segunda-feira, 31 de outubro de 2016

QUEM É O SEU AMANTE?

Texto de Jorge Bucay
Psiquiatra e Psicoterapeuta

Muitas pessoas tem um amante e outras gostariam de ter um. Há também as que não têm e as que tinham e perderam. Geralmente, são essas últimas que vem ao meu consultório, para me contar que estão tristes ou apresentam sintomas típicos de insônia, apatia, pessimismo, crises de choro, dores etc. Elas me contam que suas vidas transcorrem de forma monótona e sem perspectivas, trabalham apenas para sobreviver e que não sabem como ocupar seu tempo livre. Enfim, são várias as maneiras que elas encontram para dizer que estão simplesmente perdendo a esperança. Antes de me contarem tudo isto, elas já haviam visitado outros consultórios, onde receberam as condolências de um diagnóstico firme: "depressão"!
Assim, após escutá-las atentamente, eu lhes digo que não precisam de nenhum antidepressivo; digo-lhes que precisam de um amante!
É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem meu conselho. Há as que pensam: "Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa dessas"?! Há também as que, chocadas e escandalizadas, se despedem e não voltam nunca mais.
Aquelas, porém, que decidem ficar e não fogem horrorizadas, eu explico o seguinte:
- “Amante" é aquilo que nos "apaixona", é o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono. É também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir. O nosso “amante" é aquilo que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida. Às vezes encontramos o nosso “amante" em nosso parceiro; outras, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações incríveis. Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no esporte, no trabalho, na necessidade de transcender espiritualmente, na boa mesa, no estudo ou no prazer obsessivo do passatempo predileto... Enfim, é "alguém" ou "algo" que nos faz "namorar a vida" e nos afasta do triste destino de "ir levando". E o que é "ir levando"? “Ir levando” é ter medo de viver. É o vigiar a forma como os outros vivem, é o se deixar dominar pela pressão, afastar-se do que é gratificante, observar decepcionado cada ruga nova que o espelho mostra, é se aborrecer com o calor ou com o frio, com a umidade, com o sol ou com a chuva. Ir levando é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje, fingindo se contentar com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã. Por favor, não se contente com "ir levando"; procure um amante, seja também um...
Para estar satisfeito, ativo e sentir-se jovem e feliz, é preciso namorar a vida.

domingo, 30 de outubro de 2016

CELULAR NA SALA DE AULA

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

O caso é antigo, mas vale a pena recordar porque a situação é e será sempre atual.
O juiz Eliezer Siqueira de Sousa Junior, da 1ª Vara Cível e Criminal de Tobias Barreto, no interior do Sergipe, julgou improcedente um pedido de indenização que um aluno pleiteava contra o professor que tomou seu celular em sala de aula.
De acordo com os autos, o educador tomou o celular do aluno, pois este estava ouvindo música com os fones de ouvido durante a aula.
O estudante foi representado por sua mãe, que pleiteou reparação por danos morais diante do "sentimento de impotência, revolta, além de um enorme desgaste físico e emocional".
Na negativa, o juiz afirmou que "o professor é o indivíduo vocacionado a tirar outro indivíduo das trevas da ignorância, da escuridão, para as luzes do conhecimento, dignificando-o como pessoa que pensa e existe”. O magistrado se solidarizou com o professor e disse que "ensinar era um sacerdócio e uma recompensa. Hoje, parece um carma". Eliezer Siqueira ainda considerou que o aluno descumpriu uma norma do Conselho Municipal de Educação, que impede a utilização de celular durante o horário de aula, além de desobedecer, reiteradamente, o comando do professor. Ainda considerou que não houve abalo moral, já que o estudante não utiliza o celular para trabalhar, estudar ou qualquer outra atividade edificante.
E declarou:
- Julgar procedente esta demanda, é desferir uma bofetada na reserva moral e educacional deste país, privilegiando a alienação e a contra educação, as novelas, os realitys shows, a ostentação, o “bullying intelectivo”, o ócio improdutivo, enfim, toda a massa intelectivamente improdutiva que vem assolando os lares do país, fazendo às vezes de educadores, ensinando falsos valores e implodindo a educação brasileira”.
Por fim, o juiz ainda faz uma homenagem ao professor:
- No país que virou as costas para a Educação e que faz apologia ao hedonismo inconsequente, através de tantos expedientes alienantes, reverencio o verdadeiro HERÓI NACIONAL, que enfrenta todas as intempéries para exercer seu “múnus” com altivez de caráter e senso sacerdotal: o Professor.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

