domingo, 11 de junho de 2017

A OVELHA NEGRA

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Era uma vez um país onde todos os habitantes eram ladrões.
Pela noite, cada um dos habitantes saía, com uma micha e uma lanterna, para ir saquear a casa de um vizinho. Ao regressar carregado, ao amanhecer, ele também encontrava sua casa saqueada. E todos viviam em concórdia e sem dano, porque um roubava o outro e este, a outro, e assim sucessivamente, até chegar ao último, que roubava o primeiro.
Nesse país, o comércio só se praticava em forma de troca, tanto por parte do que vendia como de quem comprava. O governo era uma associação criada para delinquir em prejuízo dos habitantes. E, por seu lado, os habitantes só pensavam em fraudar o governo. A vida decorria sem tropeços e não tinha nem ricos nem pobres.
Mas eis que, não se sabe como, apareceu no país... Um homem honrado!
À noite, ao invés de sair com um saco e uma lanterna, para roubar, ficava em casa tomando chá e lendo livros. Com isso, os ladrões chegavam, viam a luz acesa e iam embora, sem nada roubar.
Acontece que, a cada noite que ele passava em casa, era uma família que não comia no dia seguinte porque não tinha roubado ninguém, no caso a casa do homem honrado. Por esta razão, o homem honrado começou a sair pela noite para regressar somente na manhã do dia seguinte. Mas não ia roubar, ele era honrado demais. Ele Ia até a ponte e ficava olhando a água passar. E, quando voltava para casa, a encontrava saqueada.
Em menos de uma semana o homem honrado ficou sem um centavo, sem ter que comer e com a casa vazia. Mas não podia reclamar, porque a culpa era dele mesmo. Acontece que o seu procedimento gerou uma grande desordem porque, se ele se deixava roubar e não roubava ninguém, tinha sempre alguém que, ao regressar de manhã, encontrava sua casa intacta: a casa que ele deveria ter saqueado!
O fato é que, depois de um tempo, os que não eram roubados estavam ficando mais ricos que os outros. Por outro lado, os que iam roubar a casa de quem não roubava mais, não conseguiam e assim ficavam mais pobres.
O fato é que aqueles que tinham se tornados ricos também se acostumaram a ir, à noite, para a ponte. Mas logo perceberam que, indo toda a noite à ponte, depois de um tempo, voltariam a ser pobres. Não demorou muito para eles chegarem a uma infeliz conclusão:
- Vamos pagar aos pobres, para que roubem para nós!
Assinaram-se os contratos, estabeleceram-se os salários e as percentagens dos roubos. Mas, como eram todos ladrões, sempre tratavam de enganar uns a outros.
Como sempre acontece, os ricos se tornavam cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres. Tinha rico, tão rico, que já não tinha necessidade de roubar ou de mandar roubar, para continuar sendo rico. Entretanto, se deixasse de roubar, iria se tornar pobre, porque os pobres iriam roubar a riqueza que ele tinha. Então, como solução, decidiram pagar aos mais pobres dos pobres, para defender dos outros pobres, as suas casas. E assim instituíram a polícia e construíram as prisões.
Dessa maneira, poucos anos após a chegada do homem honrado, já não se falava em roubar ou de ser roubado, mas somente de ricos e pobres.
E, no entanto, a maioria deles continuava a ser ladrões...

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