domingo, 31 de maio de 2015

VENTOS DA RUAH

Texto de Mauro Brandão

Os ventos são assustadores, perigosos, frenéticos, alucinantes...
das máquinas frias, das ruas agonizantes, das buzinas nervosas,
dos ruflares de plástico, dos ruídos das rajadas, dos niqueis prostituídos,
dos gritos dos infelizes, dos apelos dos fanáticos, da arrogância dos egoístas,
das tempestades dos míopes, dos abismos vazios, do viver sem viver... 

Ventos da fome, da injustiça, da exploração surda, do desamor.
Ventos da vaidade, da cobiça, da inveja, da gula insaciável.
Ventos da intolerância, do ódio gratuito, do ser sem ser!
Ventos da tempestade escavadora e destruidora de uma Terra...
Terra! Que nunca foi nossa, e que sempre, nossa, será! 

Mas há além da visão, um vento que nos liberta da prisão,
e que abre, invadindo em tudo o que há, uma brecha na fresta da dor.
Há um vento implacável, santo, ungido, e que invade o ser de luz.
Há sim, um vento que se liberta dos muros da escravidão
e sopra o ser pelo encantamento que lhe explode o escuro. 

Há o Vento do Espírito, o Vento da Ruah!
Que nos faz enxergar além do ofuscamento dos relâmpagos.
Que nos enche de asas até trazer em nós o luar e o vento solar.
O Vento da Ruah é o sopro do Libertador que surge do caos,
e traz a beleza, a graça, o êxtase, a alegria e o sentido do vento. 

Vento, brisa, calmaria, viração, tempestade, ventania...
Sua vida está de um lado ou de outro nesse espelho de si.
De um lado do vento, os ventos que lhe cegam e ensurdecem.
Do outro lado do vento, os ventos que lhe voam e lhe mergulham...
Voam e mergulham... aos ventos do Espírito, os Ventos de Ruah.
 

sábado, 30 de maio de 2015

UM COMPROMISSO DE AMOR

Texto de Maspole Albuquerque

No último dia 25 de maio o Brasil comemorou o dia nacional da adoção. Para muitos significa à oportunidade de construir a tão sonhada família. Para outros, o sonho e a conquista de ter um lar e alguém para chamar de “pai ou mãe”.
A infertilidade pode ser uma das mais difíceis experiências da vida de um casal. Isso porque a dificuldade em gerar um filho ativa fantasias, às vezes, incontroláveis tanto para o homem como para a mulher.
Para o homem, um filho representa virilidade e força. Já para a mulher, é o símbolo máximo de sua condição feminina. Quando o casal tenta ter filhos e não consegue, essa incapacidade atormenta o relacionamento, a vida sexual, a estima pessoal e o contato com amigos e familiares. Em resumo: coloca o casal em xeque como em nenhum outro momento de sua vida.
O médico moderno tem condições de ajudar casais inférteis, mas o tratamento é caro, longo e acessível apenas nas grandes cidades do país.
Para enfrentar essa situação-limite, vale a pena pensar com o coração, levando a sério a possibilidade de adotar uma criança. Afinal, o amor é uma dádiva, um sentimento que se conquista e se transmite. Ninguém nasce amando, o que significa, em outras palavras, que é possível aprender a amar.
Se o casal decidir pela adoção, estará não apenas firmando um compromisso amoroso como também doando amor a si mesmo.
Por que se atormentar com a infertilidade, se há sempre uma criança à espera de ser amada?
A adoção é uma realidade social que se concretiza através de ato jurídico, que “cria entre duas pessoas vínculo de parentesco semelhante à paternidade e filiação”.
Lembre-se que todo mundo merece ser feliz, assim como toda criança merece ter uma família.
Em lugar da frustração de não ter filhos, o casal pode optar pela solução que é um compromisso de amor.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

