terça-feira, 29 de dezembro de 2015

ALMAS IMPREVISÍVEIS

Texto de Carlito Lima

- Neguinha, tenha certeza, isso é mulher nova, bonita e carinhosa, só você não quer enxergar, procure um detetive, disse em tom de mofa Alzirinha.
Marlene ao ouvir a amiga deu vontade de chorar, a raiva tomou conta de sua alma; não queria acreditar  nas  suspeitas, a opinião da melhor amiga deu-lhe quase certeza, Eurico lhe traía, há mais de quatro meses não fazia amor. Precisava ter calma, muita calma, despediu-se de Alzirinha, saiu da pizzaria, no estacionamento a cabeça rodava, pensava não ser ciumenta, entretanto, o ciúme penetrou em suas entranhas, em sua mente.
Eram quatro da tarde, sentou-se na confortável cadeira na varanda do apartamento, a vista encantadora da praia de Pajuçara, coqueiros e o azul-esverdeado do mar deu-lhe  volta a tranquilidade, pensava como agir, ficou matutando até às oito da noite quando  Euricão chegou do trabalho.
Depois do jantar, ela pediu uma conversa, foram à varanda, Marlene perguntou na bucha:
- Eurico, já não somos crianças, temos filhos bem encaminhados, exijo sinceridade. Existe outra mulher em sua vida?
O marido levou um susto com a pergunta tempestiva. Suspirou para responder.
- O que é isso Marlene? Por que você botou essa história na cabeça?
- Estou perguntando tem ou não tem alguma mulher?
- Claro que não meu amor, para que preciso de uma amante? Tenho você, companheira por mais de trinta anos.
Eurico se achegou, acariciou o rosto da mulher, beijou-lhe a face, a boca, iniciou algumas carícias pelas costas descendo até levá-la à cama, uma noite de amor como nunca mais havia acontecido.
Marlene não perdeu a desconfiança, contratou o detetive Audálio no Edifício Breda, centro da cidade, diária, R$ 100,00. Quinze dias de investigação, Marlene retornou  ao escritório, ao ver as fotografias de Eurico entrando no motel, desabou a chorar, a raiva aumentou ao perceber um detalhe, a acompanhante era Silvinha, secretária de total confiança, esposa de seu primo Edmundo. Marlene, sufocada pela dor do ciúme, desceu pelo elevador, foi à Casa do Esporte, comprou  um chicote de equitação. Dirigindo o carro rumou  ao escritório da construtora no bairro do Tabuleiro.
Foi entrando com o chicote na mão, perguntando pela Silvinha. “Cadê Silvinha?” gritava. Ao ver a loura, bonita, 26 aninhos,  deu-lhe uma chicotada na cara, continuou a surra, gritando para todos ouvirem, "Rapariga, filha de uma égua..."  Um funcionário teve a coragem de tomar o chicote abraçando Marlene, acalmou-a  falando baixo, conseguiu tirá-la do local. Levou-a para casa em seu carro. Deixou a mulher do patrão no apartamento, retornou de ônibus.
Eurico foi chamado  com urgência ao escritório. O que mais doía em Silvinha não eram os edemas das chicotadas, era o marido saber da traição, acabar o casamento de cinco anos, uma filhinha de três, ao pensar na família desandava a chorar.
Eurico não teve coragem de ir ao apartamento àquela hora, telefonou para Alzirinha, pediu para acalmar a mulher.  Retornou à casa ao anoitecer, ao chegar no  edifício suas malas estavam na portaria, em um envelope pardo um bilhete. "Nem ouse subir".
O fato se deu exatamente ha um ano. Hoje Marlene vive em busca do tempo perdido, é a coroa mais charmosa e assídua nos bares da boemia. Eurico  fez tudo para voltar, ela nem quer vê-lo. E quanto a Silvinha, o maridão depois de algum tempo perdoou, vivem na maior felicidade. Imprevisível a alma de um corno ou de uma corna.
 

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