segunda-feira, 18 de março de 2024

PÉ DE CHUMBO

 Texto de Aloisio Guimarães

O meu irmão Casé, já perto dos seus 60 anos, tinha um medo danado de avião e por isso mesmo nunca tinha voado. Como ele não conhecia São Paulo, aproveitei que eu sempre ia à capital paulista visitar minha filha, onde ela fazia Residência Médica, resolvi levar Casé comigo, nem que fosse amarrado. De uma tacada só, Casé viveu grandes emoções: andou de avião, conheceu São Paulo e assistiu a uma corrida de Fórmula 1, em Interlagos (no domingo, dia 15/11/2015). Só não foi possível assistir um jogo de futebol porque o calendário do campeonato brasileiro tinha sido alterado devido a um jogo da seleção brasileira pelas eliminatórias da Copa do Mundo.
Por conta disso tudo, me lembrei de um causo que dizem ter ocorrido muitos anos atrás...
Antes, porém, para quem não é acostumado à vida rural, fique sabendo que o nosso matuto, quando quer fazer o famoso “número dois”, ou dar a sua “cagadinha”, popularmente falando, ele simplesmente avisa: “Vô ali, no mato, vorto já”.
Isto posto, vamos ao acontecido:
Nos anos 60, José Miguel, mais conhecido como “Pé de chumbo”, era um matuto que morava em Lagoa do Félix, povoado situado entre Igaci e Arapiraca. Plantador de fumo, numa época em que o fumo dava dinheiro, ”Pé de Chumbo” jamais tinha se ausentado do estado, muito embora vivesse “nadando em dinheiro”. Hoje, como é proibido fumar em quase tudo que é lugar, quem planta fumo, está é “levando fumo”. E foi por ele nunca ter viajado, por nunca ter saído da sua pacata Lagoa do Félix, que botaram o apelido nele de “Pé de chumbo”: um sujeito difícil de sair do lugar, de se mover. 
Os amigos, que viam o tempo passar e “Pé de chumbo” sempre naquela mesmice da vida rural, sempre lhe aconselhavam:
- Pé de Chumbo, hômi, vá viajá. Vá conhecê o mundu! A vida é curta, hômi!
De tanto encherem o saco do cara, ele resolveu ouvir os conselhos dos amigos...
- Apôis bem, já qui ôces queri, vô viajá, mas vô logo butando prá derretê: vô di avião!
E assim foi feito. Malas prontas, “Pé de chumbo” se mandou para Maceió, pegar o “asa dura”, como o avião era apelidado antigamente, e se mandar para o Rio de Janeiro.
Acontece que antes de viajar, ele se empanturrou com o almoço gorduroso que Filomena, sua mulher, preparou. Tinha de tudo: de galinha de capoeira a costela de porco, assada na brasa, tudo "regado" a umas doses de cachaça.
Pois bem, logo nos primeiros minutos, tão logo o avião partiu do Aeroporto Zumbi dos Palmares, “Pé de Chumbo” começou a passar mal, com náuseas, querendo vomitar e com uma cólica da gota serena. Quando não mais aguentava de tanta cólica, ele sentiu que era a hora de “arriar o barro”. Desesperado, não aguentando mais segurar a onda, “Pé de Chumbo”, correu até a aeromoça e perguntou:
- Mulé, pur Nossa Sinhora, adondi pesti é o “mato” dessa disgraça?

Como a aeromoça não entendeu o que era "mato", não deu tempo: "Pé de Chumbo" fez o "serviço" nas calças mesmo!