OS DOIS TENENTES

Texto de Carlito Lima

O Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva - NPOR - do 20º Batalhão de Caçadores, hoje 59º Batalhão de Infantaria Motorizado, é celeiro de muitos oficiais da reserva do Exército Brasileiro.
Anos atrás, dois tenentes formados pelo NPOR foram estagiar seis meses no 14º Regimento de Infantaria sediado em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco.
Os tenentes Cavalcanti e Tenório se apresentaram ao comando com ardor e amor à Pátria. Em tempo integral no quartel, dormiam no quarto de oficiais. Bons militares, aprendiam as lições, o trabalho do Regimento. Entretanto, nem tudo era ralação, davam bordejos e paqueradas pela vizinhança, pegavam o trem em busca dos cabarés do Recife.
Numa dessas viagens de trem eles conheceram Marília e Virgínia. Achado do destino, as duas paraibanas trabalhavam em uma fábrica naquela região, moravam juntas numa casa em Tejipió, perto do 14º R.I. Eram mulheres livres, independentes, coisa raríssima naquela época. Com uma semana de namoro os dois tenentes estavam dentro da pequena casa das operárias. Entendiam-se às maravilhas, nos passeios, nas conversas, na cerveja e na cama, havia um probleminha, as ideias socialistas das operárias chocavam com o pensamento conservador dos militares.
Tenente Cavalcanti encantou-se com a beleza de Virgínia, loura, olhos cinza, serena na conversa e no amor. Depois de algum tempo, ao ouvir os gritos de euforia sexual, os altos gemidos da morena Marília, ele ficou com inveja do amigo. Tenório confidenciou, nunca havia conhecido mulher como aquela, gostava do amor, melhor de cama não existia, só parava de gritar na apoteose, ele tinha que dar duas tapinhas na cara. Ele ficou inebriado com tantas formas de amor inventadas pela namorada.
Passaram cinco meses, inesquecíveis tardes e noites de amor na pequena casa das operárias de Tejipió.
Terminado o estágio, retornaram a Maceió. Despedida com choro, sexo e cerveja, a casinha de Tejipió tremeu naquela noitada com o trabalho dos quatro amantes.
Três semanas depois da despedida, no 20º BC, Cavalcanti recebeu carta de Virgínia, final de semana as duas estariam em Maceió para matar saudade. Quando Tenório soube, entrou em pânico, noivo, se casaria no próximo mês, se o vissem com Marília, a noiva ciumentíssima não perdoaria. Pediu ao amigo dar desculpas, cooperava financeiramente com as despesas, contudo as deixassem longe de sua área. Cavalcanti também era noivo em Major Isidoro, pequena e bonita cidade do sertão alagoano, mandou recado, não viajaria no fim-de-semana por obrigações militares. Fardado, foi esperar as operárias na Rodoviária na noite da sexta-feira.
Saltaram do ônibus, Virgínia se enlaçou com o namorado, beijando-lhe a boca. Marília, decepcionada, ficou triste sem a recepção esperada, sem seu Tenente. Hospedaram-se do Hotel Pimenta, centro da cidade. Marília, boa colega, inventou dar uma volta a pé nos arredores, dando liberdade para o casal se amar no pequeno quarto do hotel.
No sábado passearam, navegaram na lancha do horário na Lagoa Mundaú. Domingo à tarde, depois da praia, foram ao Cinearte. Cavalcanti combinou com Marília esperar Tenório no hotel, ele apareceria, certeza. Quando o filme, “Suplício de uma Saudade”, estava no início, Cavalcanti reclamou de forte dor de barriga, pediu licença à namorada, levantou-se, voltaria em poucos minutos. Correu ao Hotel Pimenta, bateu no quarto. Marília ao abrir a porta não conseguiu falar, ele abraçou a morena, ela não resistiu. Cavalcanti pedia, grita meu amor, ela obedecia. Amaram-se aos gritos, finalmente um urro canino, seguido de duas tapinhas. Cavalcanti fumou um cigarro, retornou correndo para o cinema, sentou-se ao lado da desconfiada Virgínia.
Depois do filme, no quarto do hotel, Virgínia percebeu uma carteira de cigarros continental, sem filtro, em cima da cabeceira. Muito viva, descobriu a traição do namorado e da amiga. Arrumou a mala, partiu para a Rodoviária. Marília havia entrada em férias, passou mais três semanas e meia de amor com o namorado substituto. Os hóspedes do Hotel Pimenta se acostumaram com os gritos de amor da quente paraibana e do ardiloso tenente.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

UM EXEMPLO...