FILHOS

Texto de Affonso Romano de Sant'anna

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios filhos. É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados. Crescem sem pedir licença à vida. Crescem com uma estridência alegre, e, às vezes, com alardeada arrogância. Mas não crescem todos os dias de igual maneira. Crescem de repente.
Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura. Onde é que andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços e o primeiro uniforme do maternal?
A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil... E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça! Ali estão muitos pais ao volante, esperando que eles saiam esfuziantes sobre patins e cabelos longos, soltos. Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão nossos filhos com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros. Ali estamos, com os cabelos esbranquiçados.
Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com nossos acertos e erros. Principalmente com os erros que esperamos que não repitam.
Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos próprios filhos. Não mais os pegaremos nas portas das discotecas e das festas. Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judô. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas.
Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, pôsteres, agendas coloridas e discos ensurdecedores. Não os levamos suficientemente ao Playcenter, ao Shopping, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas que gostaríamos de ter comprado. Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afeto.
No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscina e amiguinhos. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de chicletes e cantorias sem fim. Depois chegou o tempo em que viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma e os primeiros namorados. Os pais ficaram exilados dos filhos. Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, de repente, morriam de saudades daquelas "pestes". Chega o momento em que só nos resta ficar de longe torcendo e rezando muito (nessa hora, se a gente tinha desaprendido, reaprende a rezar) para que eles acertem nas escolhas em busca de felicidade. E que a conquistem do modo mais completo possível. O jeito é esperar: qualquer hora podem nos dar netos.
O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável carinho. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto. Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que eles cresçam. Aprendemos a ser filhos depois que somos pais; só  aprendemos a ser pais depois que somos avós.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A TRAVESSIA DO CAMINHO

Texto de Susana Carizza

Impossível atravessar a vida sem que um trabalho não saia mal feito, sem que uma amizade não cause decepção, sem padecer com alguma doença.
Impossível atravessar a vida sem que um amor nos abandone, sem perder um ente querido, sem se enganar em um negócio.
Esse é o custo de viver.
O importante não é o que acontece, mas como você reage.
Você cresce quando não perde a esperança, nem diminui a vontade, nem perde a fé. Quando aceita a realidade e tem orgulho de vivê-la.
Você cresce quando aceita seu destino, e mesmo assim..., tem garra para mudá-lo, quando aceita o que ficou para trás..., construindo o que tem pela frente e planejando o que está por vir.
Cresce quando se supera, se valoriza e sabe dar frutos.
Cresce quando abre caminho, assimila experiências e semeia raízes.
Cresce quando se impõe metas sem se importar com comentários, nem julgamentos.
Cresce quando dá exemplos, sem se importar com o desdém, quando você cumpre com seu trabalho.
Cresce quando é forte de caráter, sustentado por sua formação, sensível por temperamento.
E humano por natureza!
Cresce quando enfrenta o inverno, mesmo que perca as folhas,  cresce quando colhe flores mesmo que tenham espinhos.
Cresce quando marca o caminho mesmo que se levante o pó.
Cresce quando é capaz de lidar com resíduos de ilusões, cresce quando é capaz de perfumar-se com flores e elevar-se por amor.
Cresce ajudando a seus semelhantes, conhecendo a si mesmo e dando à vida mais do que recebe.
E assim se cresce... 

