quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

FLIZ ANVERS

Texto de Renato Holz

Minha filha completou quinze anos e organizamos a festa em um salão para que convidasse todos os seus amigos.
Nessa noite, à medida que iam chegando, se acomodavam no lugar designado e em seguida abriam seus celulares e começavam a conversar, por meio de mensagens de texto, ou a jogar com esses aparatos maravilhosos, entre mensagens e mensagens.
Era muito comovente vê-los concentrados, cada um na tela de seus sóbrios e negros aparatos, como especificava o convite: “Esporte elegante e celulares negros”.
Que grandes estão todos! E pensar que os conheço desde que falavam entre eles. Todavia me recordo da voz deles. Alguns não acreditam que quando eram crianças falavam e se olhavam nos olhos.
Eu não os corrigia, é claro... “Já vão crescer e vão aprender sozinhos a não falar”, pensava.
Quando chegou o momento do baile, cada um conectou os auriculares ao seu celular, escolheu a lista de músicas que mais gostava e entrou na pista de dança. Dava a sensação de que todos estavam bailando ao som da mesma música.
A entrada de minha filha foi apoteótica, exultante de emoção. Seus amigos se desesperavam por serem os primeiros em fazer-lhe chegar seu texto de felicitações, movendo a toda velocidade seus dedos. Alguns, os mais precavidos, já tinham a mensagem preparada e o único que deviam fazer era apertar “ok”.
O telefone de minha filha não parava de vibrar e como era impossível lê-los todos, guardou alguns para mais tarde.
Aproximei-me dela e, sem me dar conta, lhe disse:
- Feliz aniversário, filhinha.
Ela me olhou horrorizada e se afastou de mim. Preocupado, fui atrás dela e lhe perguntei se lhe passava algo, se havia feito algo que a incomodara. Tomou o celular e me mandou uma mensagem de texto:
- Qres m envrgonr frnte ms amgs? Fçme o fvor, pra q exst os tlfnes?
Não tive mais remédio que abrir o meu celular e mandar-lhe as minhas felicitações.
- Prdao. Fliz anvers, filnha. T am. Papa.
Foi um aniversário perfeito!
Como passa o tempo e que "velho" estou.
Pensar que quase lhe dou um beijo...

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

ALMAS IMPREVISÍVEIS

Texto de Carlito Lima

- Neguinha, tenha certeza, isso é mulher nova, bonita e carinhosa, só você não quer enxergar, procure um detetive, disse em tom de mofa Alzirinha.
Marlene ao ouvir a amiga deu vontade de chorar, a raiva tomou conta de sua alma; não queria acreditar  nas  suspeitas, a opinião da melhor amiga deu-lhe quase certeza, Eurico lhe traía, há mais de quatro meses não fazia amor. Precisava ter calma, muita calma, despediu-se de Alzirinha, saiu da pizzaria, no estacionamento a cabeça rodava, pensava não ser ciumenta, entretanto, o ciúme penetrou em suas entranhas, em sua mente.
Eram quatro da tarde, sentou-se na confortável cadeira na varanda do apartamento, a vista encantadora da praia de Pajuçara, coqueiros e o azul-esverdeado do mar deu-lhe  volta a tranquilidade, pensava como agir, ficou matutando até às oito da noite quando  Euricão chegou do trabalho.
Depois do jantar, ela pediu uma conversa, foram à varanda, Marlene perguntou na bucha:
- Eurico, já não somos crianças, temos filhos bem encaminhados, exijo sinceridade. Existe outra mulher em sua vida?
O marido levou um susto com a pergunta tempestiva. Suspirou para responder.
- O que é isso Marlene? Por que você botou essa história na cabeça?
- Estou perguntando tem ou não tem alguma mulher?
- Claro que não meu amor, para que preciso de uma amante? Tenho você, companheira por mais de trinta anos.
Eurico se achegou, acariciou o rosto da mulher, beijou-lhe a face, a boca, iniciou algumas carícias pelas costas descendo até levá-la à cama, uma noite de amor como nunca mais havia acontecido.
Marlene não perdeu a desconfiança, contratou o detetive Audálio no Edifício Breda, centro da cidade, diária, R$ 100,00. Quinze dias de investigação, Marlene retornou  ao escritório, ao ver as fotografias de Eurico entrando no motel, desabou a chorar, a raiva aumentou ao perceber um detalhe, a acompanhante era Silvinha, secretária de total confiança, esposa de seu primo Edmundo. Marlene, sufocada pela dor do ciúme, desceu pelo elevador, foi à Casa do Esporte, comprou  um chicote de equitação. Dirigindo o carro rumou  ao escritório da construtora no bairro do Tabuleiro.
Foi entrando com o chicote na mão, perguntando pela Silvinha. “Cadê Silvinha?” gritava. Ao ver a loura, bonita, 26 aninhos,  deu-lhe uma chicotada na cara, continuou a surra, gritando para todos ouvirem, "Rapariga, filha de uma égua..."  Um funcionário teve a coragem de tomar o chicote abraçando Marlene, acalmou-a  falando baixo, conseguiu tirá-la do local. Levou-a para casa em seu carro. Deixou a mulher do patrão no apartamento, retornou de ônibus.
Eurico foi chamado  com urgência ao escritório. O que mais doía em Silvinha não eram os edemas das chicotadas, era o marido saber da traição, acabar o casamento de cinco anos, uma filhinha de três, ao pensar na família desandava a chorar.
Eurico não teve coragem de ir ao apartamento àquela hora, telefonou para Alzirinha, pediu para acalmar a mulher.  Retornou à casa ao anoitecer, ao chegar no  edifício suas malas estavam na portaria, em um envelope pardo um bilhete. "Nem ouse subir".
O fato se deu exatamente ha um ano. Hoje Marlene vive em busca do tempo perdido, é a coroa mais charmosa e assídua nos bares da boemia. Eurico  fez tudo para voltar, ela nem quer vê-lo. E quanto a Silvinha, o maridão depois de algum tempo perdoou, vivem na maior felicidade. Imprevisível a alma de um corno ou de uma corna.
 

