sexta-feira, 20 de setembro de 2013

UMA PAIXÃO CENTENÁRIA

Texto de Rubens Mário
PROFESSOR E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

Nessa sexta-feira, dia 20 de setembro, o CRB completa cento e um anos. Esse clube, que, segundo pesquisa recente, já possui a maior torcida do estado, provoca nas pessoas, uma paixão avassaladora, desmedida, e, em alguns casos, até irracional! Temos exemplos bem pitorescos: o meu amigo “Carlinhos da Confraria” não usa nada que tenha a cor azul! Outros, tais quais o meu amigo “Marcão do Caldinho”, raramente são vistos com outra camisa, que não seja a do CRB! O apaixonado Marcão costuma dizer, provocando o rival, que, “o CRB é paixão e o outro é ilusão”. Outro dia, lá na “Pajuçara”, durante um treino, perguntamos ao folclórico “Rabicó” se ele gostava de mulher e ele respondeu com a sua inocente paixão: “eu gosto é do CRB”! O “Bebê Johnson” - filho do saudoso massagista do clube, “Geraldo Trama”, é outro grande apaixonado! Para se ter uma ideia dessa paixão desvairada e inexplicável,  no dia do velório do pai, antes do enterro, ele foi a um jogo do clube no “Trapichão”.
Eu também, não fujo à regra! Num determinado momento da nossa vida, tínhamos uma loja de plantas, e, num certo dia, surgiu um menino que nos pediu ajuda e, nós o levamos para morar conosco e fazer companhia ao nosso filho Rubinho, então, também, com 8 anos de idade; no caminho para a nossa residência perguntei ao menino, qual o seu clube! Ele, inocentemente, sem muita convicção, e, sem saber da minha procedência, me respondeu que era CSA! Imediatamente, o retruquei, meio brincando: torcedor do CSA não entra na minha casa! Quando parei o carro e descemos, o menino, convictamente, disse: “seu Rubens, eu agora sou CRB!” Desse dia em diante, o menino que permaneceu um bom tempo na nossa casa, virou mais um apaixonado pelo CRB. Tem outro caso: uma família vinda do Rio de Janeiro, veio morar em frente a nossa casa, e, ao verem as minhas loucuras pelo CRB, se contagiaram e, até hoje, são todos ferrenhos torcedores do CRB.
No caso da origem da minha salutar “doença” pelo galo, ela foi herdada do meu saudoso pai - Mário Costa - ainda garoto era levado por ele para assistir aos jogos na “Pajuçara”. Quando não íamos ao estádio, ficávamos com os ouvidos atentos ao rádio, e, quando o locutor gritava o gol do nosso galo, o meu pai aumentava o volume do rádio para chamar à atenção de toda a vizinhança. Aquilo tudo me extasiava! No dia seguinte às grandes vitórias, o meu pai que tinha uma alfaiataria no “beco São José”, fazia cartazes em cartolina, onde colocava versos rimados gozando os nossos  adversários. Dentre os inúmeros cartazes nos quais o meu pai sempre começava com a expressão: “Fala o CRB”, lembro-me de um colocado no dia seguinte à uma grande goleada no Guarani do Poço, e o goleiro do time do saudoso Hélio Sena tinha o apelido de “Caliça”; aproveitando o sugestivo nome, o meu pai fez um cartaz que dizia: “Dei a maior goleada, sem orgulho e nem cobiça, o Guarani tendo cimento, colocou no arco, Caliça”. Caliça era uma espécie de resíduo inconsistente que largava com facilidade das paredes das casas de taipa construídas na época.
Na minha adolescência, junto com outros meninos da saudosa Praça da Faculdade, saíamos inúmeras vezes, à noite, de pés,  até o estádio da “Pajuçara”,  onde, sem dinheiro para pagar os ingressos,  tentávamos ludibriar a truculenta vigilância do “nêgo” “Caçota”, filho do “seu” “Mané veinho”, sensor do saudoso Colégio Estadual de Alagoas, onde eu estudava. Muitas vezes, quando não conseguíamos “maiar”, terminávamos a noite ouvindo o jogo pelo rádio no sítio onde trabalhava o, também, apaixonado, “Mário beleza”. Mas, todo aquele sacrifício valia a pena pelo amor ao nosso CRB.
O nosso amado CRB, ou Regatas, como costumavam chamar os mais velhos, ao longo desses anos, nos proporcionou imensas alegrias e, também, algumas decepções - quantas vezes saí do estádio, com dor de cabeça, esbravejando que jamais voltaria ali! Pura balela! No jogo seguinte eu estava lá! Das decepções, maior de todas elas, foi a perda do nosso imenso Ativo patrimonial, causada pela ingerência mesquinha de alguns falsos regatianos que, durante anos, confundiram o nosso clube com a casa de uma amante sem muito valor sentimental. Afirmo, com toda convicção e tristeza, que essa foi a nossa maior derrota, porque, depois dessa, terei que honrar as minhas palavras, pois, jamais poderei voltar lá.
Feliz aniversário, amado clube! É o desejo de todos os seus apaixonados torcedores.

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