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES


terça-feira, 26 de maio de 2015

FAÇA A ESCOLHA CERTA

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Um homem perguntou a um sábio se ele deveria ficar com a sua esposa ou com a sua amante.
O sábio levou duas flores em suas mãos, uma com uma rosa e a outra com um cacto e perguntou ao homem:
- Se eu lhe der uma dessas flores qual delas você escolhe?
O homem sorriu e disse:
- A rosa é lógico!
- És imprudente - respondeu o sábio - às vezes os homens são movidos por beleza externa ou pelo mundano e escolhem o que lhes parece brilhar mais. A rosa é mais bela, mas morre logo. O cacto, por sua vez, independentemente do tempo ou clima permanece o mesmo, verde com espinhos, e um dia vai lhe dar a flor mais bonita que você já viu. Sua esposa conhece seus defeitos, suas fraquezas, seus erros. Com ela você grita seus momentos ruins e ela está sempre pronta a te ajudar. Sua amante quer seu dinheiro, sua felicidade, seus espaços, fantasias e seu sorriso. Na primeira dificuldade não hesitará em te trocar por outro amante jovem, feliz e com dinheiro. Agora me diga, homem: com quem você quer ficar? Dê valor à sua mulher, sem importar como ela é por fora, pois o que vale mesmo é que de bom ela é por dentro.
PENSE NISSO

ESSES HOMENS...

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES









segunda-feira, 25 de maio de 2015

A ESTRANHA BELEZA DA LÍNGUA PORTUGUESA

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Esse é um dos melhores registros da "Língua de Camões", a nossa digníssima Língua de Portuguesa, a tal que tem a fama de ser pérfida, infiel ou traiçoeira, que ele já leu.
Vamos a ele:
Um político que estava em plena campanha chegou a uma pequena cidade, subiu para o palanque e começou o discurso:
-  "Compatriotas”, “companheiros”, “amigos”! Estamos aqui, “convocados”, “reunidos” ou “juntos” para “debater”, “tratar” ou “discutir” sobre um “tópico”, “tema” ou “assunto”, o qual me parece “transcendente”, “importante” ou de “vida ou morte”. O “tópico”, “tema” ou “assunto” que hoje nos “convoca”, “reúne” ou “junta” a todos nós, é a minha “postulação”, “aspiração” ou “candidatura” à Presidente da Câmara deste Município.
 De repente, uma pessoa do público pergunta:
 - Ouça lá, porque é que o senhor utiliza sempre três palavras, para dizer a mesma coisa?
O candidato respondeu:
 - Pois veja, caro senhor: a primeira palavra é para pessoas com nível cultural muito alto, como intelectuais em geral; a segunda é para pessoas com um nível cultural médio, como o senhor e a maioria dos que  estão aqui; a terceira palavra é para pessoas que têm um nível cultural muito baixo, pelo chão, digamos, como aquele alcoólico, ali deitado na esquina.
 De imediato, o alcoólico levanta-se a cambalear e "atira":
 - Senhor “postulante”, “aspirante” ou “candidato” (hic), o “fato”, “circunstância” ou “razão” pela qual me encontro num estado “etílico”, “alcoolizado” ou “mamado” (hic) não “implica”, ”significa” ou “quer dizer” que o meu nível (hic) cultural seja ”ínfimo”, “baixo” ou mesmo “rasca” (hic). E com toda a “reverência”, “estima” ou “respeito” que o senhor me merece (hic), pode ir logo “agrupando”, “reunindo” ou “juntando” (hic) os seus “haveres”, “coisas” ou “bagulhos” (hic) e “encaminhar-se”, “dirigir-se” ou “ir direitinho” (hic) à “leviana da sua progenitora”, à “mundana da sua mãe biológica” ou à “puta que o pariu”!