domingo, 27 de dezembro de 2015

PÉ NA ESTRADA

Texto de Aloisio Guimarães
(FONTE: SITE DNIT)
Estamos acostumados a viajar de automóvel, pelo Brasil afora, trafegando nas diversas rodovias federais. Você sabe como é feita a denominação (nomenclatura) das rodovias federais no Brasil?  Se não sabe, agora vai aprender. Todas as rodovias federais do país têm a sua nomenclatura definida pela sigla BR, seguida por três algarismos: o primeiro algarismo indica a categoria da rodovia e os dois outros algarismos definem a posição, a partir da orientação geral da rodovia, com relação a Brasília e aos limites do País. Para não confundir, uma vez que outros parâmetros também influenciam nas denominações das rodovias, de modo simplista, o que acontece é o seguinte:
• RODOVIAS RADIAIS
São aquelas rodovias que partem de Brasília em direção aos extremos do país.  
A nomenclatura delas começa com o algarismo 0 (zero): BR-040, BR-070...
O sentido da contagem de quilometragem começa no Anel Rodoviário de Brasília e vai em direção aos extremos do país. O quilometro zero de cada estado do país é fixado no ponto da rodovia mais próximo à capital federal.
• RODOVIAS LONGITUDINAIS
São todas aquelas rodovias que cortam o nosso país na direção Norte-Sul.
A nomenclatura sempre começa com o algarismo 1: BR-101, BR-173...
O sentido da quilometragem vai do norte para o sul. As únicas exceções deste caso são as BR-163 e BR-174, que tem o sentido de quilometragem contado do sul para o norte.
• RODOVIAS TRANSVERSAIS
São aquelas rodovias que cortam o país na direção Leste-Oeste. 
A nomenclatura é iniciada com o algarismo 2: BR-230, BR-262...
O sentido da contagem da quilometragem vai do leste para o oeste.
• RODOVIAS DIAGONAIS
São aquelas rodovias que apresentam uma das duas situações abaixo:
1. DIAGONAIS ORIENTADAS NA DIREÇÃO NE-SO
A nomenclatura começa com o algarismo 3 e o seu último algarismo é um sempre número ímpar: BR-319, BR-365...
2. DIAGONAIS ORIENTADAS NA DIREÇÃO NO-SE
A nomenclatura começa com o algarismo 3 e o seu último algarismo é sempre um número par: BR-316, BR-364...
A quilometragem das rodovias em diagonais se inicia no seu ponto mais ao norte em direção ao ponto mais ao sul. Exceções: BR-307, BR-364 e BR-392.
RODOVIAS DE LIGAÇÃO
São as rodovias que se dirigem em qualquer direção, geralmente ligando rodovias federais, ligando uma rodovia federal a cidades ou pontos importantes ou ainda a nossas fronteiras internacionais. 
A nomenclatura delas começa com o algarismo 4: BR-401 (liga Boa Vista à fronteira com a Guiana), BR-288 (liga a BR-116 ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida).
A contagem da quilometragem começa no ponto mais ao norte da rodovia em direção para o ponto mais ao sul. No caso de ligação entre duas rodovias federais, a quilometragem começa na rodovia de maior importância.
SUPERPOSIÇÃO DE RODOVIAS
Nos casos de superposições de duas ou mais rodovias, usualmente, é adotado o número da rodovia que tem maior importância (normalmente a de maior volume de tráfego), mas, atualmente, já se adota como rodovia representativa do trecho superposto a rodovia de menor número, tendo em vista a operacionalidade dos sistemas computadorizados.
- Agora você já pode viajar com segurança e sabedoria.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

