sexta-feira, 16 de junho de 2017

RESPEITEM O SÃO JOÃO

Texto de Rubens Mário
PROFESSOR E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

O São João sempre foi a festa mais popular e mais bonita do Nordeste brasileiro. Tudo dessa época é muito bonito e gostoso - as comidas, os enfeites, as fogueiras, os fogos, e, principalmente, a música genuína.
No passado, a festa era muito tradicional e a cultura nordestina era respeitada. Muita gente vinha de outras regiões atraída pelas nossas tradições culturais. Na época, ainda tínhamos vivo o grande mestre “Gonzagão”, que, mesmo vivendo no sudeste, divulgava a verdadeira música e o sotaque nordestinos não só para as outras regiões do país, mas, para todo o mundo, e olhem que o mundo ainda não estava globalizado! Aqui e acolá, o xote, o xaxado e o baião, eram ecoados pela sanfona, o triângulo e a zabumba, através do “Gonzagão”, e foi tocado e cantado até pelos Beatles, num ensaio da banda em 1970. Nesse tempo as mídias tecnológicas orientadas pelo capitalismo atroz, ainda não tinham ousado tomar conta das nossas vidas! Ainda tínhamos autonomia e independência! O capitalismo sempre foi muito cruel, mas, devido à nossa população, à época, ainda ser pequenina, sem o gigantismo populacional, ou, a doença do crescimento, a “banda podre” da invasão tecnológica, ainda não havia produzido os estragos irreversíveis na nossa cultura popular. Entendo que essa crudelidade do capitalismo avança na medida em que há um aumento desmedido da população, diminuindo a informação dessas pessoas, e, consequentemente, acentuando o poder de absorção das coisas negativas determinadas pela avalanche tecnológica.
É impressionante como perdemos a vergonha e o amor próprio! Não temos mais uma identidade! Mesmo as pessoas nativas do interior, salvo raríssimas exceções, já foram contaminadas pela massificação do lixo midiático que é despejado, incessantemente, pelos inúmeros meios de comunicação do novo mundo. Na semana passada assisti num canal de televisão local a divulgação de uma festa junina na cidade de Piranhas. O título do evento - “forrógaço” - nos sugeriu que a festa iria reviver a música tocada pelos cangaceiros que barbarizaram por aquelas bandas no tempo do cangaço. Pesquisando a programação do evento na internet, fiquei chocado com as atrações principais estampadas na brochura promocional: Jonas Esticado, Samira Show e Gabriel Diniz. Investigando depois o gênero musical dos três penetras/convidados, fiquei ainda mais constrangido e confuso - o mesmo que importuna as nossas “oiças” no carnaval e no Natal. Pasmem! Não consigo entender o porquê de autoridades responsáveis pela cultura de um povo, promoverem um evento com esse sugestivo título, e, depois, convidarem intrusos que não têm nada haver com a nossa cultura nordestina, muito menos, com o forró do cangaço, como mal sugere o equivocado título.
Os crimes contra a cultura nordestina, infelizmente, também foram cometidos nas duas cidades conhecidas como as “capitais brasileiras do forró”. Em Campina Grande, foram convidados, os forasteiros: Jorge&Mateus, Safadão, Mateus&Kauan, e Gustavo Lima. Pasmem de novo! Já em Caruaru, o desrespeito foi ainda maior, pois, foram contratados os intrusos: Marília Mendonça, Maiara &Maraísa, Bel Marques, Simone e Simaria, Gustavo Lima, Dj Alok, Bruno e Marrone, e Mateus e Kauan. Pasmem, mais uma vez! O que mais nos revolta é que esses penetras/convidados estão tomando o lugar de: Flávio José, Elba Ramalho, Geraldo Cardoso, Geraldo Azevedo, Jorge de Altinho, Amazan, Trio nordestino, 3 do Nordeste, Alcimar Monteiro, Nando Cordel, Eliezer Setton, Genival Lacerda, Gerson Filho, Osvaldinho, Edgar dos 8 Baixos, forró no sítio, orquestra sanfônica, e muitos outros do mesmo quilate.
É fulcral lembramos que toda essa falta de respeito à nossa cultura está, também, ligada às quadrilhas, dantes marcadas e dançadas, inocentemente, pelos nossos jovens vestidos de matutos.
Respeitem a nossa música! Respeitem a nossa cultura!

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