segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

LIMITES

Texto de Mônica Monastério

Somos as primeiras gerações de pais decididos a não repetir com os filhos os erros dos nossos progenitores.
E, com o esforço de abolirmos os abusos do passado, somos os pais mais dedicados e compreensivos, mas, por outro lado, os mais bobos e inseguros que já houve na história.
O grave é que estamos lidando com crianças mais “espertas” do que nós, ousadas e mais “poderosas” do que nunca!
Parece que, em nossa tentativa de sermos os pais que queríamos ser, passamos de um extremo ao outro. Assim, somos a última geração de filhos que obedeceram a seus pais e a primeira geração de pais que obedecem a seus filhos. Os últimos que tivemos medo dos pais e os primeiros que tememos os filhos. Os últimos que cresceram sob o mando dos pais e os primeiros que vivem sob o jugo dos filhos. E, o que é pior: os últimos que respeitamos nossos pais e os primeiros que aceitamos que nossos filhos nos faltem com o respeito.
À medida que o permissível substituiu o autoritarismo, os termos das relações familiares mudaram de forma radical, para o bem e para o mal. Com efeito: antes, se considerava um "bom pai", aquele cujos filhos se comportavam bem, obedeciam às suas ordens, e o tratava com o devido respeito; e "bons filhos", às crianças que eram formais e veneravam seus pais.
Mas à medida que as fronteiras hierárquicas entre nós e nossos filhos foram se desvanecendo; hoje, os "bons pais" são aqueles que conseguem que seus filhos os amem, ainda que pouco os respeite. E são os filhos, quem agora, esperam respeito de seus pais, pretendendo de tal maneira que respeitem suas ideias, seus gostos, suas preferências e sua forma de agir e viver. E que, além disso, que patrocinem no que necessitarem para tal fim. Quer dizer: os papéis se inverteram; agora são os pais que têm que agradar a seus filhos para “ganhá-los” e não o inverso, como no passado. Isto explica o esforço que fazem tanto, pais e mães, para serem os melhores amigos e “darem tudo” aos seus filhos.
Dizem que os extremos se atraem... Se o autoritarismo do passado encheu os filhos de medo de seus pais, a debilidade do presente os preenche de medo e menosprezo ao nos verem tão débeis e perdidos como eles.
Os filhos precisam perceber que, durante a infância, estamos à frente de suas vidas, como líderes capazes de sujeitá-los, quando não os podemos contê-los, e guiá-los, enquanto não sabem para onde vão. É assim que evitaremos que as novas gerações se afoguem no descontrole e tédio no qual está afundando uma sociedade, que parece ir à deriva, sem parâmetros nem destino.
Se o autoritarismo suplanta, o permissível sufoca. Apenas uma atitude firme, respeitosa, lhes permitirá confiar em nossa idoneidade para governar suas vidas enquanto forem menores, porque vamos à frente, liderando-os, e não atrás, carregando-os e rendidos às suas vontades.
Os limites abrigam o indivíduo, com amor ilimitado e profundo respeito.

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