BILAU PEQUENO

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Esse caso é antigo, mas interessante: Karla Dias Baptista, 26 anos, advogada, residente no município de Porto Grande, no Amapá, decidiu processar seu ex-marido por uma questão até então inusitada na jurisprudência nacional. Ela processa Antonio Chagas Dolores, comerciante de 53 anos, por "insignificância peniana".
Embora seja inédito no Brasil, os processos por insignificância peniana são bastante frequentes nos Estados Unidos e Canadá. Esta moléstia é caracterizada por pênis que em estado de ereção não atingem oito centímetros. A literatura médica afirma que esta reduzida envergadura inibe drasticamente a libido feminina interferindo de forma impactante na construção do desejo sexual.
O casal viveu por dois anos uma relação de namoro e noivado e durante este tempo não desenvolveu relacionamento sexual de nenhuma espécie em função da "convicção religiosa" de Antonio Chagas. Karla hoje o acusa de ter usado a "motivação religiosa" para esconder seu problema crônico. Em depoimento à imprensa, a denunciante disse que “- Se eu tivesse visto antes o tamanho do 'problema' eu jamais teria me casado com um pouco dotado”.
A legislação brasileira considera erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge quando existe a “ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave”. E justamente partindo desta premissa que a advogada pleiteia agora a anulação do casamento e uma indenização de R$ 200.000,00 pelos dois anos de namoro e 11 meses de casamento.
Antonio, que agora é conhecido na região como "Toninho Anaconda", afirma que a repercussão do caso gerou graves prejuízos para sua honra e também quer reparação na justiça por ter tido sua intimidade revelada publicamente.
E ela, ainda para piorar a situação, deu entrada no processo no Juizado de Pequenas Causas!

