quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

SEGREDO JURAMENTADO

Texto de Carlito Lima

“Recordando essas coisas tão boas, sou feliz, não me sinto tão só; toda gente que sai de Alagoas, o coração deixa em Maceió”.
Feito a canção do mineiro, aconteceu com o catarinense Fagundes. Voltou depois de mais de 40 anos. Fui visitá-lo no hotel, hospedado com a esposa e três netos, veio rever a inesquecível cidade, deixou o coração em Maceió. Passamos a tarde tomando cerveja embaixo dos coqueirais. Recordamos bons tempos, boas histórias dos anos dourados.
Fagundes chegou em Alagoas final dos anos 60, gerente de um forte banco. Alto, louro, educado, bom moço, fez sucesso com as meninas da cidade. Em Santa Catarina jogava voleibol por um clube, facilitou ser convidado para equipe do CRB. Solteiro, morava no Hotel Atlântico na Avenida da Paz, perto do centro e da boemia de Jaraguá.
A hospitalidade dos alagoanos deixou Fagundes à vontade. Entrosou-se com os viventes da cidade. Simpático, envolvente, logo conhecia as figuras carimbadas. Naquela época empréstimo financeiro negociava-se nas poltronas com gerente de bancos. Fagundes era convidado para aniversários, casamentos, assíduo frequentador do Zinga-Bar de Riacho Doce, e dos cabarés. Apaixonou-se pelo litoral nordestino, embora Santa Catarina seja bem aquinhoada de belas praias, encantou-lhe os coqueirais embelezando as praias. Fagundes trabalhou três anos em Maceió, divertiu-se, fez muitos amigos, um dia teve que seguir destino.
Dois de seus amigos alagoanos ficaram no coração e na memória do catarinense: Betão jornalista famoso e Eduardo assessor de um conhecido deputado. Boêmios da melhor qualidade, gostaram do "Catarina", convidavam para festas de fim-de-semana. Os dois eram casados, entretanto, viviam como solteiros fossem.
Certa noite de sexta-feira levaram Fagundes ao aniversário de Benedito Bentes, conhecido empresário, homem de sociedade, esportista, cogitado várias vezes ao governo do Estado, enfim um dos grandes alagoanos da época. A casa de Benedito Bentes ficava no início da Avenida Fernandes Lima. Casa solta, avarandada, um belo jardim, quintal enorme, onde nós jogávamos bola. Bentes, festeiro inveterado, gostava de receber amigos, artistas. O dia de seu aniversário tornou-se tradição, não precisava convite, os amigos levavam mais convidados. Benedito Bentes morreu cedo, 56 anos, tornou-se figura lendária, hoje é nome de bairro em Maceió.
Fagundes, adorando a festa, muitos amigos, muitos clientes do banco, divertindo-se naquele animado aniversário. Quase ao término da festa, Betão e Eduardo convidaram o amigo, estavam saindo para outro aniversário, no mesmo dia, outro Benedito, o Benedito Alves dos Santos, o popular Mossoró, dono da noite de Maceió. Ao chegarem na Boate Areia Branca, os três foram recebidos pelo aniversariante em uma vasta mesa com amigos e belas damas.
Betão e Eduardo, irreverentes boêmios, foram catando as melhores meninas desacompanhadas, quando completaram quatro raparigas puro sangue, Betão pediu a Mossoró um apartamento para os amigos e as meninas. Estavam a fim de um "menàge à sept" para mostrar ao catarinense o vigor sexual dos alagoanos. Mossoró devia um grande favor a Betão, certa vez ele escreveu uma matéria defendendo a permanência da boate do Mossoró, contribuiu para o cabaré continuar aberto.
Em pouco tempo apareceu Roberto, filho do Mossoró, o apartamento estava pronto. Era o de uso particular do proprietário, onde ele dormia nas noites que não voltava para casa da Ponta Verde.
Fagundes ficou nervoso, tímido para esses arroubos sexuais, jamais havia participado de uma suruba. Quando de repente na maior algazarra entraram no apartamento especial, uma dama veio lhe fazer carinho, empurrou-o na cama. Ele constrangido, nunca tinha visto aquelas cenas dantesca, pernas se cruzando. Quase uma hora de agonia, não conseguiu. No final os amigos consolaram, a brochada era natural, etc...
Na volta, dentro do carro, Fagundes pediu segredo a Eduardo e Betão, a história do incidente ficasse entre eles, se os amigos soubessem iriam gozá-lo durante muito tempo. Os dois juramentaram segredo. Por eles jamais saberiam.
Na segunda-feira pela manhã ao entrar no banco, Fagundes sentiu alguns olhares irônicos dos funcionários, risinhos e sorrisos abertos dos amigos, por mais de uma hora, ele desconfiou, havia alguma coisa no ar. Até que um colega mais íntimo contou, a notícia se espalhou pela manhã, todos sabiam da pifada de Fagundes na Boate Areia Branca. Já no domingo a notícia corria pelos bares, pelas barracas, pela praia, pelos clubes; toda cidade sabia: Fagundes, o gerente do Banco, brochou.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

