sábado, 29 de agosto de 2015

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

APAIXONE-SE

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Apaixone-se mais pela viagem do que pela chegada ao destino; a primeira opção é mais garantida.
Apaixone-se pelo seu corpo mesmo que ele esteja fora de forma, pois de "qualquer forma" ele é a única casa que você realmente possui.
Apaixone-se pelas suas memórias. Todas são deliciosas e ninguém pode tirá-las de ti, além de serem excelentes fontes de inspiração nos momentos de dor.
Apaixone-se pelas pessoas que estão ao seu lado pois, na caminhada do dia-a-dia, a pessoa certa é aquela que está definitivamente ao seu lado.
Apaixone-se pelo sol; ele é fiel, gratuito, absolutamente disponível, e te inunda de prazer.
Apaixone-se por alguém... Não espere alguém apaixonar-se por você só por garantia e segurança.
Apaixone-se pelo seu projeto de vida. Acredite, a vida é única e só a ti pertence.
Apaixone-se pela dança da vida que está sempre em movimento dentro da gente, mas que por defesa teimamos por aprisioná-la.
Apaixone-se mais pelo significado das coisas que você conquistar do que pelo seu valor material.
Apaixone-se por suas ideias, mesmo que venha julgar que elas para nada servem.
Apaixone-se por seus pontos fortes, mesmo que os pontos fracos insistam em ficar em alto relevo no seu cérebro.
Apaixone-se pela ideia de ser verdadeiramente feliz. A felicidade encontra-se de sobra nas prateleiras de seus recursos interiores.
Apaixone-se pela música que você pode ser para alguém...
Apaixone-se pelo fato de ser humano!
Apaixone-se definitivamente por você!
Apaixone-se por alguém...
O amor e a paixão nos fortalece, eleva a nossa autoestima, a nossa vontade de viver e a de ser muito mais feliz.