A EVOLUÇÃO DA ESCRITA

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES


sábado, 23 de maio de 2015

O RETIRO

Texto de Carlito Lima

Arnaldo quando criança vivia brincando de médico com as primas. Era o doutor. Certa vez, Tio Alberto pegou-o fazendo massagem na bundinha da priminha. Ficou de castigo, proibido de brincar e falar com as primas. Sentiu-se injustiçado. Na puberdade vivia à cata de empregadas doméstica. Elas gostavam de serem assediadas pelo frangote. Arnaldo perdeu a virgindade aos 13 anos na cama dos pais. Eles viajaram, deixaram-no sozinho com Jacinta, negra gorda, bonita e libertina. Arnaldo pediu, implorou, amor durante todo o dia. Jacinta não resistiu, menino insistente. Ele foi à Glória, não era mais virgem, se gabava.
Na adolescência, conviveu com as primas, festas, clubes. Namorou todas as primas possíveis. Afirmava “priminha não é irmãzinha”.
Quis o destino, casou-se com uma prima, bela sertaneja criada com leite de jumento, disposta e ciumenta. Ela adorava o bigodinho à lá Clark Gable do marido, ares de galã do cinema.
Nosso herói tinha medo da destemida esposa, fazia estripulias bem escondidas. Arnaldo nunca foi de deixar as coisas acontecerem, quando podia, a imaginação funcionava, inventava viagens e reuniões para ter nos braços alguma quenga, não interessava, fosse mulher, bastava.
No início do ano, Arnaldo conheceu uma morena, bonita, vistosa, quarentona, todas as carnes no lugar, durante uma festa na casa de um amigo. Ela em férias, do Recife, muito divertida. Durante a conversa, Rosa deu opiniões avançadas, achava casamento enfadonho, havia passado por dois. Afirmou, na vida para valer todos somos solteiros, ninguém é de ninguém, deu uma discreta piscada de olhos para Arnaldo. Ele estremeceu na cadeira.
Na saída Arnaldo distribuiu alguns cartões de visita, o objetivo era Rosa, ao receber deu um sorriso malicioso. Ele conseguiu cochichar: “telefone-me”.
Em casa, Gal comentou, Rosa tinha cara de piranha, se oferecendo aos homens. Ainda bem que havia respeitado sua presença, não deu em cima de seu marido, se acontecesse ela abria no pau. Ele só dizia: "Que nada meu amor!".
Na segunda-feira Arnaldo trabalhava no escritório, o celular tocou, era Rosa, ele quase explode de alegria. Conversaram algum tempo, marcaram, três da tarde, defronte ao Memorial Teotônio Vilela, praia da Pajuçara.
Não atrasou, de longe enxergou a morena, vestido vermelho. Parou o carro, ela entrou, seguiram para o motel. Arnaldo estava pleno de alegria. Ele não se apaixona, simplesmente tem prazer em estar com mulher, de flertar, de amar, a coisa mais sublime na vida. Uma aventura com uma bela mulher, era o êxtase.
Rosa, extremamente divertida, passou alguns dias na cidade, saindo, quando podia com nosso Arnaldo. Convidou-o a passar o carnaval no Recife, aliás, em Olinda onde morava. Ele iria conhecer o melhor carnaval do mundo.
Afinal ela retornou, o trabalho chamou-a, deixou Arnaldo matutando como fugir para o Recife no carnaval.  No domingo ele leu no jornal, haveria um retiro espiritual para evangélicos no litoral norte, durante o carnaval.
Arnaldo imediatamente começou a frequentara Igreja, confessou à mulher, uma voz forte o chamara. Gal ficou impressionada, temente a Deus, deu incentivo que o marido fosse à igreja evangélica. Ao chegar em casa, abria a bíblia, orava, dizia para si mesmo: “Olinda vale uma reza”.
Nas vésperas do carnaval informou à esposa: Faria um retiro espiritual, só homens, no litoral norte durante os quatro dias, de sábado à quarta-feira. Gal ficou encantada com a transformação do marido, concordou. Ela aproveitaria para visitar a família na fazenda perto de Cacimbinhas durante o carnaval. Os dois filhos, já homens, se viravam.
Arnaldo se inscreveu para o retiro, com seu nome na relação, pagou os dias de hospedagem no hotel do litoral norte.
No sábado de carnaval, quando Gal partiu no carro da irmã para Cacimbinhas, avisou, por recomendação da direção do retiro, o celular ficaria desligado, deu um número para emergência. Arnaldo partiu para o retiro. Conheceu companheiros, orou, saiu a caminhar com a turma. Ao cair da tarde do domingo, avisou, dormiria fora, pegou o carro, tomou rumo de Pernambuco. Chegou conforme combinado, Rosa deu-lhe uma fantasia de mascarado, pulou a noite toda subindo e descendo as ladeiras de Olinda. Hospedado na casa da namorada, passou o maior carnaval de sua vida nos braços da morena, fazendo o passo nos acordes do Vassourinhas, cantando Evocação e o Frevo da Saudade.
Rosa tentou ele ficar na quarta-feira de cinzas no Bacalhau do Batata. Mas o pavor que tinha da esposa fez com que ele dormisse na terça-feira no hotel do retiro, assistiu o encerramento. Se a mulher descobre, seria homem morto.
Até hoje Gal não entendeu o surto de fé de Arnaldo no início daquele ano. Ele sempre responde: São fases da vida, fases da vida.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