TODO CUIDADO É POUCO

Texto de Luiz F Veríssimo 

Outro dia estava no mercado, quando vi, no corredor, um amigo da época da escola, que não encontrava há séculos.
Feliz com o reencontro, me aproximei, já falando alto:
- Oswaldo, sua bichona, quanto tempo!
E fui com a mão estendida para cumprimentá-lo... Percebi que o Oswaldo me reconheceu, mas, antes mesmo que pudesse chegar perto dele, só vi o meu braço sendo algemado.
- Você vai pra delegacia! – Disse o policial que costuma frequentar o mercado.
Eu sem entender nada perguntei:
- Mas o que é que eu fiz?
- Homofobia! Bichona é pejorativo; o correto seria chamá-lo de "grande homossexual".
Nessa hora, antes mesmo de eu me defender, o Oswaldo interferiu tentando argumentar:
- Que isso, doutor? O “Quatro-olhos” aí é meu amigo antigo de escola; a gente se chama assim na camaradagem mesmo!
- Ah, então você estudou vários anos com ele e sempre se trataram assim?
- Isso, doutor, é coisa de criança!
E nessa hora o policial já emendou a outra ponta da algema no Oswaldo:
- Então você tá detido também.
Aí foi minha vez de intervir:
- Mas meu Deus, o que foi que ele fez?
- Bullying! Te chamando de “Quatro-olhos” , por vários anos, durante a escola.
Oswaldo então se desesperou:
- Que é isso, seu policial? A gente é amigo de infância! Tem amigo que eu não perdi o contato até hoje. Vim aqui, comprar umas carnes prum churrasco, com outro camarada que pode confirmar tudo!
E nessa hora eu vi o Jairzinho “Pé-de-pato” chegando perto da gente, com 2 quilos de alcatra na mão. Eu, já vendo o circo armado, nem mencionei o “Pé-de-pato” pra não piorar as coisas. Mas ele, sem entender nada, ao ver o Oswaldo algemado, já chegou falando:
- O que é isso, "Negão"? O que é que tu aprontou aí?
E aí não teve jeito, fomos, os três, parar na delegacia e hoje estamos respondendo processo por Homofobia, Bullyng e Racismo!
MORAL DA HISTÓRIA:
Nos dias de hoje, é um perigo encontrar velhos amigos!

domingo, 22 de fevereiro de 2015

CONSELHO CHINÊS

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Há apenas duas coisas com que você deve se preocupar: se você está bem ou se está doente.
Se você está bem, não há nada com que se preocupar.
Se você estiver doente, há duas coisas com que se preocupar: se você vai se curar ou se vai morrer.
Se você vai se curar, não há nada com que se preocupar.
Se você vai morrer, há duas coisas com que se preocupar: se você vai para o céu ou para o inferno.
Se você vai para o céu, não há nada com que se preocupar.
Agora, se você vai para o inferno, é porque merecia. Neste caso, estará tão ocupado em cumprimentar velhos amigos que nem terá tempo de se preocupar.
Então, para que se preocupar?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A DAMA DE AMARELO