domingo, 23 de agosto de 2015

O ASSESSOR

Texto de Carlito Lima
 
Licurgo faz a maior festa quando avista um conhecido, dom natural, sua simpatia contagiante consegue coisa que até Deus duvida. Há mais de 30 anos permanece em cargo comissionado na Assembleia. Sai governo, entra governo, ele continua. Com a sinecura educou os filhos, sustenta a família.
Perto das eleições, se entrega de corpo e alma ao trabalho, já fez campanha para vários políticos, todos eleitos, é pé quente, se gaba. Atualmente é assessor de um deputado campeão de votos e de acordos.
Licurgo é chegado à boemia, ama a época eleitoral quando viaja e farreia muito. Dona Tereza, sua mulher, mandona e braba tenta em vão colocá-lo no cabresto. Ele, escorregadio, sempre está a trabalho do deputado. Não deixa de ser verdade. O nobre legislador, raparigueiro por índole, adora Licurgo, homem contato com divinas mulheres. Administra as farras do deputado, sobra alguma para ele. É secretário-tesoureiro particular para assuntos extraordinários, aliás, a única ocupação de nosso amigo, só comparece à repartição para pegar o contracheque.
Licurgo nas campanhas é pau para toda obra, no interior abre os caminhos com sua maneira de tratar os mais simples, se identifica no linguajar matuto. Nascido em Lagoa da Canoa, município progressista do agreste alagoano, terra de Hermeto Paschoal, veio para capital ainda jovem, os pais pobres ficaram, ele se virou sozinho. Arranjou um emprego em um comitê durante a campanha eleitoral de 1978, daí por diante tomou rumo na vida, encontrou seu talento.
Conhece todos os políticos de Alagoas, seja deputado, prefeito, senador ou governador, Licurgo conversa na maior intimidade, figura querida e respeitada, arquivo vivo, sabe histórias da política alagoana de fazer corar o Zé Dirceu e o Delúbio. Organizador de festinhas nos conchavos políticos. É discreto, não ouve, não fala, não vê.
Certa vez uma comitiva de político chegou a uma belíssima cidade à beira do São Francisco. Seis carros estacionaram à beira do Velho Chico, almoçar em um restaurante, bela paisagem, água esverdeada descendo rumo ao mar. Enquanto preparavam a peixada, a cerveja rolou com boas conversas, conchavos, ficaram ouvindo um senhor com mais de 70 anos contando histórias de Lampião, o ex-cangaceiro sabia tudo, pormenores da emboscada, bem perto mataram Lampião. Ainda não havia servido o almoço quando apareceu famoso deputado e assessoria. Tomaram assento, mandaram cozinhar mais peixe, juntaram-se aos outros. Na hora do almoço o deputado dizia-se cansado.
- Estou há mais de uma semana no sertão em campanha, é estafante, e o pior, não comi ninguém nesses dias. Estou doido por uma rapariga...
Olhou para os auxiliares, ordenou em tom de brincadeira.
- Licurgo, vá à Maceió, traga um caminhão de rapariga.
A moçada às gargalhadas com o humor do deputado, puxando o saco. Serviram o almoço, todos se refestelaram, peixe ao coco, siri, fritada de camarão, muito pitu. Restava descansar no hotel.
À noite, o comício, praça cheia, gente de todo canto chegava em caminhões. Comício é uma grande distração para o povo, principalmente quando havia show.
Palanque abarrotado de gente, abastecido de cerveja e uísque. Certo momento Licurgo se aproxima, fala com entusiasmo ao deputado:
- Pronto, missão cumprida. Não trouxe num caminhão, mas, na esquina da praça tem oito raparigas em três “Caravans”, escolhidas a dedo em meu caderninho. Estão no carro esperando as ordens.
O deputado surpreso, deu uma bela gargalhada, se aproximou de um magnata-empresário pediu para ensinar o caminho até sua casa de campo.
Depois do comício a comitiva do deputado foi dormir em Paulo Afonso na casa grande da fazenda. Aconteceu o maior bacanal já realizado à beira do Rio São Francisco. Na mansão havia um jardim gramado cheio de coqueiros, árvores e uma piscina. Da sacada se avistava o Velho Chico, noite de lua, ficou fácil para brincar de se esconder. As raparigas, como vieram ao mundo, se escondiam na área do jardim, depois de gritar "AGÚ", a moçada ia à caça, quando achava alguma trazia até o deputado, virava, ele dava uma palmada com força. Depois brincaram de pega, finalmente todos mergulharam na piscina. A festa foi até o dia amanhecer. No domingo o deputado estava feliz no palanque contando a história.
Por esse e outros segredos, nosso herói continuará no cargo por muitos anos, presta serviços parlamentares inigualáveis. Arquivo vivo, pau-para-toda-obra, Licurgo, o Assessor.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

MÃOS

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Existem mãos...
Existem mãos que sustentam e mãos que abalam.

Mãos que limitam e outras que ampliam.

Mãos que denunciam e mãos que escondem os denunciados.
Mãos que se abrem e outras que se fecham.
Existem as mãos que afagam e as mãos que agridem.
Mãos que ferem e outras que cuidam das feridas.
Mãos que destroem e mãos que edificam.
Mãos que batem e outras que recebem as pancadas dos outros.
Existem mãos que apontam e guiam e mãos que desviam.
Mãos que são temidas e outras que são desejadas e queridas.
Mãos que dão arrogância e mãos que se escondem ao dar.
Mãos puras e outras que carregam censuras.
Existem mãos que escrevem para promover e mãos que escrevem para ferir.
Mãos que pesam e outras que aliviam,
Mãos que operam e curam e mãos que "amarguram".
Existem mãos que se apertam por amizade e mãos que se empurram por ódio,
Mãos furtivas que traficam destruição e outras amigas que desviam da ruína.
Mãos finas que provam dor e mãos rudes que espalham amor.
Existem mãos que se levantam pela verdade e outras que encarnam a falsidade; Mãos que oram e imploram e mãos que "devoram".
Mãos de Caim, que matam;
Mãos de Jacó, que enganam;
Mãos de Judas, que entregam.
Mas existem também as mãos de Simão, que carregam a cruz;
E as mãos de Verônica, que enxugam o rosto de Jesus.
Onde está a diferença? Não está nas mãos, mas no coração. É a mente transformada que dirige a mão santificada e delicada. É a mente agradecida que transforma as mãos em instrumento de graça.
Mãos que se levantam para abençoar,
Mãos que baixam para levantar o caído,
Mãos que se estendem para amparar o cansado.
São como as mãos de Deus que criam, guiam e salvam;
Que nunca faltam.
Existem mãos e mãos... 