HABEAS CORPUS

Texto de Noel Rosa e Orestes Barbosa

No tribunal da minha consciência
O teu crime não tem apelação
Debalde tu alegas inocência
Mas não terás minha absolvição
Os autos do processo da agonia
Que me causaste em troca ao bem que fiz
Correram lá naquela pretoria
Na qual o coração foi o juiz
Tu tens as agravantes da surpresa
E também as da premeditação
Mas na minh’alma tu não ficas presa
Porque o teu caso é caso de expulsão
Tu vais ser deportada do meu peito
Porque teu crime encheu-me de pavor
Talvez o habeas corpus da saudade
Consinta o teu regresso ao meu amor
 

quarta-feira, 20 de maio de 2015

PREPARADA PARA A FESTA

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES


segunda-feira, 18 de maio de 2015

AQUI E LÁ

Texto de Rubens Mário
 PROFESSOR E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

Essa semana aconteceram dois jogos de futebol que me chamaram à atenção pelas semelhanças e proporcionalidades entre as competições e o antagonismo dos resultados. Me refiro ao jogo do CRB aqui em Maceió contra o Grêmio, pela Copa do Brasil,  e, lá,  em São Paulo, o Corinthians ante o Guarany do Paraguai, pela Copa Libertadores da América. Ambos os torneios são do tipo que chamamos na linguagem futebolística de “mata, mata”; a única diferença é que no torneio nacional, na sua fase inicial, o clube - o melhor ranqueado - que fizer uma diferença de dois gols na casa do adversário, elimina o segundo jogo. No mais, entendo que as semelhanças são evidentes.
Lá, o poderoso Corinthians precisaria vencer o pequeno Guarany do Paraguai, por, pelo menos, 2x0, algo, aparentemente, fácil, pois se tratava de um duelo de um grande contra um pequeno, lembrando que esse país é chacoteado, frequentemente, por nós brasileiros ao qual nos referimos quando queremos dizer que algo não presta. Lembram do “cavalo paraguaio”? A verdade é que ainda não perdemos aquela mania de falsa grandeza! Recordam, também, das piadas com os portugueses? É... no futebol, também parece que ainda achamos que somos mais fortes! Nesse jogo de lá foi mostrado que no futebol atual, os mais pobres podem sim, vencer os mais abastados. Lá, o pequeno se mostrou bem organizado, tática e tecnicamente, bem fechado na defesa, sem ficar dando chutões à esmo; ao tomar a bola do adversário, saiam em toques  curtos e objetivos ao ponto de irritar o oponente, causando-lhe duas expulsões infantis, e, ganhando o jogo e a classificação com muita autoridade na casa do “rico” rival. Nessa importante competição internacional não foi a primeira vez que aconteceu essa contradição futebolística, pois,  outros clubes de países de futebol mais pobre também já venceram esse certame.
Aqui, bem que poderia ser semelhante, mas, a coisa foi bem diferente, pois, o mais pobre, o nosso querido CRB, comportou-se como tal em seu jogo eliminatório da Copa do Brasil; vimos um time acanhado, mesmo o adversário não tendo uma grande equipe. Ao contrario do pequeno do Paraguai, o CRB, mostrou-se muito vulnerável, especialmente em sua defesa, com um zagueiro - Daniel Marques - parecendo estar sem o devido condicionamento físico, bastante “pesado” sem qualquer velocidade, fator essencial à um zagueiro. O nosso melhor jogador - Olívio - aparentando não estar devidamente recuperado da contusão, jogou muito mal, falhando, também, em todos os gols; o “volantão” Gladisson Souza, muito mal, mostrou que é apenas um jogador muito esforçado, sem qualquer qualidade na distribuição da bola quando a rouba dos adversários. Aliás, esse tipo de volante não tem mais lugar nas grandes equipes devido ao encurtamento dos espaços nos atuais esquemas de jogo, 4 4 2 ou 4 5 1, onde os volantes tem que dar celeridade ao jogo quando tiram a bola do adversário. O jogador Fernando tem sido outra peça nula, desde, segundo a minha óptica, que foi afastado da área, e, obrigado a armar o time, mostrando-se um jogador bastante frágil e disperso. O Gérson Magrão, mesmo sem ritmo de jogo, mostrou que tem amplas condições de ocupar o lugar do Fernando. O nosso Zé Carlos, vaiado, injustamente, por,  parte da torcida regatiana, pois, é um apaixonado pelo CRB e já foi um grande goleador. Hoje, tem se mostrado, visivelmente, fora de forma atlética, sem a mobilidade essencial a um atacante. Entendo que aquele centro avante que ainda inverte os papeis e joga marcando os dois zagueiros, está em extinção no novo futebol. Lembram do Fred na última Copa do Mundo? Imóvel, poste, inútil e outros adjetivos foram usados nas redes sociais para achincalhá-lo durante a Copa. Vejam que nos grandes times atuais, à exemplo do Barcelona, não existe mais aquele atacante fixo que passa o jogo todo esperando que uma bola sobre para ele fazer o gol, e nem o “volantão” ou “biombo” do tempo do 4 2 4.
Então, aqui, bem que poderia ter sido igual a lá.

