quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

CRISE DE AUTORIDADE ENTRE PAIS E FILHOS

Texto de Eduardo Aquino

O TEMPO
Passamos rapidamente das gerações de filhos que sentiam medo e respeito com o simples olhar de reprovação dos pais, para a geração de mães e pais que temem olhares e atitudes de seus filhos. Que pena! Cenas que seriam impensáveis tempos atrás, como agressão verbal e até física contra os pais e professores, hoje se banalizam como se fossem normais a falta de limite e educação básica de crianças e jovens, bem como a noção de respeito e hierarquia. Nivelados adultos e jovens pela absoluta ausência de autoridade.
Discussões ásperas, palavrões, elevações no tom da voz e desobediência parecem se tornar a regra e não a exceção nos lares e escolas mundo afora. Na China, inclusive, deram o nome de “filhos imperadores ditatoriais”. Situação agravada pela política de filho único, os chinesinhos maltratam e exigem privilégios impensáveis, ainda que à custa de sacrifícios indescritíveis de pais carentes e escravos. E como muitos deles eram agricultores analfabetos e seus filhos estudados e tecnológicos, não há nem conflitos, pois quem manda são os filhos ditadores.
INVERSÃO DE VALORES
Voltando ao nosso país, diversas áreas como a pedagogia, psicologia, sociologia tentam entender essa inversão de valores da cultura, da família, da escola. Uma delas diz que com o avanço das mulheres (e mães) ao mercado de trabalho, as crianças numa época de formação de sua estrutura psicológica, de adquirir valores e traços de caráter, são privadas da tutela materna (o lado paterno em geral é ausente) e entregues a cuidadores incapazes de exercer ou substituir o papel dos pais. Em geral, avós ou vizinhos sub-remunerados para “tomar conta” de filhos alheios.
Sem uma política de creches ou escolas integrais, tais crianças são soltas para frequentar a rua, ser instrumento de pessoas mal-intencionadas e crescem sem limite, punição, educação. E mães e pais que mal veem os filhos compensam com permissividade excessiva, presentes, realizações de desejos de crianças cada vez mais consumistas e exigentes.
ESTABELECER LIMITES
Ora, a natureza é pródiga em exemplos de estabelecimento de limites, punição, como elementos básicos de educação dos filhotes para que um dia sejam capazes de sobreviver sem a presença de adultos. Me diga se algum leãozinho, agride uma leoa mãe?
A cada dia, a noção de autoridade se perde. Na escola, tentativas de impor regras mínimas de convívio pacífico, ou o uso de mais rigor, são logo confundidas com abuso, seja pelos pais condescendentes com seus filhos - nessa hora algumas mães viram leoas na defesa de sua cria - ou o Estado, que intervém com Conselhos Tutelares, ECA, e até “lei da palmadinha”.
DETERIORAÇÃO
Ressalte-se que avanços existiram com algumas dessas medidas, mas estranhamente todo esse aparato e o mote “lugar de criança é na escola”, contribuíram para a gradativa deterioração nos relacionamentos professores-alunos e pais-filhos. Há que se dizer que os vícios eletrônicos, a desigualdade de facilidade no domínio tecnológico entre gerações, também acentuaram a falta de comunicação e afeto.
Um certo cansaço, talvez apatia dos adultos em retomar as rédeas, se impor como autoridade, entender que educar dá trabalho, mas é gratificante, torna a jovem geração autodidata, e valores e cultura são ditados nas ruas, nas redes sociais, nos WhatsApp da vida.
TEMOS DE REAGIR
É hora de reagir, assumir o comando. E sem joguinhos de culpa, chantagens emocionais, constrangimentos, ameaças. Entender que cada comportamento dos nossos filhos ou alunos requer uma lei simples: mereceu tem, não mereceu deixa de ter! Valor é algo que se obtém com luta e dificuldades, já utilidade é quando se lembra de algo quando há necessidade.
Seu filho te valoriza ou utiliza? Eles querem tudo ao mesmo tempo, exigem cada vez mais e detestam ouvir “não” ou ser frustrados. Mas nosso papel é exatamente, frustrá-los, estabelecer regras e limites, pelo menos enquanto usufruírem do nosso lar. Tem que deixar claro que eles podem tudo (ficar horas na internet, sair, beber, transar) desde que se sustentem, tenham trabalho digno, estudem com seriedade.
Mas ninho, só o afetivo. Afinal alguém vê pássaro pai ficar dando minhoca no bico de filhote adulto? Colhemos o que plantamos. Simples assim…

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