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

COMO SE ESCREVE?

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Quando Joey tinha somente cinco anos, a professora do jardim de infância pediu aos alunos que fizessem um desenho que representasse alguma coisa que eles amavam.
Joey desenhou a sua família e depois traçou um grande círculo com lápis vermelho ao redor das figuras. Desejando escrever uma palavra acima do círculo, ele saiu de sua mesinha e foi até a mesa da professora e disse:
- Professora, como a gente escreve...?
Ela não o deixou concluir a pergunta. Mandou-o voltar para o seu lugar e não se atrever mais a interromper a aula.
Joey dobrou o papel e o guardou no bolso. Quando retornou para sua casa, naquele dia, ele se lembrou do desenho e o tirou do bolso. Alisou-o bem sobre a mesa da cozinha, foi até sua mochila, pegou um lápis e olhou para o grande círculo vermelho. Sua mãe estava preparando o jantar, indo e vindo do fogão para a pia, para a mesa. Ele queria terminar o desenho antes de mostrá-lo para ela e disse.
- Mamãe, como a gente escreve...?
- Menino, não dá para ver que estou ocupada agora? Vá brincar lá fora. E não bata a porta - foi a resposta dela.
Ele dobrou o desenho e o guardou no bolso.
Naquela noite, ele tirou outra vez o desenho do bolso. Olhou para o grande círculo vermelho, foi até a cozinha e pegou o lápis. Ele queria terminar o desenho antes de mostrá-lo ao seu pai. Alisou bem as dobras e colocou o desenho no chão da sala, perto da poltrona reclinável do seu pai, e disse:
- Papai, como a gente escreve...?
- Joey, estou lendo o jornal e não quero ser interrompido. Vá brincar lá fora. E não bata a porta.
O garoto dobrou o desenho e o guardou no bolso.
No dia seguinte, quando sua mãe separava a roupa para lavar, encontrou no bolso da calça do filho enrolados num papel, uma pedrinha, um pedaço de barbante e duas bolinhas de gude. Todos os tesouros que ele catara enquanto brincava fora de casa. Ela nem abriu o papel. Jogou tudo no lixo.
Os anos passaram...
Quando Joey tinha 28 anos, sua filha de cinco anos, Annie fez um desenho. Era o desenho de sua família. O pai riu quando ela apontou uma figura alta, de forma indefinida e disse:
- Este aqui é você, papai!
O pai olhou pra o grande círculo vermelho feito por sua filha, ao redor das figuras e lentamente começou a passar o dedo sobre o círculo.
Annie desceu rapidamente do colo do pai e avisou:
- Eu volto logo!
E voltou com um lápis na mão. Acomodou-se outra vez nos joelhos do pai, posicionou a ponta do lápis perto do topo do grande círculo vermelho e perguntou:
- Papai, como a gente escreve AMOR?
Ele abraçou a filha, tomou a sua mãozinha e a foi conduzindo, devagar, ajudando-a a formar as letras, enquanto dizia:
- AMOR, querida, AMOR se escreve com as letras T... E... M... P... O.
Conjugue o verbo amar todo o tempo. Use o seu tempo para amar. Crie um tempo extra para amar, não esquecendo que para os filhos, em especial, o que importa é ter quem ouça e opine, quem participe e vibre, quem conheça e incentive. Não espere seu filho ter que descobrir sozinho como se soletra AMOR, família, afeição. Por fim, lembre: se você não tiver tempo para amar, crie. Afinal, o ser humano é um poço de criatividade e o tempo...
Bom, o tempo é uma questão de escolha.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