sábado, 22 de outubro de 2016

RECLAMAÇÕES

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

- Antigamente tudo era melhor. O mundo, hoje, vai mal: o governo só faz política, a Prefeitura é inoperante, a própria igreja estacionou, o carro não pega, a minha promoção não sai, o sinal ainda tá fechado, o meu time perdeu, que calor insuportável, minha mulher só reclama, os amigos sumiram, essas crianças não param de chorar, a cidade tá uma sujeira, meu chefe não me compreende, o táxi não aparece, essa fila que não anda, ninguém reconhece meu trabalho, os preços não param de subir, meu telefone vive enguiçado...
Que vida, hein! Mais alguma reclamação?
- E se eu tivesse nascido em berço de ouro? E se meus pais fossem mais inteligentes? E se eu ganhasse uma enorme quantia? E se não existisse tanta gente atrapalhando a minha vida? E se eu conseguisse um diploma sem precisar estudar? Por que a gente tem tanta luta e tribulação, tanta dor e sofrimento, transformando a vida num “Vale de Lágrimas”?
Difícil, não é mesmo? Mas agora preste muita atenção nesta situação:
• Jesus nasceu num estábulo...
• Jesus montou num burrico...
• Jesus multiplicou os pães e peixes num cesto...
• Jesus utilizou um local para evangelizar...
• Jesus promoveu um milagre num barco...
• Jesus foi sepultado em um túmulo emprestado...
Só a cruz era d’ELE! E Ele nunca amaldiçoou a Sua condição de nada ter, nunca murmurou e jamais blasfemou!
Aprenda a dar mais valor às pessoas, coisas e situações que lhe são impostas, não por elas mesmas, mas por DEUS.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

VANTAGENS DA TERCEIRA IDADE

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

• A tua quantidade de neurônios finalmente baixou a um nível administrável.
• Os teus segredos estão seguros com teus amigos, pois eles tampouco podem recordá-los.
• As tuas articulações (as populares "juntas") fazem uma previsão do tempo mais exata que a do Serviço Nacional de Meteorologia.
• Alguns dos teus amigos te telefonam às 8 da noite e perguntam: - Te acordei?
• Ninguém pensará que és hipocondríaco porque, agora sim, tens todas as doenças.
• Já não tens que estudar nada, agora te estudam.
• A roupa que comprares não passará de moda.
• Podes jantar às 6 da tarde e roncar na hora da telenovela.
• Podes viver sem sexo, mas não sem óculos.
• Te encanta saber das fofocas dos amigos.
• Discutes acaloradamente sobre a aposentadoria e os seguros de saúde.
• Quando fazes reuniões em tua casa, os vizinhos nem notam.
• O limite de velocidade deixa de ser um desafio.
• Já não te importa esconder a barriga.
• O teu investimento com a apólice de gastos médicos começa a valer a pena.
Não se lembra quem te enviou este e-mail? Não te preocupes; quem te enviou, pouco importa lembrar que lhe mandou. Envia-o a todos teus amigos da “terceira idade” Não me lembro se já o fiz...
Ah, e também envia aos “mais jovens” para que vejam “o que os espera” e apreciem “o que têm hoje”.

