempre que me encontrava, ela conseguia arrancar alguns trocados meus, dando as suas famosas “facadas” - jargão popular, que significa alguém conseguir tirar dinheiro de outro, via convencimento verbal.
De certo modo, Maria Topada era uma pessoa muito inteligente, tendo resposta certa (ou seria pergunta?) para cada situação.
Apresentada a nossa personagem, vamos ao causo...
Como ainda acontece em qualquer cidadezinha do interior do país, anos atrás, as maiores autoridades em Palmeira dos Índios eram o Juiz, o Prefeito, o Padre e o Delegado; quem era funcionário do Banco do Brasil ou Caixa Econômica ganhava muito bem, morava nas melhores casas da cidade e tinham automóvel de luxo.
Mudança de governo... Delegado novo na cidade. Alguns dias após a sua chegada, o delegado estava em uma lanchonete, juntamente com o juiz e o prefeito, quando chega a Maria Topada, figura ainda desconhecida da nova autoridade policial. Costumeiramente, ela se encaminhou até eles, para pedir uns “trocadinhos”. Neste momento, sentindo-se importunado com a presença dela, o delegado a ameaçou:
- Saia já daqui, senão mando prendê-la!
Acontece que Maria Topada era a Maria Topada: não tinha papas na língua! Como ela também ainda não conhecia o novo Delegado, mediu o caboclo de cima a baixo, e disparou:
- Ôxente, chegou quando, que já quer mandar?!
Formou-se a confusão. Foi necessária a intervenção do prefeito e do juiz para que ela não fosse presa, sob a alegação de desacato à autoridade.
Como a turma não perdoa, foi criado mais um bordão na cidade: deste dia em diante, e durante muito tempo em Palmeira dos Índios, quando alguém "se metia a besta" ou tomava alguma atitude severa, logo os outros repetiam Maria Topada:
- Ôxente, chegou quando, que já quer mandar?!

sábado, 28 de janeiro de 2012

O HOMEM QUE DEU A LUZ

Texto de Aloisio Guimarães

Aqui vai um causo verídico e de repercussão mundial, com direito a diversas reportagens nos jornais e nas mais renomadas revistas da época.
Corria o ano de 1966...  No povoado Lajes do Caldeirão, zona rural de Palmeira dos Índios, morava um caboclo de nome José Joana. Vaqueiro de profissão, ele era respeitado por todos. Não tinha boi brabo que ele não domasse e nem boi desgarrado que ele não se embrenhasse nas caatingas e não trouxesse o animal de volta para o rebanho.
Certo dia, para surpresa geral, a Rádio Sampaio de Palmeira dos Índios (até então a única emissora do sertão e agreste alagoano), acabara de noticiar uma verdadeira bomba:
“UM HOMEM TINHA ACABADO DE DAR A LUZ NA CIDADE! O VAQUEIRO JOSÉ JOANA TINHA PARIDO”!
Logo, a população das cidades circunvizinhas (Maribondo, Quebrangulo, Santana do Ipanema, Minador do Negrão, Igaci, Cacimbinhas, Arapiraca...) estava toda sintonizada na emissora, ouvindo a entrevista do Dr. Wilson Costa, o médico que tinha realizado o parto.

Além de ouvir a entrevista “pelas ondas do rádio”, tive o prazer de ouvir, "de viva voz”, o relato do médico, uma vez que ele, além de morar vizinho à nossa casa, frequentava o “Senadinho”, famoso bar de meu pai, para onde se dirigiu tão logo terminou a entrevista na emissora de rádio.
Na verdade, JOSÉ JOANA era JOANA JOSÉ, ou seja, nascida mulher, a garota foi criada como homem e ninguém sabia, exceto a sua família. O que tinha acontecido era que o seu pai queria a todo o custo um filho homem e, como não conseguiu, fez com que ela fosse criada como tal. Por conta disso, Joana José adotou o nome masculino, sempre se vestia como homem, tomava cachaça, praticava quebra de braço (braço de ferro), contava piadas, corria vaquejada, não fugia de uma boa briga... Fazia tudo, ou quase tudo, que um homem faz.
Mas, como não se pode enganar o mundo o tempo todo, um vaqueiro amigo seu, de nome Jiló, descobriu a coisa toda no dia em que flagrou “ele” se acocorando para urinar! Descoberta a fraude, não deu outra coisa: Jiló “passou-lhe a bimba”.
Grávida, “ele” escondeu “o bucho” dos amigos e dos vizinhos o tempo todo, até o dia do parto. Por isso a surpresa geral de todos que “o” conheciam.
Depois desse acontecimento, quem queria sacanear com a população palmeirense diziam que “- Palmeira dos Índios era a terra onde o homem dava a luz”.  Como sempre tive resposta para tudo, sempre que ouvia “tal ofensa”, rebatia, dizendo:
- Você está errado, cara... Palmeira dos Índios é terra de cabra macho, mas tão macho, macho mesmo, que homem faz filho em outro. Quando você quiser ter um, dê uma voltinha por lá!