PORQUE A GIRAFA FICOU MUDA

Texto de Prof João Oliveira

Como sabemos a girafa é um animal que não emite um som sequer. Ela é totalmente silenciosa, mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que as girafas falavam (e muito) como todos os outros animais da floresta...
Antes, porém é necessário colocar uma explicação do motivo, pelo qual, a girafa tem um pescoço tão grande. Ocorre que, para se alimentar sempre das folhas mais frescas e saudáveis, a girafa forçava o pescoço para mais alto. Com o passar dos anos (milhares, claro) a evolução a privilegiou com o maior pescoço de todos os animais terrestres. Então, foi por esforço próprio que a girafa conseguiu o melhor ponto de vista entre todos os animais.
Ocorre que, por sempre ver mais longe (sua cabeça estava acima das árvores), a girafa falava de coisas que os seus amigos, animais de outras espécies, não conseguiam enxergar.
- Olha, já está nevado na montanha!
- Nossa que pôr do sol mais lindo, está tudo uma vermelhidão!
Isto começou a irritar aqueles que ouviam mas nunca puderam ter o prazer de desfrutar de tal espetáculo.
- Tudo isto é bobagem! - disse o Leão.
- Fala muito essa girafa... - falou o Hipopótamo.
- Palhaçada da girafa, só quer aparecer, pensa que sabe tudo! - resmungou o avestruz.
Muito humilhada e sentindo-se mal com os comentários cada vez mais agressivos a girafa começou a falar cada vez menos, até que um dia, muito aborrecida, resolveu se calar para sempre.
Provavelmente ela poderia estar falando até hoje se soubesse escolher os assuntos. Quem sabe se ela se dedicasse a previsão do tempo? Estaria se comunicando com um assunto de interesse geral e que seria útil aos animais desprovidos da capacidade de ver ao longe!
O grande equívoco da girafa foi falar de cenários que só ela tinha acesso.
Agora faça uma transposição disto para o seu dia a dia.
- Você tem escutado muitos leões, hipopótamos ou avestruzes resmungando sobre suas colocações?
Pode ser até que não, pois estes personagens geralmente falam as escondidas. No entanto, a observação é válida, pois muitas vezes gostamos de compartilhar nossas visões ou experiências com as pessoas que consideramos nossos amigos. Ocorre que, nem sempre, eles podem usufruir do mesmo parâmetro por motivos diversos. Alguns não têm o mesmo gosto musical, outros não gostam de viajar, tem aqueles que detestam ler e ainda, acredite, existe gente que não vai à praia. No trabalho é a mesma coisa. As girafas vêm com ideias revolucionárias que são de pronto descartadas pelos leões.
Apenas - se este for o caso de encaixe - não seja tão dramático quanto a girafa. Escolha os termos mais acessíveis a todos. Procure outras girafas para falar sobre o horizonte distante, não se entristeça com aqueles que olham em outra direção. Afinal, lembre-se disto: foi a busca por melhores condições de alimentação que permitiu a evolução do pescoço da girafa.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

QUASE SETENTA...