Texto de Carlito Lima

Ao receber a herança do pai, Nivaldo comprou três apartamentos pequenos, mobiliou-os apostando no aluguel por temporada, afinal o turismo é uma das vocações econômicas das Alagoas. No verão ele descola dinheiro extra. Por conta desses aluguéis, depois da semana santa, faz uma viagem com sua amada esposa, Margarida. Nivaldo fez amizades com turistas de todo Brasil, até estrangeiros estão em sua agenda. Tem muito trabalho administrar roupa de cama, equipamentos domésticos, etc... “Vale a pena”, diz Nivaldo.
Nesse verão ele recebeu um telefonema, uma senhora solicitando detalhes do apartamento, aluguel de 20 dias, também pediu alguns dados sobre o proprietário. Ele estranhou esse interesse, entretanto, não de fez de rogado, deu detalhes, 50 anos, casado, engenheiro. A senhora desejou olhar o apartamento, marcaram às cinco da tarde, em frente à Sorveteria Bali na praia de Pajuçara. Para reconhecê-la iria de vestido amarelo.
No local e hora combinados, Nivaldo parou o carro, a senhora aproximou-se, ele abriu a porta dianteira. Com classe de mulher bem vivida, a dama de amarelo sentou-se, cumprimentou-o com um belo sorriso, Giselle seu nome. Ele encantou-se com a beleza da mulher, idade indefinida entre 35 e 40 anos, sentiu o cheiro suave e sensual de Fleur de Rocaille, seu perfume predileto, respirou fundo, deu partida no carro.
Ao dirigir-se ao edifício na praia de Jatiúca foram conversando amenidades. Ela baiana, morava em Maceió, queria o apartamento para um parente em visita à cidade. Nivaldo empolgado, em rápida olhada percebeu as belas pernas grossas da madame. Ao estacionar o carro, ela desceu como uma princesa, ficou parada, olhou o prédio, balançou a cabeça como aprovação. Tomaram o elevador, deu um fervor nas veias do nosso amigo ao notar a generosidade do decote da madame. Ele sugeriu ver primeiro a cobertura comum ao prédio, onde fica a piscina, o lazer. Giselle se encantou com a vista do mar azulado da Jatiúca, percorreram o bar, restaurante. Nessa altura o bom humor e a beleza da madame tinham conquistado a simpatia do nosso herói.
Afinal, foram ao 5º andar, entraram no apartamento, quarto e sala, cama de casal, geladeira, as mobílias e utensílios foram mostrados, ela se abaixou olhando as gavetas e mostrando mais o que tinha por baixo do decote, Nivaldo estava quase subindo às paredes. Depois de olhar os detalhes, Giselle sentou-se na cama, bateu no colchão, convidou Nivaldo sentar-se a seu lado. Giselle perguntou o preço de 20 dias. R$ 3.000,00 respondeu. Fecharam o negócio por R$ 2.500,00, avisaria seu parente para efetuar o pagamento. Olhou nos olhos do nosso amigo, apertou sua mão, levantou-se, pediu licença para ir ao banheiro. Nivaldo sentiu-se aliviado. De repente ouviu abrir a porta, ao olhar teve uma emoção inesperada, seus testosteronas se agitaram, o sangue ferveu nas veias. Giselle, simplesmente linda, estava apenas de calcinha amarela, corpo esguio, ancas largas, falsa magra, cabelos louros escorridos. Sorriu estirando-lhes os braços:
- Que tal?
Nivaldo levantou-se, aproximou-se, abraçou-a devagar, beijou-lhe a testa, o nariz, a boca carnuda, molhada, enquanto ela abria seu cinturão. Nivaldo nunca pensou na vida que existissem tudo que fizeram naquela tarde.
A madame, deitada, fumava um cigarrinho, olhava o teto, abriu o jogo, contou sua história. Usava proprietários e corretores de imóveis para essa aventura semanal, na verdade não queria alugar o apartamento. Ela tinha necessidade, compulsão pelo sexo, ninfomaníaca. Casada, seu marido, bem mais velho, sabia de suas traquinagens, pedia apenas que ela não repetisse a mesma pessoa, não se apegasse. Como a dama de amarelo gostou de fazer amor com Nivaldo, sugeriu encontrar-se com ele mais três vezes, no máximo, depois tudo acabado. Saíram mais três vezes. Não podiam ter laços afetivos, assim foi acertado.
A dama de amarelo continua satisfazendo sua compulsão sexual, toda semana se veste de amarelo em busca de novas aventuras, escolhe a vítima pelos anúncios dos classificados. A história da dama já se espalhou na cidade, tem corretor gastando uma fortuna em anúncios, na esperança de ser a bola da vez. Nivaldo agora é só lembrança, saudades das quatro tardes de amor com a dama de amarelo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

