domingo, 11 de março de 2018

O COMANDANTE DA GUARDA

Texto de Aloisio Guimarães

Uma das coisas boas que aconteceram comigo na adolescência foi o Serviço Militar. Acho que todos os brasileiros deveriam passar por essa experiência. Foi no Exército, que aprendi a ser homem e a ter caráter. Disciplina e respeito à hierarquia eram (e acho que ainda são) as palavras de ordem. Pontualidade, fardamento impecavelmente engomado, coturno brilhando igual a catarro na parede, barba perfeitamente raspada...
O meu pai fazia questão que seus filhos fossem convocados, ao ponto de ir falar com o sargento para que não fôssemos dispensados, quando da seleção. Por conta disso, todos os quatros homens da família serviram ao Exército Brasileiro.
Servi na patente de Cabo 2ª Categoria - no Tiro de Guerra 07-179, da minha cidade natal, Palmeira dos Índios, em 1973. Além de Cabo, eu era uma espécie de capataz do quartel, o “homem de confiança” do sargento Fireman, o nosso comandante.
O sargento Fireman era um sujeito boa praça. Baixinho, barrigudo (suava mais do que pano de cuscuz), branquelo, óculos "fundo de garrafa"... Era paraibano e veio comandar o Tiro de Guerra de Palmeira dos Índios sem trazer a família para a nossa cidade. Quando a “saudade apertava”, o que acontecia sempre, o sargento se mandava para a Paraíba e me deixava como encarregado geral do quartel. Nessas ocasiões, eu era o "Comandante Supremo". Como diz o ditado: casava e batizava!
Apresentado o cenário, vamos ao nosso causo:
Certo dia estava “Tirando guarda” (de prontidão, à noite, no quartel). Lá por volta da meia noite, mais ou menos, entra na sala, o meu futuro, e hoje ex-cunhado, Hélio Alves, que morava ali por perto.
- Diga aí, cara, o que faz por aqui? - Indaguei ao namorado da minha irmã.
- Vim trazer esse bolo e esse refrigerante que a sua mãe mandou, para você lanchar...
- Oba! Muito obrigado, Hélio. Agora, me responde uma coisa: quem deixou você entrar no quartel?
- Foi o "Marmota" (apelido do soldado Mota, que estava de guarda, no portão).
- Tudo bem, obrigado!
O soldado Mota tinha o apelido de “Marmota” porque “o peste” era todo desengonçado. Sabiamente, turma passou a chamá-lo assim, uma perfeita associação do seu nome com o animal.
Pois bem, era o auge da chamada “ditadura militar”. Portanto, todo o cuidado era pouco. Por isso, assim que o meu ex-cunhado se retirou, acordei os soldados Araújo e Aguiar e ordenei:
- Vão, agora mesmo, lá no portão. Você, Araújo, substitua o soldado Mota ("Marmota") e você, Aguiar, prenda-o, sob a acusação de negligência, porque ele deixou pessoas estranhas entrarem no quartel, sem autorização do Comandante (no caso, eu) e, ainda por cima, no meio da noite!
O soldado Mota passou 24 horas preso! Se não agisse assim, no dia seguinte, o pau cairia na minha cabeça.
Ainda hoje, quando visito Palmeira dos Índios e encontro com o "Marmota", ele passa por mim e faz de conta que não me conhece. 

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