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A CARTA

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES


terça-feira, 8 de dezembro de 2015

CAÍ NO MUNDO E NÃO SEI COMO VOLTAR

Texto de Eduardo Galeano
 JORNALISTA URUGUAIO

O que acontece comigo é que não consigo andar pelo mundo pegando coisas e trocando-as pelo modelo seguinte só por que alguém adicionou uma nova função ou a diminuiu um pouco.
Não faz muito, com minha mulher, lavávamos as fraldas dos filhos, pendurávamos na corda junto com outras roupinhas, passávamos, dobrávamos e as preparávamos para que voltassem a serem sujadas. E eles, nossos nenês, apenas cresceram e tiveram seus próprios filhos se encarregaram de atirar tudo fora, incluindo as fraldas. Se entregaram, inescrupulosamente, às descartáveis!
Sim, já sei. À nossa geração sempre foi difícil jogar fora. Nem os defeituosos conseguíamos descartar! E, assim, andamos pelas ruas, guardando o muco no lenço de tecido, de bolso. Não, eu não digo que isto era melhor. O que digo é que, em algum momento, me distraí, caí do mundo e, agora, não sei por onde se volta. O mais provável é que o de agora esteja bem, isto não discuto. O que acontece é que não consigo trocar os instrumentos musicais uma vez por ano, o celular a cada três meses ou o monitor do computador por todas as novidades. Guardo os copos descartáveis! Lavo as luvas de látex que eram para usar uma só vez. Os talheres de plástico convivem com os de aço inoxidável na gaveta dos talheres. É que venho de um tempo em que as coisas eram compradas para toda a vida! E mais: se comprava para a vida dos que vinham depois. A gente herdava relógios de parede, jogos de copas, vasilhas e até bacias de louça. E acontece que em nosso, nem tão longo matrimônio, tivemos mais cozinhas do que as que haviam em todo o bairro em minha infância, e trocamos de refrigerador
Nos estão incomodando! Eu descobri! Fazem de propósito! Tudo se lasca, se gasta, se oxida, se quebra ou se consome em pouco tempo para que possamos trocar. Nada se arruma. O obsoleto é de fábrica.
- Aonde estão os sapateiros fazendo meia-sola nos tênis Nike?
- Alguém viu algum colchoeiro encordoando colchões, casa por casa?
- Quem arruma as facas elétricas? O afiador ou o eletricista?
- Haverá teflon para os funileiros ou assentos de aviões para os talabarteiros?
Tudo se joga fora, tudo se descarta e, entretanto, produzimos mais e mais e mais lixo. Outro dia, li que se produziu mais lixo nos últimos 40 anos que em toda a história da humanidade.
Quem tem menos de 30 anos não vai acreditar: quando eu era pequeno, pela minha casa não passava o caminhão que recolhe o lixo. Eu juro! E tenho menos de ... anos! Todos os descartáveis eram orgânicos e iam parar no galinheiro, aos patos ou aos coelhos (e não estou falando do século XVII). Não existia o plástico, nem o nylon. A borracha, só a víamos nas rodas dos autos e, as que não estavam rodando, as queimávamos na Festa de São João. Os poucos descartáveis que não eram comidos pelos animais, serviam de adubo ou se queimava. Desse tempo venho eu.  E não que tenha sido melhor, é que não é fácil para uma pobre pessoa, que educaram com "guarde e guarde que alguma vez pode servir para alguma coisa", mudar para o "compre e jogue fora que já vem um novo modelo". Troca-se de carro a cada 3 anos, no máximo, por que, caso contrário, és um pobretão. Ainda que o carro que tenhas esteja em bom estado e precisemos viver endividados, eternamente, para pagar o novo!
Por amor de Deus, minha cabeça não resiste tanto!
Agora, meus parentes e os filhos de meus amigos não só trocam de celular uma vez por semana, como, além disto, trocam o número, o endereço eletrônico e, até, o endereço real. E a mim que me prepararam para viver com o mesmo número, a mesma mulher e o mesmo nome (e vá que era um nome para trocar). Me educaram para guardar tudo: o que servia e o que não servia, porque, algum dia, as coisas poderiam voltar a servir.
Acreditávamos em tudo. Sim, já sei, tivemos um grande problema: nunca nos explicaram que coisas poderiam servir e que coisas não. E no afã de guardar (por que éramos de acreditar), guardávamos até o umbigo de nosso primeiro filho, o dente do segundo, os cadernos do jardim de infância e não sei como não guardamos o primeiro cocô.