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Pois é, estou quase lá... Decidi, então, ir em busca de informações que me ajudassem a começar a entender melhor a tal “Terceira Idade” ou “Melhor Idade” como querem alguns. A primeira informação é de que ela começa aos 60 anos.
- Será mesmo verdade?
Procurando mais um pouco, encontrei uma pesquisa sobre esse assunto cujo resultado foi bem interessante principalmente vindo de jovens: 47% de entrevistados acham que a Terceira Idade começa entre sessenta e setenta anos, 23% acreditam que ela começa antes mesmo dos 50 anos, 2% acreditam que ela só começa aos oitenta anos...
Eu, particularmente, acho que há controvérsias, pois o meu plano de saúde triplicou o valor da mensalidade quando completei 58 anos...
Então, descobri também que algumas pessoas acham que Terceira Idade é a idade em que se começa a ficar “caduco”. E que “caduco” é aquele que começa a despertar manias antigas e outras novas, não fala mais “coisa-com-coisa”, começa também a ficar ranzinza e chato...
Sinceramente, acho que ao longo da vida e em diferentes fases a gente faz tudo isso e o tempo todo! Manifestamos nossas manias, criamos novas, no sufoco não falamos coisa-com-coisa, mesmo jovens temos atitudes bem ranzinzas em certas situações e muitas vezes somos bem chatos! Quem já não fez tudo isso, que atire a primeira pedra!
Diz a “Wikipédia”, que a Terceira Idade varia conforme a cultura e desenvolvimento da sociedade em que se vive. Em países classificados “em desenvolvimento” como o Brasil, por exemplo, uma pessoa é considerada de Terceira Idade a partir dos 60 anos. Mas vejam só: para a Geriatria, somente após alcançar 75 anos a pessoa é considerada de Terceira Idade. Achei consolador!
Um dado é certo: com a chegada da terceira idade alguns problemas de saúde passam a ser mais frequentes (aqui eu assino embaixo), principalmente para as mulheres, quando mergulham de cabeça na menopausa!
Mas, ainda segundo a Wikipédia, não existe um consenso com relação à fronteira que limita a fase “pré” e “pós” velhice, nem tão pouco, quais são os indícios mais comuns da chegada nesta fase... Ela chega e pronto! Seja pela idade, que pode ser qualquer uma; seja pelas manias, e aí, se você for mais jovem, começa a ficar preocupado. Mas em algum momento da vida você vai dizer “acho que estou ficando velho”...
Por tudo que li, entendi que o “bem envelhecer” depende do equilíbrio entre as minhas limitações e potencialidades, que afinal, nunca deixarão de existir. Por isso tenho que aproveitar cada minuto, cada chance que a vida dá.
Percebo claramente que desenvolver uma flexibilidade comigo mesmo e com a sociedade para me adaptar nessa fase da vida, assim como fiz em todas as outras. É básico para ser feliz...
Me lembro muito bem como foi sofrido o adolescer. A gente cresce ouvindo e acreditando que ao avançar a idade não há muito o que fazer, que todo o investimento pessoal que se podia fazer já foi feito, principalmente entre a juventude e a fase adulta, e que depois, é só colher os frutos deste trabalho. A velhice é vista como uma fase sem saída e sem futuro. Discordo, veementemente!
E, infelizmente, constato que uma parte da sociedade não vê sentido em cuidar dos problemas existenciais do idoso porque acreditam que não há mais o que construir. Terapia de idosos, por exemplo, é vista como perda de tempo.
- De que vai adiantar?
Só vai surtir efeito em gente mais jovem, com cabeça ainda boa e um futuro pela frente! Discordo também, veementemente! Bota veementemente nisto! Mas isso também acontece porque alguns idosos acreditam que por terem vivido uma longa e muitas vezes difícil história não podem mudar o rumo de sua vida o modo de pensar ou agir; deixam-se levar pelo cansaço e a gente até entende muitas vezes que a vida não foi mesmo nada fácil; melhor deixar como está...
Eles não entendem que, no caso da terapia, por exemplo, o objetivo não é mudar o jeito do idoso mas sim dar a ele o acolhimento, o respeito e a compreensão. O objetivo maior é fazer com que ele aceite o seu jeito de ser e descubra maneiras diferentes de viver essa nova fase. Por isso entendi que compreender primeiro e depois aceitar é o caminho. Essa é a mudança tão necessária.
Aceitar a idade, as limitações e não se prender ao que deixou de ser feito, mas o que ainda poderá ser feito. Essa é a grande magia...
Entendi que não posso deixar de pensar na riqueza da minha experiência adquirida com esforço através dos meus anos vividos. Isso é algo que nenhuma força do mundo poderá me tirar. E me lembrar sempre que essa riqueza de experiência pode minar ou até acabar se eu me colocar num estado de inércia que fatalmente me levará para o tédio e uma profunda solidão...
Por isso tudo, vou à luta! Quero ser um idoso legal, que se ama e ama a vida! E ainda deixo um recadinho carinhoso pra você que ainda é muito jovem:
- Sorria, lute, chore, desabafe, curta as coisas boas e alimente-se com elas. Jogue para o ar o que é ruim, mas, principalmente, ame a si mesmo. Só assim você vai conseguir viver bem todas as etapas da vida e amar o outro. Lembre-se de que não estamos sozinhos e que a estrada nunca está vazia.
Um bom envelhecimento a todos. Se você está envelhecendo, é sinal que está vivo! Viva feliz, envelheça com dignidade! 

