sexta-feira, 23 de março de 2012

O NOSSO PROFESSOR PARDAL

Texto de Aloisio Guimarães
 
Toda cidade tem o seu cientista e Palmeira dos Índios não fugiu a esta regra.
Se alguém lhe disser que mora ou que morou em Palmeira dos Índios, pergunte-lhe se conheceu ou já ouviu falar do Ciço Aluado. Se ele responder que não, é um mentiroso, nunca morou na “Terra dos Xucurus”.
- E quem foi Ciço Aluado?
Ciço Aluado foi o maior cientista que nossa cidade já teve! Era filósofo, mecânico, fogueteiro, meteorologista... E ainda por cima, ele foi um ilusionista de mão cheia.
O homem era um pesquisador nato, muito embora não tivesse instrução superior.
O seu apelido “Aluado”, surgiu por conta das suas constantes experiências, nos mais diversos campos da imaginação. E, os mais exagerados, afirmavam que ele era capaz de conversar com a lua (sic)!
Sempre no seu inconfundível Jeep, com as mãos sujas de graxa, Ciço Aluado foi uma daquelas figuras marcantes, queridas e inesquecíveis de nossa terra.
A todos, ele costumava dizer que era capaz de fazer chover, em plena seca, se lhe dessem os meios que precisava.
Durante as festas de Natal e Ano Novo, na velha Praça da Independência, um dos momentos mais esperados, por "hômi, mulé e mininu", era a queima dos fogos do Ciço Aluado. Todo mundo ficava encantado quando viam os fogos queimarem ao longo de um circuito cheio de peripécias e rodas de fogos, iguais aos que víamos somente nos filmes de faroeste, em cenas que retratavam as festas mexicanas em homenagem a Nossa Senhora de Guadalupe.
Eu e meu irmão Casé, fomos testemunhas de uma das experiências do nosso "herói", cujo relato é o seguinte:
Estávamos no “Senadinho”, bar do meu pai, já citado em outros causos, quando chega Ciço Aluado e pede uma lapada de cachaça. Nesse momento, a turma que lá estava (Geraldo Prata, Nilo Barros, Itamar Malta, Dirceu Souza, entre outros) desafia Ciço Aluado para fazer alguma experiência rápida, ali e agora.
O nosso “Professor Pardal” não fugiu à luta! Foi no seu velho Jeep, voltou com um pedaço de Bombril e o colocou justamente dentro do seu copo, que ainda restava um pouco de cachaça. Depois, olhando para todos os presentes, profetizou:
- Daqui a pouco, isso vai pegar fogo.
Ninguém soube até hoje o que peste o Ciço Aluado fez, mas a bobônica do Bombril pegou fogo mesmo!
Todo mundo ficou de queixo caído.
Até hoje, de vez em quando, coloco um pedaço de Bombril num copo, com cachaça, e fico esperando ele incendiar e nada acontece...
Foi com tristeza que recebi a notícia da sua morte, através do conterrâneo, o arquiteto, João Araújo Júnior.
Com certeza, ele deve estar conversado com o Criador, dando ideias para reinvenção do mundo.

8 comentários:

  1. Bom dia Aloisio.
    Você me fez lembrar agora dos montes de revistas do walt Disney que eu mantinha escondidinho atrás do meu duarda-roupa, por que meus pais tinham a mania de dizer que ler muito fazia mal...E era o professor Pardal, o meu preferido!
    Concordo com você quando diz que toda cidade tem um "meio cientista" tinhamos um aqui.
    Muito bom ler seus contos/histórias.
    Fique na paz de Deus. até

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  2. Residi durante a minha infância na mesma rua do Sr Cicero e fui testemunha de muitas das suas experiências. Foi êle quem introduziu as abelhas italianas em Alagoas e seus apiários ficavam no sitio atras de sua casa, hoje é a Av. Salú Branco.

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    1. Carlos,
      Somente quem conheceu o Cícero de perto, como você, é capaz de testemunhar o quanto ele era inteligente. Lamentavelmente, as pessoas não o viam dessa forma.
      Abraço.

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  3. Ola Aloisio, todos temos em nossa família um Professor Pardal, em minha família este é o meu pai. Muito bom este texto.

    Um Abraço.

    Bianca Francisco.

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  4. Olá Aloisio, bom dia! morei na Usina Peixe, município de Flexeiras-AL e lá tinha um rapaz( SEVERINO DE seu Tenório) que tinha apenas o curso primário incompleto, estudou por correspondência no Curso Universal Brasileiro e terminou virando o mestre mecânico de toda à fábrica, desenhava e fabricava quaisquer engrenagem que fosse preciso. Acredito que certas pessoas já nasce com o dom da sabedoria, por isso, tem facilidade de aprimorá-la.

    Um abraço,

    Amaro lira

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  5. Foi um imenso prazer conhecer seu Cicero Aluado.Ele era um médium que merecia ser comparado a Chico Chavier.

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  6. Muito bem dito, no texto aqui escrito não se comentou que ele era médium. Mas ele era sim um médium sem igual ao qual são atribuídas até mesmo curas.

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  7. "Acorda povo! que a natureza muda!" (Cícero)
    Ele sempre foi enigmático, até mesmo com pouca memória, as vezes ele compartilhava com a gente fragmentos de lembranças, sempre gostei de ouvir histórias sobre ele, principalmente quando em poucos momentos ele mesmo contava em um rápido lampejo de memória.
    Ele falava as mesmas palavras, que eu não me cansava de ouvir, e hoje faz tanta falta:
    -Ói ele! Já tomou café? (ele não resistia o café quente da Zefa).

    Obrigado Aloísio por contar um pouco mais sobre meu avô.

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