sexta-feira, 27 de maio de 2016

CAPIXABA

Texto de Carlito Lima

Era uma vez em Maceió um jovem de apelido Capixaba, por ter nascido no Espírito Santo, seu nome de batismo, Osvaldo Carlos do Rego Couto, poucos conheciam. Viveu a juventude na areia branca da praia da Avenida da Paz, excelente ponta direita do Avenidense Futebol Clube. Forte, musculoso, xodó das meninas, cuidava de seu corpo como um bom narcisista. Desde cedo apreciou boas mulheres, bons papos, inteligência e raciocínio rápidos lhe davam o toque de bom humor e alegria. Excelente contador de história, prendia atenção ao contar suas aventuras.
Mudou-se para Brasília, nunca perdeu o contato com os companheiros de juventude, gentil, quando visitava Maceió distribuía presentes entre os amigos. Tinha simpatia e alegria, inatas, um ser humano de bem com a vida. Na última vez que almoçamos juntos, festa de fim-de-ano do Cáo, relembramos grandes noitadas, aventuras de jovens cheios de sonhos e de irresponsabilidades. A vida de Capixaba é um livro bem humorado, ainda não escrito.
Capixaba gostava de carnaval, certa vez acompanhando o Bloco Cavaleiro dos Montes numa manhã quente de Banho de Mar à Fantasia, a moçada enlouquecia ao tocar o frevo Vassourinhas, Capixaba recebeu uma cotovelada na cara, caiu no asfalto, atordoado. Ao recuperar-se da pancada identificou o agressor, nada menos que Porreta, um baiano, alto, forte, arruaceiro de zona, certa vez lutou e bateu em três policiais na Boate Tabariz em Jaraguá. O marginal Porreta era conhecido nas baixas rodas por ser briguento e por ser também travesti, "Madame Satã" de Maceió. Todos tinham medo de Porreta, bicha macho para ninguém botar defeito. Capixaba inconformado desafiou o meliante para um duelo, a arma, as mãos, num vale tudo, dali a um mês, na Praça Sinimbu às 20 horas. Porreta não refugou, topou a parada.
Capixaba começou a preparar-se para grande luta. Boêmios, prostitutas, policiais, políticos, desocupados, comentavam o desafio, maior expectativa. Capixaba treinava o corpo, corria diariamente às 5:00 h. da manhã do coreto da Avenida ao Morro Tom Mix, onde hoje é a Braskem, ida e volta.
Naquela época, Nezito Mourão, um dos maiores beques do Brasil, jogava pelo CRB, depois jogou no Santos com Pelé, campeão do mundo em 61-62, havia aberto uma Academia de Boxe, Capixaba se matriculou, recebeu aulas técnicas de murros e defesas, preparando-se para enfrentar o Porreta. Certa vez “brigaram” em treinamento, Capixaba de repente aproveitou uma guarda aberta de Mourão, deu-lhe um soco no olho, zonzou, o becão tentou dar o troco no indisciplinado aluno, entretanto, Capixaba com medo do revide correu em disparada foi bater em Marechal Deodoro. Fez parte do treinamento.
Certa manhã, Capixaba avistou dois marinheiros ingleses caminhando pela Avenida da Paz em direção ao cais do porto, ele gritou “Son of bich”, os marinheiros não gostaram, continuaram a caminhada, Capixaba correu atrás, provocando, deu um tapa em cada inglês. Iniciou no calçadão uma briga de cinema, dois contra um. Lutaram até cansar. Assim eram os treinos para enfrentar Porreta, a nossa "Madame Satã".
Afinal, chegou a noite esperada ansiosamente pela população de Maceió. Alguns amigos acompanharam nosso herói até a Praça Sinimbu. Ao se aproximar do local, ouviu o grito provocativo do Porreta com as mãos nos quartos, “Preparou-se para levar a maior surra de sua vida?”
Tiraram relógio, camisa, sapatos. Os assistentes formaram um círculo deixando os dois lutadores no centro. Aconteceu uma das maiores lutas já presenciada nas Alagoas e alhures. Primeiros movimentos, adversários se estudando, alguns ataques, outras defesas, jogo de pernas. De repente rápidos murros, socos na cara, na barriga, às vezes se atracavam, se soltavam, não havia juiz para separar. Esmurraram-se, se digladiaram por mais de uma hora, suavam, sangravam.
Estavam cansados, Capixaba distraiu-se em guarda, Porreta aproveitou, acertou um soco desconcertante na cara, nosso amigo caiu no chão, jorrando sangue pela boca.  A raiva subiu para cabeça, Capixaba num ímpeto incomunal levantou-se num pulo dando cabeçada no peito do surpreso Porreta, "Madame Satã" caiu de costas, abriu a cabeça no calçamento, sangrou. Ato contínuo, Capixaba montou por cima de Porreta, não perdoou, esmurrando-o incessantemente.
Retiraram Capixaba de cima de "Madame Satã" nocauteado, sangrando, imediatamente levaram-no para o Pronto Socorro, quatro dentes quebrados, muito sangue. Assim acabou o reinado de Porreta, o baiano mais macho do Brasil.
Capixaba também acabou seu reinado nesse mundo. Resta agora lembranças, contar suas histórias, ou dançar um tango.

Um comentário:

  1. Carlito, Irmãozinho, o Porreta era porreta, mesmo.
    O bicha mais macho da paróquia; o Capixaba, também, era tampa de foguete.
    O Porreta foi o contraponto do seu(dele!) coleguinha Sandú.
    Irmãozinho, você se lembra de Lolita? Aquele que certa vez fechou Rua do Hospício(em frente a Escola de Engenharia) enfrentando uns três PM/PE.
    Como haveria de ser um combate Porreta X Lolita? Seria pena pra todo lado ou rio de sangue ...

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