domingo, 26 de maio de 2013

UMA PAIXÃO INCONDICIONAL

Texto de Rubens Mário
PROFESSOR E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

Há algumas décadas fui apresentado pelo meu saudoso pai - o alfaiate Mário Costa - a uma paixão, avassaladora, desmedida e incontrolável. Como todas as paixões, em alguns momentos, são até, irracionais! Lembro, quando ainda muito pequeno, do meu pai, quando o CRB fazia um gol, aumentando, ao máximo, o volume da velha radiola. Aquilo me extasiava! Quando havia um clássico, ele me segurava pela mão, e, de ônibus, seguíamos para a saudosa “Pajuçara” ou para o “Mutange”. Dentro dos coletivos, misturados - naquela época a maioria era do CSA - as inocentes provocações sempre terminavam em sorrisos. Quando o jogo era no “Mutange”, passávamos na frente dos azulinos e ficávamos num pedacinho de arquibancada lá no fundo do velho estádio. Na “Pajuçara”, sempre ficávamos na primeira arquibancada coberta. Naquela época não existiam as cadeiras, e os torcedores comuns podiam assistir aos jogos lá, inclusive, misturados aos adversários.
Algum tempo depois, já adolescente, junto com os colegas do Prado, já íamos sozinhos para os jogos noturnos; sem dinheiro, chegara a fase das “maiações”! No “Mutange”, lembro que seguíamos a pé, pela linha do trem, e entravamos por um terreno que ficava ao lado do final do muro do campo; após passar por alguns brejos, conseguíamos o nosso “sujo” objetivo. Quando os jogos eram na nossa “Pajuçara”, a aventura era muito maior e muito mais gostosa! A nossa façanha se iniciava, sempre a pés, pela praia do Sobral; no caminho, já em Jaraguá, subíamos, sorrateiramente, as escadas dos velhos casarões da Rua Barão de Jaraguá, e, até levar uma carreira dos gigolôs das “raparigas”, espiávamos pelas brechas das portas - ali, naquela época, funcionava a saudosa “zona”, do chamado, “baixo meretricio”. A desabalada “carreira” nos ajudava a chegar mais rápido à nossa próxima aventura: ver o nosso CRB jogar, sem pagar! Inicialmente, ficávamos circulando o estádio para escolher o lugar menos difícil de pular o muro. Nos jogos noturnos, o lugar mais concorrido pelos “maiões” era um sitio que existia por trás do gol dos fundos e que pertencia ao Sr. Sebastião Costa. Um fato bastante pitoresco é que no local, dentre os vários coqueiros, havia um que ficava frontal ao campo e que foi escolhido por um cidadão, que fez no alto da planta, uma plataforma em forma de banco, de onde ele assistia sem pagar a todos os jogos do CRB. Esse cidadão - um negro alto e esguio - funcionário do dono do sitio, era apelidado de Mário “Beleza”. Mas, voltando à nossa paixão, o  nosso maior empecilho para assistir aos jogos sem pagar, era um outro sujeito, bem parecido com o Mario “Beleza”, alcunhado, não sei porque, de “Nêgo Caçota” - filho do Sr. “Mané Veinho”, dedicado serviçal do Saudoso Colégio Estadual de Alagoas, onde eu estudava. O tal “Nêgo Caçota”, funcionário da limpeza pública municipal, era bastante “malvado” e exercia as suas funções de vigia do campo, de modo bastante extremado, sempre “armado” com “bandas” de tijolos, que as atirava, sem piedade, na cabeça do primeiro que ousasse subir no muro e tentar pular para dentro do campo. Quando algum menino, auxiliado pelas “tibacas” de coqueiro, conseguia burlar a primeira vigilância do terrível “Caçota”, e pulava o muro, geralmente, era pego, num segundo momento, e obrigado, ai, sem o auxilio das preciosas “tibacas”, a pular de volta pelo mesmo lugar! Esse caminho inverso era ainda mais complicado, porque, pelo lado de dentro o muro tornava-se mais alto; mas, com o “negão” agarrado no nosso braço, tínhamos que, com muito esforço, pular de volta para o sítio; muitas vezes terminávamos a noite assistindo ao jogo, apenas pelo rádio, ali mesmo, e esperando a hora do portão abrir para vermos o finzinho da partida; mas, tudo sempre valia a pena pela nossa paixão pelo querido Regatas.
Hoje, recordo com muitas saudades aquelas aventuras movidas pela paixão sem limites ao CRB, rememorada com a conquista do bi campeonato. Foi uma festa indescritível! Como cresceu a nossa torcida! Fui com os meus dois filhos - Rubinho e Mirella - levamos papeis picados, e ficamos nas grandes arquibancadas; para a surpresa da minha filha, não presenciamos as tão comentadas violências, exceto, um grupo de jovens marginais, fumando maconha coletivamente, na frente de todos, e alguns cânticos imorais partidos dos anônimos componentes da “Comando Alvirrubro”. No mais, foi mais uma grande demonstração da paixão incondicional que uma boa parte dos alagoanos nutre por esse centenário campeão.

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