domingo, 16 de outubro de 2016

APRENDA A OUVIR DEUS FALAR

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Eram aproximadamente 22 horas quando um jovem começou a se dirigir para casa. Sentado no carro, ele começou a pedir:
- Deus, se ainda falas com as pessoas, fale comigo. Eu irei ouvi-lo. Farei tudo para obedecê-lo.
Enquanto dirigia pela rua principal da cidade, ele teve um pensamento muito estranho: "Pare e compre um galão de leite". Ele balançou a cabeça e falou alto:
- Deus? É o Senhor?
Ele não obteve resposta e continuou dirigindo-se para casa. Porém, novamente, surgiu o pensamento: "Compre um galão de leite.".
- Muito bem, Deus... No caso de ser o Senhor, eu comprarei o leite.
Isso não parece ser um teste de obediência muito difícil. Ele poderia também usar o leite... O jovem parou, comprou o leite e reiniciou o caminho de casa. Quando ele passava pela sétima rua, novamente ele sentiu um pedido: "Vire naquela rua..."
- Isso é loucura! - exclamou e, passou direto pelo retorno.
Novamente ele sentiu que deveria ter virado na sétima rua. No retorno seguinte, ele virou e dirigiu-se pela sétima rua. Meio brincalhão ele falou alto:
- Muito bem, Deus. Eu farei.
Ele passou por algumas quadras quando de repente sentiu que devia parar. Brecou e olhou em volta. Era uma área mista de comércio e residência. Não era a melhor área, mas também não era a pior da vizinhança. Os estabelecimentos estavam fechados e a maioria das casas estavam escuras, como se as pessoas já tivessem ido dormir, exceto uma do outro lado que estava acesa...
Novamente, ele sentiu algo: "Vá e dê o leite para as pessoas que estão naquela casa do outro lado da rua.". O jovem olhou a casa, começou a abrir a porta do carro, mas voltou a sentar-se.
 - Senhor, isso é loucura. Como posso ir para uma casa estranha no meio da noite?
Mais uma vez, ele sentiu que deveria ir e dar o leite. Finalmente, ele abriu a porta do carro... 
- Muito Bem, Deus, se é o Senhor, eu irei e entregarei o leite àquelas pessoas. Se o Senhor quer que eu pareça uma pessoa louca, muito bem. Eu quero ser obediente. Acho que isso vai contar para alguma coisa, contudo, se eles não responderem imediatamente, eu vou embora daqui.
Ele atravessou a rua e tocou a campainha. Ele pôde ouvir um barulho vindo de dentro, parecido com o choro de uma criança. A voz de um homem soou alto:
- Quem está aí? O que você quer?
A porta abriu-se antes que o jovem pudesse fugir. Em pé, estava um homem vestido de jeans e camiseta. Ele tinha um olhar estranho e não parecia feliz em ver um desconhecido, em pé, na sua soleira... 
- O que é?
O jovem entregou-lhe o galão de leite.
- Comprei isto para vocês.
O homem pegou o leite e correu para dentro falando alto. Depois, uma mulher passou pelo corredor carregando o leite e foi para a cozinha. O homem a seguia segurando nos braços uma criança que chorava. Lágrimas corriam pela face do homem e, ele começou a falar, meio soluçando:
- Nós oramos... Tínhamos muitas contas para pagar este mês e o nosso dinheiro havia acabado. Não tínhamos mais leite para o nosso bebê. Apenas orei e pedi a Deus que me mostrasse uma maneira de conseguir leite.
Sua esposa gritou lá da cozinha:
- Pedi a Deus para mandar um anjo com um pouco de leite... Você é um anjo?
O jovem pegou a sua carteira e tirou todo dinheiro que havia nela e colocou-o na mão do homem. Ele voltou-se e foi para o carro, enquanto as lágrimas corriam pela sua face.
Ele teve certeza que Deus ainda responde aos verdadeiros pedidos.
Você tem 24 horas por dia, gaste algumas delas para fazer o bem:
- Quanto tempo você leva para parar um pouquinho e ouvir Deus?

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O TROTE

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Na faculdade de Medicina, no primeiro dia de aula, o médico e professor diz para os calouros do primeiro ano:
- Para vocês serem médicos precisam ter duas coisas muito importantes: primeiro, ter “muita atenção” e, segundo, não ter “nojo”.
Para demonstrar a sua teria, ele pede para trazerem um cadáver...
Quando o cadáver chegou, o professor enfia o dedo no ânus do defunto e, em seguida, coloca na boca.
Os alunos ficam estarrecidos.
Então ele diz:
- Agora, vamos ver quem tem vocação para médico... Quero que vocês façam a mesma coisa que eu fiz”.
Os alunos olham, com cara de nojo, um para o outro... Passados alguns segundos, os alunos e alunas, um a um, metem o dedo no ânus do defunto e depois o colocam na boca.
Depois que o último aluno fez tal procedimento, o professor voltou a falar:
- Muito bem, nojo você não tem, mas só falta atenção porque eu ''enfiei'' um dedo e coloquei outro diferente na boca...