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O TIME DO TEMPO

Texto de Luiz Ferreira da Silva
ENGENHEIRO-AGRÔNOMO E ESCRITOR

O tempo urge e a gente envelhece. Não se fica para semente, apenas se deixa genes. A morte é inexorável e deste mundo ninguém escapa. Pode ser até um consolo, mas o que seria da vida se ela não existisse. Não teria sentido e, tampouco, projetos a executar, tornando a nossa existência sem graça e até monótona.
É o Time do Tempo: invencível, implacável, cruel.
Uns cumprem o ciclo da existência atingindo a senilidade. Outros, por diversas circunstâncias, morrem antes do combinado. No fundo mesmo o nosso objetivo é ser velhos, cumprindo a validade que a natureza nos carimbou.
O importante é sermos veículos dos nossos genes e dos ensinamentos dos nossos pais, contribuindo para a melhoria da raça humana através de atos éticos e dignos. Se assim procedermos, não morreremos jamais. Apenas, nos encantamos.
Pela falta de consciência das pessoas ou não aceitação dos ciclos da vida, de repente alguém empreende a sua viagem estelar e, numa fração de segundo vira um incômodo, mesmo que tenha tido uma vida profícua de tantos anos. A não ser que vire Santo!
Por esta razão, quando eu morrer:
· Não quero choro, pois é difícil se distinguir o da saudade do da hipocrisia;
· Não quero velas por não representar a luz e sim a morte lacrimejante;
· Não quero fotos amareladas nas paredes provocando arrepios ou assombrações às pessoas medrosas e ignorantes sobre os ciclos da vida;
· Não quero, ao falarem no meu nome que me vejam como um fantasma ameaçador: “que Deus o tenha”; “Deus te chame lá que não te quero cá” ou disfarçam se benzendo;
· Não quero visitação ao meu túmulo, pois cemitério nada mais é que um lixão e, o pior, não reciclável;
· Não quero flores que, abandonadas sob um sol escaldante, murcham, deixando marcado no semblante das pessoas a mesma tristeza da sua rápida decadência;
· Não quero ser comparado a ninguém, sobretudo aos descendentes nas suas imperfeições, geralmente atribuídas à herança do avô, pois nunca se credita a ele as boas ações daqueles;
· Não quero que acreditem no que falam a meu respeito antes de identificar o que realizei de proveitoso, de fato;
· Não quero de repente virar bonzinho ao impacto da morte que todos temem e procuram compensar; e
· Não quero comoção no dia, muita gente no sétimo, muitos sem tempo no trigésimo e esquecimento total ao completar 1 ano.
Quero isso sim:
· Ser lembrado por marcas deixadas com algo de bem e não pelos defeitos comuns de todos nós.
· Caso tenha deixado bens materiais, que sejam visto como de alto valor pela maneira como foi conquistado - esforço, trabalho, honestidade e ética - e não pelo usufruto pecuniário.  
· E às crianças, não quero que sejam enganadas pelos adultos de que fui para o céu, mas que comece a lhes conscientizar em linguajar adequado, o sentido da existência, incluindo a morte, desfecho final do ciclo biológico da vida.  