- Como querem que entenda a essa gente que se descarta de seu celular a poucos meses de o comprar?
- Será que quando as coisas são conseguidas tão facilmente, não se valorizam e se tornam descartáveis com a mesma facilidade com que foram conseguidas?
Em casa tínhamos um móvel com quatro gavetas. A primeira gaveta era para as toalhas de mesa e os panos de prato, a segunda para os talheres e a terceira e a quarta para tudo o que não fosse toalha ou talheres. E guardávamos... Como guardávamos tudo! Guardávamos as tampinhas dos refrescos! Como? Para quê? Fazíamos limpadores de calçadas, para colocar diante da porta para tirar o barro; dobradas e enganchadas numa corda, se tornavam cortinas para os bares. Ao fim das aulas, lhes tirávamos a cortiça, as martelávamos e as pregávamos em uma tabuinha para fazer instrumentos para a festa de fim de ano da escola.
Guardávamos tudo...
Enquanto o mundo espremia o cérebro para inventar acendedores descartáveis ao término de seu tempo, inventávamos a recarga para acendedores descartáveis. E as Gillette, até partidas ao meio, se transformavam em apontadores por todo o tempo escolar. E nossas gavetas guardavam as chavezinhas das latas de sardinhas ou de corned-beef, na possibilidade de que alguma lata viesse sem sua chave. E as pilhas? As pilhas das primeiras Spica passavam do congelador ao telhado da casa, porque não sabíamos bem se devia dar calor ou frio para que durassem um pouco mais; não nos resignávamos que terminasse sua vida útil, não podíamos acreditar que algo vivesse menos que um jasmim.
As coisas não eram descartáveis. Eram guardáveis.
Os jornais serviam para tudo: para servir de forro para as botas de borracha, para por no piso nos dias de chuva e por sobre todas as coisas para enrolar. Às vezes sabíamos alguma notícia lendo o jornal tirado de um pedaço de carne! E guardávamos o papel de alumínio dos chocolates e dos cigarros para fazer guias de enfeites de natal, as páginas dos almanaques para fazer quadros, os conta-gotas dos remédios para algum medicamento que não o trouxesse, os fósforos usados por que podíamos acender uma boca de fogão (Volcán era a marca de um fogão que funcionava com gás de querosene) desde outra que estivesse acesa, as caixas de sapatos se transformavam nos primeiros álbuns de fotos e os baralhos se reutilizavam, mesmo que faltasse alguma carta, com a inscrição a mão em um valete de espada que dizia "esta é um 4 de copas". As gavetas guardavam pedaços esquerdos de prendedores de roupa e o ganchinho de metal. Ao tempo esperavam somente pedaços direitos que esperavam a sua outra metade, para voltar outra vez a ser um prendedor completo.
Eu sei o que nos acontecia: nos custava muito declarar a morte de nossos objetos. Assim como hoje as novas gerações decidem matá-los, tão logo aparentem deixar de ser úteis, aqueles tempos eram de não se declarar nada morto: nem a Walt Disney!
E quando nos venderam sorvetes em copinhos, cuja tampa se convertia em base, e nos disseram: "comam o sorvete e depois joguem o copinho fora", nós dizíamos que sim, mas os colocávamos na estante dos copos e das taças. As latas de ervilhas e de pêssegos se transformavam em vasos e até telefones. As primeiras garrafas de plástico se transformaram em enfeites de duvidosa beleza. As caixas de ovos se converteram em depósitos de aquarelas, as tampas de garrafões em cinzeiros, as primeiras latas de cerveja em porta-lápis e as cortiças esperaram encontrar-se com uma garrafa.
E me mordo para não fazer um paralelo entre os valores que se descartam e os que preservávamos. Ah, não vou fazer...
Morro por dizer que hoje não só os eletrodomésticos são descartáveis: também o matrimônio e até a amizade são descartáveis. Mas não cometerei a imprudência de comparar objetos com pessoas.
Me mordo para não falar da identidade que se vai perdendo, da memória coletiva que se vai descartando, do passado efêmero. Não vou fazer, não vou misturar os temas, não vou dizer que ao eterno tornaram caduco e ao caduco fizeram eterno.