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

SOBREVIVENTES

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Primeiro, sobrevivemos sendo filhos de mães que fumavam, bebiam, enquanto “'nos esperavam chegar”. Nem elas nem nós, morremos por isso... Elas tomavam aspirina, comiam queijos curtidos e azulados sem serem pasteurizados, e não faziam teste do pézinho ou de diabete. E depois do traumático parto, nossos berços eram pintados com tintas a base de chumbo em cores  brilhantes lead-based e divertidas.
Não tínhamos tampinhas protetoras para chupetas ou mamadeiras, nem nos frascos de remédios, portas ou tomadas, e quando andávamos nas nossas bicicletas, não usávamos capacetes, isto sem falar dos perigos que corríamos quando pedíamos caronas.
Sendo crianças, andávamos nos carros sem cintos de segurança, air-bags e não ficávamos a sós nos bancos de trás...
E andar no bagageiro ou na carroceria de uma pick-up num dia ensolarado de verão, era uma diversão premiada.
Bebíamos água no jardim da mangueira e não de uma garrafa plástica. E era água pura.
Compartilhávamos um refrigerante com outros quatro amigos todos bebendo da mesma garrafa e ninguém, que eu me lembre, ficou doente por isso.
Comíamos bolos, pão com manteiga e tomávamos refrigerantes açucarados, mas não ficávamos gordos de ficar lesos, simplesmente porque estávamos sempre brincando na rua, na calçada, no quintal, no jardim ou na praça.
Saíamos de manhã e brincávamos o dia inteiro, desde que voltássemos antes das luzes da rua se acender.
Ninguém conseguia falar com a gente o dia todo. E estávamos sempre bem, tanto que sobrevivemos...
Passávamos horas construindo carrinhos de caixote para deslizarmos morro abaixo e só quando enfiávamos o nariz em alguma arvore é que nos lembrávamos de que precisava ter freios. Depois de alguns arranhões, aprendemos a resolver isto também, por nossa conta...
Não tínhamos Playstations, Nintendos, Arquivos X, nenhum vídeo game, nem 99 canais de seriados violentos ou novelas peçonhentas, nenhum filme em DVD ou VT ou VHS, nem sistemas de surround sound, muito menos telefones celulares, ou computadores de bolso, ou Internet ou salas de Chat... 
Tínhamos amigos... Íamos de bicicleta ou a pé para a casa de algum amigo e batíamos na porta ou tocávamos a campainha ou simplesmente abríamos a porta e entrávamos e ficávamos conversando com eles ou brincando.
Caímos de árvores, nos cortávamos, quebrávamos uma canela, um dente, e ninguém processava ninguém por isso. Eram acidentes.
Inventávamos jogos com paus e bolas de tênis e até minhocas e sapos eram dissecados por nós, cortávamos rabos de lagartixa para ficar olhando nascer um novo, e nos diziam o que ia acontecer se não nos comportássemos, mas nada acontecia nem quando engolíamos uma minhoca pra ser mais valente que o outro.
Os dentes de leite tinham jogos de teste, mas nem todo mundo passava nem ficava desesperado. Nem os papais interferiam com suas carteiras ou com suas vozes de poder. Tínhamos que aprender a ficarmos decepcionados. Imagine só!
Quebrarmos uma lei ou outra não resultava em castigo nem bronca homérica. Eles até estavam sempre ao lado da lei e da ordem... E agora?
Foram  essas gerações que produziram alguns dos mais aventureiros solucionadores de problemas, inventores e autores de todos os tempos!
Nos últimos 50 anos nós testemunhamos uma explosão de novidades e novas ideias. Tínhamos liberdade, podíamos errar, fracassar, ter sucesso e responsabilidade, e aprendemos que não há nada melhor que ter nascidos livres, pois, só assim, aprendemos a viver e sobreviver.
 Nós tivemos a sorte de sermos crianças, antes que os advogados, os pediatras e o governo estragassem nossas vidas de vez, nos transformando em bibelôs e barbies, e que nunca jogaram bola de gude...
Naquele tempo Homem casava com Mulher e Mulher casava com Homem, namorados eram ele com ela e ela com ele. 
Se você que está lendo é um de nós, parabéns!
Viva aquele tempo. 
Ah, que saudade!

