Texto
de Carlito Lima
“Recordando essas coisas tão boas, sou feliz, não me
sinto tão só; toda gente que sai de Alagoas, o coração deixa em Maceió”.
Feito
a canção do mineiro, aconteceu com o catarinense Fagundes. Voltou depois de
mais de 40 anos. Fui visitá-lo no hotel, hospedado com a esposa e três netos, veio
rever a inesquecível cidade, deixou o coração em Maceió. Passamos a tarde
tomando cerveja embaixo dos coqueirais. Recordamos bons tempos, boas histórias dos
anos dourados.
Fagundes
chegou em Alagoas final dos anos 60, gerente de um forte banco. Alto, louro,
educado, bom moço, fez sucesso com as meninas da cidade. Em Santa Catarina jogava
voleibol por um clube, facilitou ser convidado para equipe do CRB. Solteiro,
morava no Hotel Atlântico na Avenida da Paz, perto do centro e da boemia de
Jaraguá.
A
hospitalidade dos alagoanos deixou Fagundes à vontade. Entrosou-se com os viventes
da cidade. Simpático, envolvente, logo conhecia as figuras carimbadas. Naquela
época empréstimo financeiro negociava-se nas poltronas com gerente de bancos.
Fagundes era convidado para aniversários, casamentos, assíduo frequentador do
Zinga-Bar de Riacho Doce, e dos cabarés. Apaixonou-se pelo litoral nordestino,
embora Santa Catarina seja bem aquinhoada de belas praias, encantou-lhe os
coqueirais embelezando as praias. Fagundes trabalhou três anos em Maceió, divertiu-se,
fez muitos amigos, um dia teve que seguir destino.
Dois
de seus amigos alagoanos ficaram no coração e na memória do catarinense: Betão
jornalista famoso e Eduardo assessor de um conhecido deputado. Boêmios da
melhor qualidade, gostaram do "Catarina", convidavam para festas de
fim-de-semana. Os dois eram casados, entretanto, viviam como solteiros fossem.
Certa
noite de sexta-feira levaram Fagundes ao aniversário de Benedito Bentes,
conhecido empresário, homem de sociedade, esportista, cogitado várias vezes ao
governo do Estado, enfim um dos grandes alagoanos da época. A casa de Benedito
Bentes ficava no início da Avenida Fernandes Lima. Casa solta, avarandada, um
belo jardim, quintal enorme, onde nós jogávamos bola. Bentes, festeiro
inveterado, gostava de receber amigos, artistas. O dia de seu aniversário
tornou-se tradição, não precisava convite, os amigos levavam mais convidados.
Benedito Bentes morreu cedo, 56 anos, tornou-se figura lendária, hoje é nome de
bairro em Maceió.
Fagundes,
adorando a festa, muitos amigos, muitos clientes do banco, divertindo-se
naquele animado aniversário. Quase ao término da festa, Betão e Eduardo
convidaram o amigo, estavam saindo para outro aniversário, no mesmo dia, outro
Benedito, o Benedito Alves dos Santos, o popular Mossoró, dono da noite de
Maceió. Ao chegarem na Boate Areia Branca, os três foram recebidos pelo
aniversariante em uma vasta mesa com amigos e belas damas.
Betão
e Eduardo, irreverentes boêmios, foram catando as melhores meninas desacompanhadas,
quando completaram quatro raparigas puro sangue, Betão pediu a Mossoró um
apartamento para os amigos e as meninas. Estavam a fim de um "menàge à
sept" para mostrar ao catarinense o vigor sexual dos alagoanos. Mossoró
devia um grande favor a Betão, certa vez ele escreveu uma matéria defendendo a
permanência da boate do Mossoró, contribuiu para o cabaré continuar aberto.
Em
pouco tempo apareceu Roberto, filho do Mossoró, o apartamento estava pronto.
Era o de uso particular do proprietário, onde ele dormia nas noites que não
voltava para casa da Ponta Verde.
Fagundes
ficou nervoso, tímido para esses arroubos sexuais, jamais havia participado de
uma suruba. Quando de repente na maior algazarra entraram no apartamento
especial, uma dama veio lhe fazer carinho, empurrou-o na cama. Ele constrangido,
nunca tinha visto aquelas cenas dantesca, pernas se cruzando. Quase uma hora de
agonia, não conseguiu. No final os amigos consolaram, a brochada era natural,
etc...
Na
volta, dentro do carro, Fagundes pediu segredo a Eduardo e Betão, a história do
incidente ficasse entre eles, se os amigos soubessem iriam gozá-lo durante muito
tempo. Os dois juramentaram segredo. Por eles jamais saberiam.
Na
segunda-feira pela manhã ao entrar no banco, Fagundes sentiu alguns olhares
irônicos dos funcionários, risinhos e sorrisos abertos dos amigos, por mais de
uma hora, ele desconfiou, havia alguma coisa no ar. Até que um colega mais
íntimo contou, a notícia se espalhou pela manhã, todos sabiam da pifada de
Fagundes na Boate Areia Branca. Já no domingo a notícia corria pelos bares,
pelas barracas, pela praia, pelos clubes; toda cidade sabia: Fagundes, o
gerente do Banco, brochou.
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