HISTÓRIAS DA CASERNA

Texto de Carlito Lima

Fui militar durante 17 anos, entrei na Escola Preparatória de Cadetes aos 16 anos, me formei na Academia Militar das Agulhas Negras final de 1961, servi pelo Brasil afora, por contingências da vida deixei o Exército como Capitão em 1971, tenho muito orgulho em ser Oficial do Exército Brasileiro, hoje na reserva. Durante minha época militar ouvi e vivi muitas histórias, lendas, acontecimentos, depoimentos contados no livro, "Confissões de um Capitão", gosto de histórias da caserna como as lembradas, em conversa, pelo amigo General Veloso, tenho prazer em contá-las, assevero veracidade.
BENZETACIL
Nos anos 70, Veloso era capitão ajudante de ordem de certo general da 7ª Região Militar no Recife. Embora casado, o chefe gostava de sair discretamente com garota de programa; pagou, acaba a obrigação, ele dizia. Não pagava os serviços prestados, pagava o descompromisso, pois amava muito a mulher, entretanto, tinha esse pequeno vício. Certa manhã o General chamou o Capitão, contou confidencialmente: estava com uma dor no canal do pênis, havia telefonado para o médico e ele pediu uma amostra de urina para análise. O general entregou uma garrafa verde de guaraná cheia de xixi matinal, bem fechada, para entregar ao médico no Hospital Militar. Veloso recomendou a encomenda ao soldado Cícero, ordem de entregar imediatamente ao Major médico no Hospital Militar.
Dia seguinte, no final do expediente, o general confessou ao Capitão, o resultado do exame deu gonorreia. Ele estava admirado, há mais de um mês não saía com alguma das suas amigas. O médico esclareceu, era gonorreia encubada que só agora se manifestou e passou quatro dolorosíssima Benzetacil, uma por dia. O General determinou ao Capitão sigilo de Segurança Nacional, a compra do remédio, feita pessoalmente por Veloso. As injeções aconteceram na própria farmácia, a tropa jamais poderia saber da gonorreia do General.
No quarto dia o general, antes do início de expediente, tomou a última Benzetacil. Não aguentou sentar, a bunda dolorida, retornou para casa, disse à mulher que estava indisposto, deitou-se de lado, ouvindo rádio.
Nesse mesmo dia o soldado Cícero apresentou uma licença médica, dois dias para tratamento de gonorreia. Veloso estranhou muita gonorreia no Quartel General.  Chamou Cícero em seu gabinete, apertou o soldado, como sabia fazê-lo, finalmente ele confessou. Ao levar a urina do General, teve um desequilíbrio na bicicleta, a garrafa caiu, espatifou-se no chão. Com medo, Cícero comprou um guaraná, tomou o líquido delicioso, limpou, fez xixi na garrafa, entregou no Hospital como se fosse o mijo do General. Nessa altura, o capitão Veloso preferiu guardar segredo. O General morreu ano passado, 91 anos, sem desconfiar que certa vez, tomou quatro Benzetacil sem precisão.
O ABSTÊMIO
Quando Veloso servia como tenente na 9ª Companhia de Fronteira em Roraima foi marcada uma visita de inspeção do General Comandante da Amazônia. O tenente preparou os soldados para as perguntas durante a inspeção. “Quais as 10 deveres de um soldado quando incorpora no Exército?” O soldado tinha que responder: “1º- Obediência aos superiores; 2º - Vestir a farda com dignidade e limpeza; 3º- Cortar o cabelo toda semana; 4º - Prestar serviços à comunidade...”, assim por diante, até o 10º.
Como o General era conhecido como severo crítico à bebida, dirigente da liga antialcoólica, na véspera da inspeção, o tenente Veloso reuniu a tropa, para puxar o saco inventou e recomendou aos soldados, quando perguntado, além de citar os 10 deveres do militar, citassem também o 11º: “Todo soldado deve se abster de álcool”.
O general desembarcou no avião, tropa formada, recebido com honras militares, dirigiu-se ao quartel, muito rigoroso fez a inspeção com seu Estado Maior anotando as deficiências, entretanto, o quartel estava nos melhores padrões de limpeza, o alojamento dos soldados brilhando, tudo dentro do gabarito, o general parco em elogios, deu parabéns ao Tenente Veloso. Para aquilatar a instrução da tropa, reuniu os soldados no pátio, demonstração de ordem unida, ao sopro de apito de um sargento, a tropa, o "pelotão elétrico", apresentou 15 minutos de ordem unida, ininterrupta, com armas, sem interferência, o general ficou mais que satisfeito. Finalmente os soldados foram reunidos, apertados, numa sala de aulas, o General olhou a tropa, mandou sentar à vontade, apontou para o Soldado "Perna", um índio macuxi, perguntando os deveres do soldado. "Perna" na posição de sentido citou os 10 deveres em voz bem alta, e completou sorrindo mostrando sapiência para o General: “Ainda tem o onze: Todo soldado ao incorporar no Exército deve se abastecer de álcool.”.
Precisou o Tenente Veloso explicar bem explicado ao General para não ser punido.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