sábado, 16 de maio de 2015

VELHINHO APAIXONADO

Texto de Carlito Lima

Adamastor desde menino foi ligado ao dinheiro, respira notas, raciocina cifrões, sonha riquezas. Agiota, homem ligado aos poderosos, metido em negociatas. Financia candidaturas políticas; a cobrança vem depois, juros altíssimos, frequenta com maior intimidade os gabinetes em Brasília.
Adamastor teve casamentos desmantelados. A primeira mulher, Júlia, nascida na mais alta aristocracia açucareira, família tradicional, não aguentou as farras, as amantes e a usura do marido. Sete anos de casados, pediu divórcio. Adamastor arrumou seus panos, saiu de casa, deixou a esposa, dois filhos. Continuou seus negócios, tenebrosas transações, um gangster.
Mais dois casamentos desfeitos, mais dois filhos. Hoje, vive sozinho num belo apartamento, praia de Ponta Verde.
Aprendeu a lidar com o computador, seu passatempo, pesquisas, informações, negócios. Pegou a mania de homem solitário, namorar em salas de bate-papo na Internet. Conversa até altas horas da noite. “Namorou” e conheceu algumas internautas. Ele se gaba das namoradas, das aventuras com belas mulheres conhecidas nas conversas.
Em certa viagem a São Paulo marcou encontro com Bruninha, conhecida nas conversas internáuticas.  A jovem disse ser consultora da Bolsa de Valores, entendida em finanças, ele encantou-se. Marcou jantar num belo restaurante, centro da cidade. Bruninha ao entrar, elegante, parecia estar deslizando em passarela, fascinou nosso amigo, média estatura, sentou-se cruzando as pernas, pele rosada, parecia porcelana. Ele deslumbrou-se com a beleza dos cabelos, olhos negros, sobrancelhas grossas, nariz afilado, boca carnuda, lembrava Angelina Jolie, sua artista preferida.
Depois do jantar foram a uma casa de dança, música suave, corpos agarrados, vinho, boa conversa, terminaram a noitada na suíte do hotel. Bruna tirou a roupa num ritual, devagar, Adamastor ficou alucinado, abraçou-a, beijou-a, na boca, no pescoço, derrubou-a na cama acariciando-a. O resto é silêncio como diria Shakespeare. Bruna satisfez-se em carinhos, beijos, carícia. Ele sentiu-se o macho daquela mulher.
Depois de uma semana em São Paulo, o casal pousou em Maceió, morando de cama e mesa. Bruna feliz com a nova morada em frente ao mar verde-azulado, queria trabalhar, se ofereceu contribuir no escritório da Factory, entendia de finanças. Além de boa de cama era ótima de negócio. Que mais queria Adamastor? Viviam no céu, em lua-de-mel. Ganhava dinheiro na agiotagem e transava com sua musa. Sua assessora ajudava no pagamento de pessoal, no controle dos recebimentos e contas bancárias.
Numa noite de sexta-feira, retornando de uma reunião não encontrou Bruna  no apartamento. Havia combinado jantar. Esperou um pouco, telefonou para o celular, fora do ar. Discou várias vezes, preocupado, Bruninha era pontual, dizia ser a pontualidade a marca da civilidade.  Às nove horas Adamastor abriu o guarda-roupa de Bruna, não havia um vestido sequer. Telefonou para alguns conhecidos, ninguém sabia do paradeiro da namorada. Foi ao aeroporto, algumas investigações, no balcão alguém informou, uma mulher, com aquela descrição tomou um avião para S. Paulo no vôo das 16 horas. O nome Bruna não constava na lista de passageiro.
Adamastor desesperado retornou ao apartamento, tentou lembrar algum amigo comum em São Paulo, nenhum.
Passou um fim de semana angustiante, a sensibilidade indicava anormalidade grave acontecendo. Segunda - feira pela manhã, assim que o banco abriu, conferiu todas as contas, mais de duas horas confrontando, cotejando números, descobriu uma baixa aproximadamente de R$ 300 mil reais em suas contas; retiradas, descontos de cheques. Durante os quatro meses, Bruninha conseguiu acessos e senhas de contas e cartões, fez um trabalho calculado em pequenas retiradas.
Adamastor teve um ataque de nervos, em seus sessenta anos de vida ninguém teve a ousadia em roubá-lo daquela maneira, precisou se medicar, a depressão o envolveu. Fez as contas, quatro meses de convivência, média de três por semana, aproximadamente 48 transadas, dividiu na calculadora, resultado, R$ 6.250, 00 cada, mulher cara.
Não aguentou esperar, na quarta-feira tomou um avião para São Paulo, procurou a Polícia. Pela foto, Bruna foi reconhecida, chama-se Hortência, trapaceira de primeira ordem, especialista em golpe na Internet com velhinhos babacas, apaixonados, existiam 14 queixas de senhores sessentões, difícil encontrá-la, ladra fina, sem deixar vestígios.
Adamastor saiu mais frustrado da Delegacia. Além de ludibriado, foi taxado de velhinho babaca, apaixonado.

