domingo, 10 de abril de 2016

O BRASILEIRO É O QUE SE DIZ?

Texto de Luiz Ferreira da Silva
ENGENHEIRO AGRÔNOMO E ESCRITOR

Sempre se fala se enaltece e se orgulha da excelência do brasileiro. Um povo bom, sofrido, trabalhador, honesto e solidário. Ouço isso desde a minha infância e fiquei um ufanista de carteirinha.
Mas, como gosto de analisar sintomas na tentativa de, através das evidências convergentes, obter uma opinião correta, cheguei a outro perfil do brasileiro.
Exceções sempre existem. O que interessa é a “moda” estatística; o comportamento geral das pessoas, independentemente da sua cor, credo ou classificação social. Vamos aos porquês:
· Por que o brasileiro vota nos candidatos corruptos? Não seria uma vontade velada de que também gostaria de ser um deles?
· Por que o brasileiro quer começar como chefe, fazer pouco esforço e reclamar sempre do salário? Não seria uma maneira de usufruir sem mérito, passando muita gente para trás?
· Por que o brasileiro não respeita os seus limites, avançando os sinais, furando filas, fumando em lugares proibidos? Não seria o abominável “eu posso mais”?
· Por que o brasileiro desfila em carros luxuosos e não paga o condomínio, as férias da sua empregada? Não seria o seu gene perdulário?
· Por que joga lixo na rua, é mal-educado e não respeita os mais velhos?  Não seria a sua falta de sintonia com o seu semelhante, vivendo um mundo só seu, criado por ele?
· Por que o brasileiro se “suja” com pequenas coisas, abrindo pacotes em supermercados, enganando pessoas pobres (exemplo: flanelinhas) e procrastinando as suas dívidas? Não seria a vontade de “especialização”?
· Por que o brasileiro esnoba riqueza em viagens, banquetes, roupas de grife? Não seria uma necessidade de se afirmar, pois não possui atributos interiores para tal?
· Por que o brasileiro luta para entrar na política, sabendo do mar de lama que ela é? Seria por essa atração ambiental eivada da expectativa de se dar bem, como já se tornou normal no nosso país?
· Por que o brasileiro quando ascende no ranking social se torna prepotente, vaidoso e arrogante, sobretudo com os de baixo? Não seria o gene do deslumbramento que vivia escondido no seu DNA?
· Por que o brasileiro se torna esquerdista quando está na pior e muda quando melhora de vida, passando a exercer a opulência, antes combatida? Seria uma revolta pelo que fora desprezando aos que eram iguais, considerando-os uma classe inferior?
· Por que o brasileiro pobre quando se torna policial persegue os da sua classe e se apequena ante os abastados? Não seria a concepção de que agora está a serviço da elite e os seus de antes não tem nada a lhe oferecer?
Vou ficar por aqui. O prezado leitor pode agregar inúmeras atitudes do brasileiro que, à luz de outros povos, envergonham o nosso país.
Não posso esquecer a cena que assisti em um supermercado, aqui em Maceió. Uma senhora bem vestida rasgando uma caixinha de chocolate e dando ao seu filho de uns 5 anos, sem passar pelo caixa, cometendo dois crimes: o dela e a prática condenável passada ao seu filho.
Sempre nos perguntamos por que somos subdesenvolvidos, sobretudo nós aqui do Nordeste. Saímos sempre pela tangente e esquecemos as nossas mazelas.
Estudar firme, suar no trabalho e crescer pelo esforço próprio, não está no “vade-mécum” do brasileiro. Isso é para oriental do olho puxado, para os alemães, para os canadenses e outros “infelizes” que não sabem gozar a vida - assim fala muita gente, sobretudo nos bares, nas rodas de samba, nas feiras de trambiques.
E isso não acontece só com os abastados, mas com os pobres, também. A geleia é geral. Os ricos dedicam grande parte de seu tempo para lutar pelas sinecuras e mamar nas tetas da viúva (governo: nosso dinheiro suado) e os menos favorecidos no seu limite de locupletação, a exemplo dos sem-terra e dos “bolsistas” do governo que nada querem com o trabalho.  Estes fogem da carteira assinada, satisfazendo-se das esmolas do governo e os sem-terra vivem de “pic-nics” nas praças, passeatas pelas avenidas, das cestas básicas, invasão dos prédios públicos e das fazendas, renegando o duro chão da sagrada lavoura, como o diabo corre da Cruz.
E os exemplos dos políticos que, em sua maioria, locupletam-se do erário público, - para uma juventude que, aliás, está mais preocupada com a balada de amanhã, fortalecendo a descrença daqueles que são bons estudantes e lutam por uma ascensão justa socioeconômica através do esforço?
Como é que vamos ser um país desenvolvido? Recursos Naturais ajudam, mas o fator primordial é a força de trabalho de seu povo, eivada de dedicação aos estudos, muito suor, obstinação, desprendimento, conhecimentos e decência comportamental, com respeito às leis e aos limites da convivência salutar e pacífica. Em síntese: Recursos Humanos.
(Maceió, nov. 2010).

Nenhum comentário:

Postar um comentário