ESTÁ DIFICIL TRANSAR

Texto de Aloisio Guimarães

Parece brincadeira, mas é a pura verdade: segundo reportagem da Bloomberg Business, está muito difícil comprar camisinhas na Venezuela.
Os venezuelanos lamentam:
- O país está tão bagunçado que agora nós temos que esperar em fila para transar.
A queda do preço do Petróleo, praticamente a única receita em divisas do país, agravou a crise de abastecimento ao ponto de fazer um pacote, com 36 camisinhas custar 4.760 bolívares (R$ 2.068,70), quase uma salário mínimo no país, que é de 5.600 bolívares.
A situação é muito preocupante, principalmente porque prejudica o combate aos altos índices de infectados pela Aids no país.
E pensar que Maduro é idolatrado pelos nossos governantes...
Desculpem o termo, mas “tá foda, foder na Venezuela”!

sábado, 7 de fevereiro de 2015

A EDUCAÇÃO DOMÉSTICA

Texto de Luiz Ferreira da Silva
ENGENHEIRO-AGRÔNOMO E ESCRITOR                 
CAPÍTULO XVII DO LIVRO "VELHOS TEMPOS DE INFÂNCIA"

Não me canso em valorizar os ensinamentos advindos de nossos pais e mestres daquela época, dando-nos juízo como diziam os de antigamente.
É a base de qualquer família, o esteio fundamental para o desenvolvimento da pessoa humana em termos morais, éticos, culturais e religiosos.
A minha experiência como filho e pai, além dos ensinamentos pela vida, convenceu-me de que a formação do homem passa por uma boa educação no Lar. É no recôndito da casa, simples ou abastada, que se aprendem os princípios da boa convivência, o respeito ao semelhante, a solidariedade humana, o cumprimento das ordens, o valor dos bens materiais e afetivos e o desprendimento para lutar por sua cidadania.
A gente capta quando uma pessoa teve uma deficiente instrução doméstica dada pelos seus pais, ao observar as suas atitudes não aprendidas no berço, cujo mau comportamento humano permanece arraigado no seu subconsciente, sendo, pois de difícil correção, sobretudo porque ela não se apercebe de seus atos.
E, para se implantar esse primeiro capítulo da iniciação humana, além do estabelecimento de regras e limites, valem muito os exemplos dos genitores.
Por outro lado, é importante que fique claro que a educação doméstica independe da condição social ou econômica, pois ela é indutiva, cujos ensinamentos podem ser expressos em quaisquer linguagens e ações, tanto ao nível do pobre como do rico. Ambos, pois, possuem os meios adequados, cada a qual ao seu modo, para implantá-la.
Nos últimos 3 anos, coordeno um evento - O Dia da Árvore - no Condomínio Bahama, Barra de São Miguel (AL), quando crianças plantam árvores. Participam os filhos dos proprietários, pessoas de posse, e os meninos das Escolas Públicas, pobres, numa maneira de integração via uma ação ambiental importante. As professoras os trazem sob um regime disciplinar que me lembra dos tempos idos. Todos em fila, com o Hino Nacional na ponta da língua, participativos e asseados. Lancham