domingo, 16 de agosto de 2015

A MULHER DA CAPA PRETA

Texto de Carlito Lima

Início dos anos 60 entrei em férias sonhadas, no paraíso, Maceió. Cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras, éramos convidados para todas as festas na mais alta burguesia alagoana. Certa vez, acompanhado do colega, cadete Rocha, fui me divertir num 15 anos de uma jovem rica numa mansão na Pajuçara. Jovens dançavam no imenso salão iluminado por vistoso lustre.  Rocha havia recebido um convite formal, como chovia, além de fardado, levou a pelerine - capa longa, azul escuro, usada como integrante do uniforme do cadete, cobre os ombros e a parte superior do corpo, com fendas para os braços.
Quando a orquestra tocou “Blue Moon” o cadete Rocha avistou uma bela jovem no canto da sala, olhares insistentes. Num impulso irresistível levantou-se em direção à moça, único vestido preto naquela festa. Aproximou-se, antes de convidá-la para dançar, ela sorriu-lhe, falou baixo, estava lhe esperando. Juntaram seus corpos rodopiando o salão com um abraço apertado. Os dois se olhavam como se uma paixão momentânea houvesse surgido.
Certo momento ele perguntou seu nome. Ela respondeu, Carolina, disse ser a melhor amiga de Naná, a aniversariante. Rocha também se apresentou, se gabou, no final do ano formava oficial do Exército na Academia Militar das Agulhas Negras. Ela, apertando-lhe mão com a mão fria, “Eu já sabia!”
O cadete ficou impressionado, a jovem conhecer parte de sua vida. Contou histórias das Escolas Militares. Ela bastante interessada, juntaram os corpos, assim ficaram dançando, mudos, apenas se afastando algumas vezes para se olharem. Caso de paixão fulminante. Rocha sonhava, só percebeu onde estava quando a música parou por um momento.
Dançaram muito, conversaram pouco. Certa hora, Carol falou, devia ir para casa, tinha que chegar antes da meia-noite, promessa. O cadete gentil e interessado, ofereceu-se para levá-la. Na saída da mansão apanhou a pelerine. Como a chuva era intensa, num gesto elegante Rocha cobriu sua companheira com a pelerine protegendo-a da chuva, correram em direção ao ponto de ônibus.
Tomaram o “Ponta da Terra–Trapiche da Barra”, o ônibus quase vazio. Sentados no banco conversaram como se conhecessem há muitos anos.
Quando passava pela Avenida da Paz, Rocha puxou o rosto de Carolina, deu um beijo ardente em seus lábios frios. De repente percebeu, ela chorava. Continuaram aos beijos e abraços durante o resto do percurso.
Perto da praça da Faculdade de Medicina, Carolina tocou a campainha, o ônibus parou, eles desceram. Ela pediu para não acompanhá-la, morava perto, no dia seguinte devolveria a capa preta, aliás, a pelerine azul escuro.
O cadete Rocha seguiu seus passos com o olhar até desaparecer na esquina, na escuridão da rua, no oitão do Cemitério Nossa Senhora da Piedade.
Pela manhã o cadete apaixonado acordou-se com a figura de Carolina gravada na cabeça e no coração. Só não lembrava onde havia marcado encontro com aquela bela e estranha moça.
Sete horas da noite Rocha caminhava, procurava a amada na praça da Faculdade. Ficou a olhar os passantes em busca de um vulto parecido com sua amada. Perguntou a algumas pessoas se conhecia Carolina. Até que uma moça se assustou quando indagada, informou que ela havia morado naquela casa, apontando para um bangalô.
Rocha se encheu de coragem, bateu à porta. Atendeu uma senhora com aparência triste. Ficou assustada quando o rapaz perguntou se ali morava Carolina.
A velha mulher sentou-se numa cadeira da varanda, perguntou quem era o rapaz. Ele disse ser amigo de Carolina, se conheceram no dia anterior, tinham marcado para se encontrar naquela noite na praça.
O cadete Rocha arrepiou-se do dedo do pé aos cabelos, quando a triste senhora respondeu, no dia anterior havia  feito um ano da morte de sua filha Carolina num desastre de carro. Entraram na casa, Rocha teve um ataque de choro ao ver o retrato de sua namorada com uma tarja negra cortando a foto em uma das pontas. Resolveram visitar o cemitério. Entraram pela alameda principal, desviaram para direita onde estava a sepultura de Carolina. Ao se aproximarem, perceberam ao longe, a pelerine, a capa preta, aberta cobria o túmulo. Se emocionaram, se abraçaram chorando. Ficaram no cemitério até a meia-noite quando os portões se fecharam.
Essa história tornou-se lenda, há quem diga ter visto o vulto de mulher, vestida de preto rondando o cemitério. No bairro do Prado, onde fica o cemitério, sempre alguém conta casos do vulto de preto. A história tornou-se tão forte que o carnavalesco Marcos Catende fundou o Bloco da Mulher da Capa Preta, sai todo carnaval na maior animação, um dos blocos mais animados de Maceió. Tem história.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