terça-feira, 12 de maio de 2015

CADÊ A INFÂNCIA QUE TAVA AQUI?

Texto de Gabriela César
PUBLICITÁRIA

Eu já vi muito adulto hoje em dia dizendo, “como vivíamos sem celular?” Eu mesma já me peguei pensando nisso e esse é o tema de hoje. Nós não só sobrevivíamos como vivíamos com plenitude aquela época sem tecnologia, internet e tudo que isso envolve
Quem se lembra da sensação de brincar na rua? De chegar do colégio morrendo de fome, fazer o dever, tomar o banho das 17h horas (sim, lá em casa era assim) e correr pra rua com os amigos. Os melhores amigos. Aqueles que ríamos uns dos outros e não que existia o bullying. Era saudável. Era seguro. Passávamos a tarde na rua brincando do patins ao elástico. Do queimado à batatinha frita 1,2,3. Do vôlei aos teatros e circo que tínhamos a ousadia de cobrar para que a vizinhança fosse assistir. E ela ia.
No lugar da maldade, tinha a aventura e as ideias não paravam de surgir. Nossa criatividade vivia a mil e nossos pais eram despreocupados porque a violência não existia ou pouco se via ou ouvia falar.
Nós caíamos, arranhávamos o joelho e nossa mãe colocava Mertiolate que ardia mais que tudo no mundo. Nós jogávamos aquele joguinho de mão Tetris e tínhamos Tamagush. Nós comprávamos flau, quebra-queixo, cavaco e escutávamos a mulher do sururu fresco.
É obvio que gosto do tempo que vivo hoje. Tudo é mais fácil, mas de certa forma, tudo em algum momento é mais perigoso também. A internet é uma janela que leva seu filho mais longe do que a porta da sua casa. Sem falar nas descobertas que só quem estava na rua, suando de tanto correr poderia explicar.
São infâncias diferentes, mundos diferentes, perigos diferentes. Mas quer saber? Não tenho inveja da infância que meu filho vai ter. Pelo contrário, tentarei mostrar ou tentar fazer com que ele goste de pelo menos um pouquinho do que era ser livre, livre de verdade.
Esse texto provavelmente não será interessante aos que já nasceram na era digital. Mas qualquer um que viveu algo que citei acima vai se identificar e certamente irá pensar sobre isso. Portanto, aqui está meu apelo: não é porque temos acesso a tudo sentando numa sala que não podemos fazer com que uma criança levante do sofá e experimente a infância que seus pais viveram.
Tecnologia é boa demais. Mas a experiência real e sentida é infinitamente melhor. E respondendo ao título do texto: a infância que tava aqui, continua aqui dentro de mim e certamente dentro de você também. 