domingo, 6 de dezembro de 2015

A NOSSA LAMA

Texto de Rubens Mário
  PROFESSOR E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

Há alguns dias a sociedade brasileira foi sacudida pelo maior desastre ambiental de todos os tempos no Brasil. Estamos nos referindo ao inescrupuloso rompimento de uma das barragens da mineradora Samarco que armazenava em seu bojo rejeitos com altas concentrações de alumínio, ferro, e manganês, dentre outros componentes químicos altamente prejudiciais à vida de todos os seres vivos. Algumas multas foram anunciadas pelo governo, mas, paralela a punição dos responsáveis pela mineradora, dever-se-ia penalizar, também, as autoridades que aprovaram a instalação daquelas barragens naquele local! Será que, isentos de quaisquer subterfúgios politiqueiros, não seria trivial se imaginar que o rompimento futuro daquelas barragens seria uma coisa possível? Até quando, o dinheiro continuará sendo o “senhor da razão”? Essa última indagação deveria servir de alerta para toda sociedade brasileira, incluindo aqueles que comandam os nossos setores mais vitais.
A “anunciada” ruptura da represa liberou uma avalanche de lama tóxica; a palavra lama que possui diversas conotações na nossa, secundária, língua portuguesa, e que já vinha sendo bastante pronunciada nos nossos noticiários jornalísticos, se referindo aos roubos e canalhices dos nossos políticos, continuou sendo explorada pela mídia mostrando-a agora na sua forma literal – mistura de água com argila e os elementos químicos já citados acima. O composto que se transformou na lama tóxica e foi rapidamente misturada às águas dos rios e lagos da região, além do oceano, causou danos irreparáveis e irreversíveis à natureza e a toda espécie de vida que alimentava as populações circunvizinhas.
Infelizmente, a ausência de iniciativas sérias, desvinculadas de conchavos e hipocrisias políticos, tem causado prejuízos sociais, infinitamente superiores aos frágeis benefícios econômicos que, na verdade, só servem para aumentar a segregação entre ricos e pobres num país já eivado de inexplicáveis desigualdades sociais e econômicas.
O caso da mineradora Samarco que atua em conluio com a ex estatal, vale do rio doce, gerava lucros exorbitantes para os seus proprietários, em detrimento de parcos benefícios econômicos para a região e os seus trabalhadores, até o trágico desenlace.
Esse fatídico acontecimento que dizimou a vida de um rio e seus afluentes lá nos estados de Minas Gerais e Espirito Santo, deveria servir de mote para a nossa sociedade organizada, mormente, as entidades responsáveis pelo meio ambiente, e, assim, provocar uma luta, sem tréguas, para ainda tentar salvar as nossas arquejantes, Lagoas Mundaú e Manguaba. No caso da nossa Lagoa Mundaú, ao contrário do Rio doce, ela tem sido trucidada, paulatinamente, por uma outra espécie de lama, composta, essencialmente, por coliformes fecais, ou, uma lama de fezes e urinas, que é despejada diariamente, pela população residente no seu entorno. Na parte da Lagoa Mundaú que banha os bairros do Vergel do Lago e Trapiche da Barra, que deveria servir de fonte de alimento e belo cartão postal, não é mais possível se enxergar as suas margens, pois, ela foi, vergonhosamente, ocupada por barracos que servem de moradias para as famílias vítimas do holocausto social, maquiavelicamente, perpetrado pelo governo. Naquelas comunidades improvisadas, onde a vidas surgem por acaso, o índice de criminalidade é assustador, e, seres humanos são assassinados diariamente, na mesma proporção da vida animal, que, de forma doentia, ainda tenta sobreviver, bravamente, nas águas fétidas e poluídas daquele complexo lagunar.
Ao contrário da lama do rio doce, a nossa, ainda é possível de ser estancada.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

A MINHA MULHER NÃO TRABALHA

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Conversa entre um marido e um psicólogo:
- O que você faz da vida Sr. Bandy?
- Eu trabalho como contador em um banco.
- Sua esposa?
- Ela não trabalha. Ela é apenas uma dona de casa.
- Quem faz café da manhã para sua família na parte da manhã?
- A minha esposa, porque ela não trabalha.
- Em que momento é que a sua esposa acorda para fazer o café da manhã?
- Ela acorda por volta das 05:00 porque ela limpa a casa antes de tomar café da manhã.
- Como é que os seus filhos vão à escola?
- Minha esposa leva-los para à escola, porque ela não trabalha.
- Depois de levar seus filhos para a escola, o que ela faz?
- Ela vai para o mercado, em seguida, volta para casa para cozinhar e para lavanderia. Você sabe, ela não trabalha.
- À noite, depois de voltar para casa do escritório, o que você faz?
- Descanso, porque eu estou cansado após o trabalho.
- O que a sua esposa fazer então?
- Ela prepara as refeições, serve os nossos filhos, prepara refeições para mim e limpa a louça, limpa a casa, em seguida, leva as crianças para a cama.
Alguém perguntou uma mulher:
- Você é uma “mulher que trabalha” ou uma “dona de casa”?
Ela respondeu:
- Sim, eu sou um ”tempo inteiro”. Trabalho como esposa do lar. Eu trabalho 24 horas por dia: sou "mãe", mulher, filha, despertador, cozinheira, empregada doméstica, professora, garçonete, babá, enfermeira, uma trabalhadora braçal, agente de segurança, conselheira, sou um edredom... Eu não tenho feriados, não tenho licença por doença e não tenho dia de folga. Eu trabalho dia e noite. Estou de plantão todas as horas e sou paga com uma frase: "O que você faz todos os dias?".
A rotina diária da mulher começa de manhã cedo até tarde da noite. Isso é chamado de “não trabalha”? Ser “dona de casa” não precisa de Certificado de Estudo, mas seu papel é muito importante! Desfrute de suas esposas, porque os seus sacrifícios são incontáveis
Mulher é como sal: a sua presença nunca é lembrada, mas a sua ausência faz todas as coisas ficarem sem sabor.