segunda-feira, 10 de julho de 2017

OS TARADOS DA AVENIDA

Texto de Carlito Lima

No início do século XX, Bebedouro era o bairro mais chique, mais festeiro, mais rico de Maceió. Restam algumas mansões, bonitos palacetes de famílias tradicionais embelezando o bairro.
O Brasil não foi à Guerra, entretanto, ao terminar a Primeira Guerra Mundial (1918), o prefeito de Maceió comemorou com o povo o fim da guerra na então “Praia do Aterro”. Depois de bons goles de cachaça, prometeu, ali construiria uma bela Avenida, a Avenida da Paz. Político de palavra (existia antigamente), logo iniciou a obra, a Avenida ficou linda, começou a desbancar Bebedouro, a burguesia foi se transferindo para a Avenida da Paz, construindo belas casas, mansões. Nessa época apareceu a moda do “banho salgado”, hoje banho de mar, a mulherada moderna vestia maiô até o joelho, caía na água. Maior sucesso, alguns achavam um escândalo. Vinham homens, velhos, meninos do interior apreciar as modernas senhoritas de maiô aparecendo a batata das pernas, causava reboliço entre os marmanjos. Nessa época também foram aparecendo os primeiros “tarados”. Nos anos 40 o maiô já havia diminuído o tamanho, subindo até a metade da coxa, quanto mais diminuía o tamanho do maiô, mais aumentavam os discípulos de Onã na esplêndida praia da Avenida da Paz.
Nos anos 50 eu era um jovem maloqueiro de praia. Nadava singrando a calmaria do mar azul esverdeado, pulava da cumeeira dos trapiches mar adentro, jogava bola na areia dura, pescava nas jangadas, puxava rede, a Avenida da Paz foi berço esplêndido. Entretanto, o esporte predileto dos meninos da avenida depois do futebol, era ficar na areia olhando, que nem jacaré, as belas mulheres estendidas na areia, pegando um bronzeado.
É próprio do homem o “voyeurismo”, olhar os encantos da mulher. Alguns não se controlavam, praticavam o onanismo em esdrúxulas situações. Naquela época, os meninos com cara de santinho frequentavam rodas de conversas das moças na praia, olhavam discretamente o corpo dourado das jovens, quando entravam na água não havia quem segurassem.
Gaguinho era mestre... Aproximava-se das desavisadas de maiô, deitava de bruços, cavava uma cova, adaptava a mão, estimulava suas fantasias. Certa vez, um amigo percebeu o Gaguinho em posição de trincheira perto de sua belíssima irmã, foi chegando por trás, devagar, de repente virou o Gaguinho em vias da apoteose final. Levaram o “tarado” para a Delegacia de Jaraguá. Ficou preso.
Certo verão ela apareceu vestindo o primeiro biquíni em Maceió. Bonita ruiva, dizia-se atriz, hóspede do Hotel Atlântico, sustentada por um rico fazendeiro. Toda manhã descia à praia, como se fosse uma liturgia, estendia a toalha, enfiava o pau da sombrinha na areia e armava. Devagar, cheia de preguiça, tirava a blusa, aparecia parte do biquíni pouco cobrindo os seios. Em seguida, como fosse um strip-tease, descia lentamente o short requebrando os quadris, movimentos harmoniosos, sensuais, passando pelas pernas até transpassá-lo por baixo dos pés. Finalmente levantava o short com o pé direito como se chutasse o vento. Ainda em pé, dobrava o short, a blusa, colocava-os junto à sombrinha. Deitava lentamente, de bruços, deixando o sol da manhã acariciar suas pernas, seu dorso. Foi o grande espetáculo daquele verão. Os homens se deliciavam com o ritual erótico da musa dos cabelos de fogo. “Chaina”, sua cachorrinha pequenez, ficava amarrada no pau da sombrinha. Às vezes, ela se soltava para alegria da moçada correndo, tentando capturá-la para receber o agradecimento, e olhar de perto as penugens douradas nas coxas da magnífica.
Depois que “Chaina” começou a frequentar a praia, o número de tarados aumentou nos mares da Avenida. Muita gente graúda entre eles. Certa vez fizemos uma votação para eleger o maior tarado da praia. Em terceiro lugar, "Punho de bronze", foi para um jogador de futebol. Segundo lugar, "Punho de prata", ganhou um coroa, vestia um velho calção de banho, passava o dia vadiando na praia. E primeiro lugar, "Punho de ouro", fez-se justiça, ganhou um comerciante muito conhecido, era prático, profissional, conta a lenda, todas as suas calças tinham bolsos furados.
Hoje, ao caminhar pela praia da Jatiúca, apreciando os corpos deitados, belamente bronzeados, lembro dos velhos tempos da Avenida da Paz. Com tantas mulheres seminuas, os tarados da Avenida iriam enlouquecer.

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