sábado, 16 de março de 2024

O BARBEIRO DE IGREJA NOVA

 Texto de Aloisio Guimarães

Para quem não conhece o estado de Alagoas, Igreja Nova é uma cidade do interior alagoano, localizada entre a histórica cidade de Penedo, às margens do Rio São Francisco, o nosso "velho Chico", e a cidade de São Sebastião, antigo povoado Salomé, às margens do entroncamento Porto Real do Colégio/Penedo/Maceió/Arapiraca.
Como não poderia deixar de ser, Igreja Nova é uma cidade pequena, onde todo mundo conhece todo mundo e por isso mesmo a fofoca corre solta, principalmente em época eleitoral. Além disso, claro, Igreja Nova Como tem uma característica comum a toda cidadezinha do interior do Brasil: quem quiser saber "quem é quem" na cidade, é só ficar "marcando ponto" na barbearia local porque é lá que toda a verdade aparece. Assim, durante década de 70, a barbearia "A Tesoura de Ouro", de propriedade do Robertinho, foi a fonte de informação dos fofoqueiros de Igreja Nova. Quem quisesse saber da vida dos outros, era só dar uma chegadinha por lá e perguntar:
- E aí, Robertinho, quais são as novas?
Pronto! Era um prato cheio para o Robertinho rasgar o verbo, falando mal de todo mundo, metendo o pau em Deus e no diabo. Muita gente boa da cidade detestava o barbeiro, com um medo desgraçado da língua ferina do Robertinho.
Contam que, certo dia, em virtude das economias que fez durante os muitos anos que viveu cortando cabelo e barba, Robertinho, mesmo sendo uma "munheca de pau" (como é popularmente chamado quem não sabe dirigir direito), conseguiu comprar um fusquinha 63 que, de tão velho, já estava "queimando óleo" (quase batendo o motor).
Feliz com o seu carrinho, mas metido a besta, no primeiro final de semana, Robertinho chamou a sua esposa, a Maria José, mais conhecida com o Zefinha, e avisou:
- Mulé, ajunta as coisas aí, que vamu prá capitá.  Hoji, ocê vai cunhecê o má!
Imediatamente, Zefinha, toda ansiosa, pois nunca tinha visto o mar, atendeu às ordens do marido, mas sugeriu:
- Mô, a cumadi Quitera podi ir cum a gente? Ela é estudada e já conhece a capitá do estado e o má...
Robertinho, não gostou muito da ideia porque a sua comadre Quitéria, depois dele, era considerada a maior fofoqueira da cidade. Mas, mesmo reticente, ele atendeu ao apelo da esposa. Tão logo arrumaram as malas, se mandaram para Maceió...
Assim que o fusquinha do Robertinho chegou no Mirante do Gunga (famosa praia alagoana - cartão postal do estado), Zefinha, vendo aquela imensidão verde da maravilhosa cor do mar alagoano, disparou:
- Vixe, Betinhu, quantu capim, hômi!
Nesse momento, Robertinho, dando uma de profundo conhecedor do mundo, ensinou:
- Num é capim não, minha fia, é o má... Muitu cuidadu, prumode qui ele é sargado!
Ao ouvir a ignorância da comadre Zefinha, mulher do Robertinho, a Quitéria já estava "gozando por dentro", doida para voltar para Igreja Nova e espalhar a nova fofoca...
Minutos depois, já no viaduto que fica em frente ao antigo DETRAN, Robertinho, maravilhado com a visão da Praia do Sobral e da Praia da Avenida da Paz, se distraiu e deu um trancão em um carro que vinha ao seu lado:
- Barbeiro! - xingaram diversas vezes os ocupantes do outro carro.
Quanto mais o chamavam de "barbeiro" (um mau motorista), Robertinho ficava orgulhoso. Nisso, vira-se para a Quitéria e comenta:
- Tá venu, cumadi Quitéra? Eu tamém sô cunhicidu aqui na capitá...
- Tô vendo compadre, você é mesmo conhecido... - respondeu, com ironia, a Quitéria.
Mais adiante, quando chegaram no semáforo da Ponte do Riacho Salgadinho, Robertinho "furou" o sinal vermelho, quase provocando uma colisão. Zangado, o motorista do  outro carro, gritou:
- Corno!
Nesse momento, foi a vez da Zefinha, a mulher do Robertinho, com voz nervosa, perguntar:
- Betinhu, meu fio, né mió nois vortá logo pra casa?
Ao ouvir o que a Zefinha perguntou, Robertinho nada comentou, deu meia volta no carro e voltaram para Igreja Nova, tudo sob o riso matreiro da fofoqueira Quitéria, que logo entendeu o medo da sua comadre Zefinha.
E assim, desse dia em diante, o barbeiro Robertinho nunca mais falou mal de ninguém, principalmente da comadre Quitéria...

quarta-feira, 13 de março de 2024

O PODER DO PAPEL HIGIÊNICO

 POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Terminado meu banho, lá estou eu na frente do espelho, comentando com meu marido que acho meus seios pequenos demais em comparação com a minha bunda grande.
Ao invés do esperado “imagina, não são não”, ou de uma promessa de cirurgia para aplicação de silicone, ele me vem com uma sugestão insólita:
- Pode parecer estranho, mas eu já vi funcionar... Se quiser aumentar seus seios, pegue todos os dias um pedaço de papel higiênico e esfregue-o entre eles durante alguns segundos.
Aquilo parecia uma brincadeira sem graça, ou uma simpatia sem qualquer fundamento científico, ainda mais para mim... Mas, disposta a tentar qualquer coisa, pego um pedaço de papel higiênico, fico na frente do espelho e começo a esfregá-lo entre meus seios para ver o resultado da estranha dica!
- Quanto tempo demora para funcionar? - eu pergunto.
 - Claro que não é um negócio automático, bem... Eles vão aumentar de tamanho ao longo de alguns anos - responde meu marido.
Parei e, meio que me sentindo idiota, perguntei:
 - Você realmente acha que esfregar um pedaço de papel higiênico entre meus seios todos os dias vai fazer aumentá-los em alguns anos?
Sem hesitar um segundo e às gargalhadas me sacaneando, ele diz:
- Funcionou com a sua bunda, não funcionou???