sem tumulto e não sujam o ambiente, colocando o lixo no seu devido lugar. Um exemplo até para os adolescentes abastados do condomínio, muitos deles indisciplinados, que deterioram os utensílios dos salões, afrontam os  guardas da CIRETRAN e põem em risco a vida de crianças com o mau uso de seus quadriciclos, provando a tese anterior de que não basta ser rico para ser educado. Até pelo contrário, muitos pais lhes dão o péssimo exemplo do “eu”: posso, mando, tenho dinheiro.
Também, é bom se frisar, que a educação doméstica ultrapassa os umbrais do Lar, estendendo-se ao respeito aos mestres, à reverência aos idosos e ao cuidado ao patrimônio público.
E, nos meus 77 anos, cada vez mais sinto o quanto aquela educação rígida, muitas vezes, produzia frutos, sobretudo ao comparar com os novos tempos, em que ela foi negligenciada por diversas razões. A mais importante; a falta de tempo dos pais, já que ambos trabalham e os filhos são criados pelas babás, na maioria das vezes.
Aqui, no meu prédio, Caviúna/Ponta Verde, num certo período tinha um garoto de uns 3 anos que vivia no playground com a “cuidadora” o dia todo, incluindo sábado e domingo, o que me chamava a atenção pela ausência do casal. O que será dele no futuro, em termos de ensinamentos do Lar?
Então, meu caro leitor, há de me perguntar:
- E na sua infância de Coruripe, como era?
- Ora, bem diferente da de hoje, pois, pois. As mães exerciam a função DO LAR e, como tal, assumiam as tarefas da casa como um todo, incluindo os “bruguelos”, dando-lhes os ensinamentos que abrangiam do comportamento à aprendizagem das primeiras letras. O NÃO era exercido sem constrangimentos e o garoto começava a sentir que havia certos óbices e entendia o seu limite espacial, diferentemente de hoje em que o SIM predomina e, cada vez mais, o filho ver crescente o universo ao seu dispor, não havendo obstáculos ao seu redor. Ele pode tudo.
Ninguém ficava traumatizado por um puxão de orelha, quando hoje uma simples repreensão pode levar a “vítima” ao psicólogo. Eram ensinamentos simples, mas que marcavam, não significando que não existiam os mal criados, rebeldes e recalcitrantes, pois a natureza humana é complicada, mas jamais com a conivência dos pais.
Vale a pena colocar aqui uma dessas orientações simplórias que recebi e que, até hoje, me orienta. Meu pai, que tinha somente o primário, dizia-nos: “- Quando vocês forem sentar no banco da praça e lá já estiver alguém sentado, peça licença primeiro”. Ele queria frisar que antiguidade é posto e aquele que ali já estava merecia respeito mesmo não sendo o dono do banco.
Aí eu me remeto a algumas pessoas do meu prédio que não sabem dar um bom dia aos que já se encontram no elevador. Seja o que for tempos diferentes, novo modus vivendi, aperreios da vida, há que se resgatar a simples, modesta e salutar Educação Doméstica, mesmo com sacrifícios de algumas exigências sociais do mundo moderno.