segunda-feira, 11 de maio de 2015

A FAMÍLIA QUARESMA

Texto de Carlito Lima

Raimundo Nonato Quaresma, alto funcionário federal, veio transferido do Maranhão  trabalhar na cidade de Maceió. Além da mudança trouxe a família, a esposa Dona Olga e as filhas moças, Ana Nery, Isabel Cristina e Maria Quitéria, nomes de heroínas brasileiras.
O fato se deu no início da década de 60. Seu Quaresma alugou uma boa casa nos arredores da praia de Jacarecica. Com pouco tempo, entrosou-se com homens importantes da cidade, figuras da política, do comércio, da justiça. Autoridades civis, militares, até eclesiásticas, tornaram-se íntimas de sua residência.
Graças às estripulias da gostosa esposa e filhas, Seu Quaresma, com pouco tempo de estabelecido, era considerado o maior corno de Maceió.
Sua casa uma festa constante. Chegavam carros bonitos dos ricos e abastados, também jovens amigos das belas meninas, altamente comunicativas.
Não eram devassas como pode parecer. Acontece que, Dona Olga e diletas filhas tinham comportamento avançado, sem preconceitos, para época. Enquanto as pudicas meninas da sociedade alagoana namoravam de mãos dadas, as filhas do Quaresma eram dadas às peculiaridades mais avançadas.
Elas inventaram a moda do “ficar”. Não havia namorado fixo, o primeiro a chegar tinha direito de arrastar, namoro de alta rotatividade.
Quem tinha carro levava vantagem. Contudo, sobrava para os mais jovens, os universitários eram bem vindos. Maria Quitéria adorava militar, eu, cadete da AMAN na época, me dei bem.
No Clube Fênix, o mais aristocrático da cidade, havia o elegante Baile de Máscaras, um mês antes do carnaval. Convidados só entravam no baile fantasiados ou de smoking. Os foliões geralmente tiravam as máscaras depois da meia-noite ou do concurso de fantasia. Festa animada, bonita e tradicional.
Como era em benefício ao Lar de Menores, não se podia controlar a venda de ingresso restrita a sócios. A seleção dos convidados era feita pelo preço salgado da mesa.
Em certo baile, após a retirada das máscaras, baile animadíssimo, aparece a surpresa, Seu Quaresma fantasiado de Marajá, a esposa e filhas de Odalisca dançando e cantando animados em uma mesa.
À medida que alguns sócios frequentadores do Clube Fênix, também frequentadores da casa do Quaresma, perceberam a animação das odaliscas, ficaram preocupados. Muitos casados, noivos, outros com as namoradas, evitaram o encontro casual. O carnaval pegando fogo, as odaliscas davam adeusinhos discretos, alguns senhores passavam ao longe da mesa árabe.
Certo momento, um diretor, solteiro, foi cumprimentar Seu Quaresma. Ele levantou-se, conversaram um bom tempo no canto da parede.
Ao retornar, Seu Quaresma confabulou com a família. Foram se retirando do Clube Fênix, sem problemas, com direito a indenização da mesa, dos gastos com fantasias, bebidas e outros compensatórios, dinheiro pago na hora por um magnata do comércio, preocupado, medo da esposa, uma víbora gorda.
Aliviados, os magnatas dançaram despreocupados o resto da noite com suas madames.
Aos sábados havia almoço festivo no sobrado do Seu Quaresma. Certa vez, Ulisses foi levado por um deputado, o almoço, um temperado cosido. Dona Olga adorou a conversa divertida de Ulisses, engraçou-se do novo amigo, eufórico, também correspondia. Comeram e beberam à vontade.
Após se refestelarem com o cosido, estômago pesado, saboreando licor de jenipapo, Dona Olga convidou Ulisses descansar, dormir um pouco, depois continuava a festa. Ele aceitou, foi levado ao quarto do casal.
Dona Olga trancou-os à chave. Ela o abraçou, iniciaram o trabalho predileto da dona da casa. Ulisses encantado, com receio, perguntou se não havia problema, o marido dormindo na cadeira de balanço da sala, podia acordar. Ela deu-lhe uma lambida no pescoço, não haveria problema algum. Recomeçaram o xumbrêgo.
Quando estavam atravancados, de repente, Seu Quaresma bateu à porta gritando:
- Vocês vão morrer! Vocês Vão morrer!
Ulisses, apavorado, levantou-se rápido, tudo murchou. Vestiu rapidamente a calça, pensava fugir pela janela, quando Seu Quaresma continuou:
- Vocês vão morrer. Vocês são doidos! Depois do cosido dá congestão! Vocês vão morrer. Cuidado!
Ulisses se acalmou, deu-lhe um ataque de riso, continuou a faina, a luta, a labuta com a mestra, Dona Olga.
Não se faz mais corno como antigamente!