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

DISCRETAMENTE

Texto de Carlito Lima

Nove meses após o casamento do Dr. Romero e Dona Marilena nasceu Maria Aparecida; ano depois veio Ana Maria. As duas eram xodós da mãe, Dona Marilena, como se brincasse de boneca, vestia as duas iguaizinhas, andavam juntas, estudavam juntas, só não pareciam gêmeas porque Cidinha era branca, igual à mãe, e Aninha, morena, como o pai.
Na adolescência a primeira revolta, acabaram esse negócio de se vestirem iguais. Aos 13 anos, Aninha, mais esperta, já havia beijado um namoradinho. Cresceram na praia da Pajuçara. A juventude dos anos dourados era uma festa, apareceram namorados, Henrique amava Aninha que amava João que amava Cidinha que amava Henrique, assim, nesse círculo amoroso, passou o tempo. Para desespero e dor de corno de Henrique, João namorou Aninha, engravidou, noivaram e casaram em uma festa bonita no sítio dos pais na Massagueira, beirando a Lagoa. No dia do casamento, sem esperança de Aninha, Henrique cedeu aos encantos de Cidinha, começaram namoro, em dois anos casaram-se na mesma casa, no mesmo terraço, no mesmo jardim.
Anos passaram, os dois casais unidos em torno da família, vieram filhos para alegria dos avós. Dr. Romero comprou três apartamentos no mesmo prédio onde foi morar, deu um a cada filha, facilitando a visita constante dos netos, para felicidade de Dona Marilena.
Entretanto, a vida é um relâmpago como disse o poeta Lêdo Ivo, de repente um infarto, Dr. Romero caiu fulminado no chão de sua cozinha onde gostava de se deliciar com carnes gordurosas e as pernas das empregadas, tinha o pecado de gostar de mulher, às vezes se distraia com raparigas arranjadas por Audálio, o motorista.
Os genros tomaram conta dos negócios do sogro, inclusive uma fazenda lucrativa, eles se davam bem, corretos, os negócios continuaram a dar sustento de classe média alta para família. Entretanto, João percebia, era visível o carinho, o desvelo, de Henrique por sua mulher, tinha ciúme contido para o bem da família.
O destino tem seus caprichos. Certa noite os dois casais saíram para uma festa, muito vinho, comida, bebida. Ao voltar, João dirigia em velocidade, Henrique pediu para desacelerar, João virou a cabeça:
- Está com medo?
Nesse momento, um estrondo, um jipe vinha no sentido contrário bateu de lado, o carro virou duas vezes, gritos de dor. Custou a chegar socorro. Todos levados ao hospital foram atendidos, apenas João precisava maiores cuidados, ficou internado, entrou em coma, morreu uma semana depois. Maior tristeza para família, muita dor, contudo, a vida continuou.
Um ano após a morte de João, Cidinha inventou uma viagem, um cruzeiro às Ilhas Gregas. Deixaram os filhos com a avó. Na Itália, tomaram um transatlântico de luxo, duas semanas visitando as românticas, Miconos, Patmos, Lesbos, entre outras. No navio, toda noite depois do jantar, dançavam, se divertiam, arranjavam paqueras para Aninha, sempre rejeitados discretamente. Certa noite a orquestra tocou "As Time Goes By", Aninha pediu permissão à irmã pegou na mão de Henrique, puxou-o, dançaram lentamente. Aninha abraçava o cunhado, olhou em seus olhos perguntando:
- Lembra da música, vimos o filme juntos no Cinema de Arte?
Ele sorriu.
- Inesquecível, está guardada em minha mente e coração, já assisti "Casablanca" 300 vezes pensando em você.
Aninha sorriu. Ele continuou:
- Somos adultos, quase velhos, entretanto, amor não envelhece, nunca deixei de lhe amar, todos sabem, inclusive João, ele sabia. Só agora confesso a verdade, apenas para nós dois, casei-me com Cidinha para estar perto de você.
Calaram-se, abraçaram-se, juntaram o rosto. Nesse momento Henrique sentiu uma mão leve nas costas, a esposa comunicava cansaço, ia se recolher, ficassem mais um pouco. Dançaram apertados. Discretamente entraram no camarote da cunhada e se amaram pela primeira vez com toda ternura recolhida que tinham para dar.
Dia seguinte, no café da manhã, os três felizes, alegres, conversavam sobre o que viria na continuação. Ao retornarem, contaram as aventuras à família e aos filhos, mostrando fotos da viagem linda maravilhosa...
Henrique, hoje, aos 63 anos, vive bem com Cidinha, a esposa, em seu apartamento. Vez em quando, encontros de amor, ternura e carinho com Aninha, a cunhada.
Os três sabem, discretamente...