Um santo remédio: imediatamente, o engraçadinho se calava.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O CAFÉ DO MACAÍBA

Texto de Aloisio Guimarães

A Praça da Independência, na minha Palmeira dos Índios, é a maior e mais importante praça pública da cidade, onde, até hoje, está instalada a sede da Prefeitura Municipal.
Nela aconteciam os eventos mais importantes da cidade: a festa de Natal e Ano Novo, com seus parques de diversões; o Carnaval e suas famosas “maratonas”; os comícios de políticos; o desfile escolar no dia 7 de setembro (dia da Pátria); a feira livre da cidade (quartas e sábados)... Praça ampla, de formato retangular, arborizada (pés de Figo e Palmeira Imperial) e dividida em duas partes por meio de uma rua interna, onde ficava o ponto dos “carros de praça” (denominação que antigamente os táxis recebiam) e realizado o carnaval do povão, com suas maratonas.
Em uma das suas divisões existia um lindo coreto, de rara arquitetura e beleza, onde, na parte térrea, os engraxates ganhavam a vida enquanto que, na parte superior, eram realizados comícios e retretas.
Numa das edificações laterais da praça funcionava o "Bar do Macaíba", se é que podemos chamar uma simples instalação interiorana de bar.
Macaíba era um sujeito pardo, usava um bigode espesso e que gostava de passar os dias jogando damas (tabuleiro) no passeio público do seu bar.  Eram famosos os jogos de damas na calçada do Bar do Macaíba.
Pois bem... Era no Bar do Macaíba que a matutada dos sítios, nos dias de feira, tomava café e lanchava. Por despreparo ou por economia, o café (líquido) servido no estabelecimento era muito fraco, quase incolor e sem gosto. Todo mundo reclamava e Macaíba não dava a mínima.
Como o povo não perdoa, a população começou a usar o “café do Macaíba” como “Parâmetro de Controle de Qualidade”. Assim, durante anos a fio, em Palmeira dos Índios, quando alguém queria demonstrar que algo era muito ruim, péssimo ou de qualidade inferior, simplesmente dizia:
- Isso é mais fraco do que o café do Macaíba!
Anos atrás, a velha Praça da Independência, em nome da modernidade, foi totalmente modificada, inclusive, com a demolição do seu coreto! O ex-prefeito Helenildo Ribeiro, acreditamos que com as melhores intenções, mas contra a opinião pública, transformou a Praça da Independência em um Centro Comercial.
Hoje, o velho Macaíba já faleceu; o Centro Comercial construído na praça foi um fracasso.
Infelizmente, podemos resumir tudo numa única frase:
- Destruíram a Praça da Independência e construíram um Centro Comercial mais fraco do que o café do Macaíba!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O FIM DO MUNDO

Texto de Aloisio Guimarães       

De tempos em tempos anuncia-se, com grande estardalhaço, o Fim do Mundo.
E o “próximo fim do mundo” já está marcado para o dia 21 de dezembro de 2012.
Milhares de pessoas, fracas de espírito, acreditam que, segundo os Maias, o mundo vai acabar no final do ano, no dia em que ocorrerá um alinhamento dos planetas.
Decorrente dessa (des) crença, os espertalhões já começam a faturar milhões de dólares em revistas, livros, manchetes de jornais, programas de TV, filmes... Enfim, começam a explorar tudo aquilo que possa lhes render dinheiro.
Eu não acredito em previsões idiotas, feitas por idiotas. Podem lançar o que quiserem que não levarão nenhum tostão do meu suado salário. Vão explorar a ingenuidade dos outros. A mim, não.
Que necessidade tem o ser humano de acreditar em tudo aquilo que lhes dizem ou nas interpretações de alguns rabiscos antigos, feitas por qualquer sábio ou intelectual? Que necessidade tem o ser humano de ser supersticioso?
Desde que nos entendemos como gente que tínhamos a mais absoluta certeza de que o mundo iria se acabar no ano 2000. Dezenas de profecias e profetas, de Nostradamus a outros menos famosos, anunciavam como favas contadas o fim do mundo em 2000, exatamente no dia em que aconteceria um alinhamento de planetas - tal qual dizem que ocorrerá em 2012. Com medo, milhares de pessoas perderam o sono em 1999. O alinhamento de planetas ocorreu, o ano 2000 chegou e o Apocalipse não aconteceu...
Desde pequeno ouvíamos falar que 3º Segredo de Fátima era relacionado com o fim do mundo, com data e modo como aconteceria. O segredo foi revelado e não tinha nada relacionado com o fim do mundo.
Quantos idiotas já morreram acreditando em previsões de loucos? Milhares. Quem não se lembra de que em 1978, o então missionário norte-americano Jim Jones, foi responsável pela morte de 900 seguidores, na Guiana Francesa, todos envenenados após ter anunciado a eles o fim do mundo?
Agora, se você acredita nessa mais nova profecia, porque continuas juntando grana?
Aproveita o pouco tempo que você acredita que lhe resta e distribui a riqueza que tens (muita ou parca), ajudando aos pobres. Só assim, talvez consigas fugir do inferno, por acreditares em falsos profetas.
Se aceitares o meu conselho, saiba que ando precisando de euros para passar o “fim do mundo” na Europa (Paris, Londres, Roma, Madrid...).
- Posso contar contigo?

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

QUEM SOU EU

Texto de Aloisio Guimarães

Para a mamãe, o filho querido.
Para o papai, tem que ser macho.
Para o vovô, o meu netinho.
Para a vovó, o meu netinho.
Para minha mulher, “mô”.
Para minha filha, “painho”.
Para os amigos, um doido.
Para os inimigos, um cara perigoso.
Para os desconhecidos, um chato.
Para os alunos estudiosos, o melhor professor do mundo.
Para os alunos vagabundos, o pior professor do mundo.
Para os colegas de trabalho, o “cri-cri”.
Para quem já fui o chefe, o “capitão do mato”.
Para meus chefes, um cumpridor do dever.
Para as crianças do prédio, o vovô.
Para os ladrões, um cara honesto.
Para você, use sua imaginação.
 

ESCLARECIMENTO

Não pretendo ser escritor. Por isso mesmo pouco estou me importando com a gramática. Não pretendo ser agradável ou humorista. Esses escritos são apenas recordações de fatos, bons e ruins, e sentimentos vividos por mim ao longo dos anos e textos interessantes de outros autores.

Espero que goste. Se não gostar, que se dane!

Maceió, janeiro de 2012.
                                                              
                     Aloisio Guimarães