POEMA SOBRE UMA NOITE DE AMOR

Texto de Carlos Drummond de Andrade

Num momento de descontração, o grande poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu:
Satânico é meu pensamento a teu respeito e ardente é o meu desejo de apertar-te em minhas mãos, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem.
A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares... Eu adormeci...
Hoje. quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão. Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para, na mesma cama, te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo... Só assim, livrar-me-ei de ti, pernilongo filho da puta!

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

DITADORES

Texto de Paulo Geraldo

A Ditadura tem, sem dúvidas, raízes profundas dentro do homem. Nasce talvez do alto conceito que cada um tende a ter cerca de si mesmo o que o leva, de algum modo, a subjugar os outros homens.
Não é um mal existente apenas em certos “homens maus” que a vida gerou para desgraça dos outros, mas sim algo que existe dentro de todos nós. É uma manifestação exacerbada de egoísmo por parte de um homem, de uma mulher, que, de algum modo, chegou a ter qualquer espécie de poder.
Há por aí muitos pequenos ditadores que, não podendo ter um raio de ação maior, exercem essa função apenas do seu pequeno mundo. O veneno dessa semente maligna tem espalhado o sofrimento por todo quanto sítio, desde o lar à empresa, desde à família à nação.
Acontece que a maior parte dos ditadores não sai nos jornais, porque recebeu pouco poder...
Existe em cada um de nós um ditador, que se manifesta quando queremos pôr em prática os nossos desejos, não olhando a meios; quando estamos dispostos a pisar quem quer que seja com o fim de cumprimos a nossa vontade, quando os outros deixam de contar as coisas para nós ou se, por acaso, achamos que estorvam a concretização dos nossos planos ou a nossa realização pessoal. Sendo assim, a democracia não é um remédio para a ditadura.
A democracia, que talvez nem sequer exista na realidade, não passa de um sistema que poderia facilitar que não houvesse ditadores, se não fossem manuseados por homens. É que ainda ninguém curou o coração dos homens. O único remédio que está ao nosso alcance, já que não é possível eliminar a semente de destruição: Consiste em tornar o homem capaz de dominar, entre outras coisas, o impulso que o leva a subjugar os outros. É uma doença crônica que não se pode eliminar, mas que se pode controlar.
Acontece que muitas das nossas crianças estão precisamente a ser educadas para ditadores. Levados por um desejo grande de as vermos felizes, ansiando ver nos seus rostos aqueles sorrisos que são a luz das nossas casas, cometemos verdadeiros disparates educativos e contribuímos para que se transformem nada mais nada menos do que em pequenos monstros ditadores potencial. Cumprimos seus desejos, quando não devíamos fazer; quando a nossa cedência não é benéfica para eles. Basta-lhes por vezes, fazer uma birra, chorar um pouco, insistir mais vezes, para terem aquilo que pediam. Muitas vezes recusam-se a obedecer aos professores, por exemplo, ou a aceitar as regras de um jogo feito com os companheiros, porque estão acostumados a mandar... Lá em casa, o erro que elas cometem é tão parecido com uma virtude que mal reparamos nele.
Devíamos entender que o caminho para a felicidade não passa por ter todas as exigências satisfeita, todos os desejos cumpridos. Muito pelo contrário: é preciso ensinar-lhes a renúncia e o domínio de si mesmos; torná-los capazes de viverem com o facto inevitável de que a vida não é plenamente moldável aos nossos gostos e capricho; fazer-lhes ver que nós é que devemos adaptar-nos, em larga medida, a vida e aos modos de ser das outras pessoas.