terça-feira, 4 de outubro de 2016

AS QUATRO ESPOSAS

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES
 
Era uma vez um rei que tinha quatro esposas.
Ele amava demais a quarta esposa e vivia dando-lhe lindos presentes, joias e roupas caras. Ele dava-lhe de tudo e sempre do melhor.
Ele também amava muito a terceira esposa e gostava de exibi-la aos reinados vizinhos. Contudo, ele tinha medo que um dia, ela o deixasse por outro rei.
Ele também amava sua segunda esposa. Ela era sua confidente e estava sempre pronta para ele, com amabilidade e paciência. Sempre que o rei tinha que enfrentar um problema, ele confiava nela para atravessar esses tempos de dificuldade.
A primeira esposa era uma parceira muito leal e fazia tudo que estava ao seu alcance para manter o rei muito rico e poderoso, ele e o reino. Mas, ele não amava a primeira esposa, e apesar dela o amar profundamente, ele mal tomava conhecimento dela.
Um dia, o rei caiu doente e percebeu que seu fim estava próximo. Ele pensou em toda a luxúria da sua vida e ponderou:
- É, agora eu tenho 4 esposas comigo, mas quando eu morrer, com quantas poderei contar?
Então, ele perguntou à quarta esposa:
- Eu te amei tanto, querida, te cobri das mais finas roupas e joias. Mostrei o quanto eu te amava cuidando bem de você. Agora que eu estou morrendo, você é capaz de morrer comigo, para não me deixar sozinho?
- De jeito nenhum! - respondeu a esposa, e saiu do quarto sem sequer olhar para trás.
A resposta que ela deu cortou o coração do rei como se fosse uma faca afiada. Tristemente, o rei então perguntou para a terceira esposa:
- Eu também te amei tanto a vida inteira. Agora que eu estou morrendo, você é capaz de morrer comigo, para não me deixar sozinho?
- Não! - respondeu a mulher - A vida é boa demais! Quando você morrer, eu vou é casar de novo.
O coração do rei sangrou e gelou de tanta dor.
Ele perguntou então à segunda esposa:
- Eu sempre recorri a você quando precisei de ajuda, e você sempre esteve ao meu lado. Quando eu morrer, você será capaz de morrer comigo, para me fazer companhia?
- Sinto muito, mas desta vez eu não posso fazer o que você me pede! - respondeu a segunda esposa - O máximo que eu posso fazer é enterrar você!
Essa resposta veio como um trovão na cabeça do rei, e mais uma vez ele ficou arrasado.
Daí, então, uma voz se fez ouvir:
- Eu partirei com você e o seguirei por onde você for...
O rei levantou os olhos e lá estava a sua primeira esposa, tão magrinha, tão malnutrida, tão sofrida...
Com o coração partido, o rei falou:
- Eu deveria ter cuidado muito melhor de você enquanto eu ainda podia...
Na verdade, nós todos temos 4 esposas nas nossas vidas:
• Nossa "quarta esposa" é o nosso Corpo. Apesar de todos os esforços que fazemos para mantê-lo saudável e bonito, ele nos deixará quando morrermos...
• Nossa "terceira esposa" são as nossas Posses, as nossas Propriedades, as nossas Riquezas. Quando morremos, tudo isso vai para os outros.
• Nossa "segunda esposa" são nossa Família e nossos Amigos. Apesar de nos amarem muito e estarem sempre nos apoiando, o máximo que eles podem fazer é nos enterrar.
• E nossa "primeira esposa" é a nossa Alma, muitas vezes deixada de lado por perseguirmos, durante a vida toda, a Riqueza, o Poder e os Prazeres do nosso Ego... Apesar de tudo, nossa Alma é a única coisa que sempre irá conosco, não importa aonde formos...
Então, cultive, fortaleça, bendiga e enobreça a sua Alma agora. É o maior presente que você pode dar ao mundo e a si mesmo. Deixe-a brilhar!