Texto
de Carlito Lima
Fui militar durante 17 anos, entrei na Escola
Preparatória de Cadetes aos 16 anos, me formei na Academia Militar das Agulhas
Negras final de 1961, servi pelo Brasil afora, por contingências da vida deixei
o Exército como Capitão em 1971, tenho muito orgulho em ser Oficial do Exército
Brasileiro, hoje na reserva. Durante minha época militar ouvi e vivi muitas
histórias, lendas, acontecimentos, depoimentos contados no livro,
"Confissões de um Capitão", gosto de histórias da caserna como as lembradas,
em conversa, pelo amigo General Veloso, tenho prazer em contá-las, assevero
veracidade.
BENZETACIL
Nos anos 70, Veloso era capitão ajudante de ordem
de certo general da 7ª Região Militar no Recife. Embora casado, o chefe gostava
de sair discretamente com garota de programa; pagou, acaba a obrigação, ele
dizia. Não pagava os serviços prestados, pagava o descompromisso, pois amava
muito a mulher, entretanto, tinha esse pequeno vício. Certa manhã o General
chamou o Capitão, contou confidencialmente: estava com uma dor no canal do
pênis, havia telefonado para o médico e ele pediu uma amostra de urina para
análise. O general entregou uma garrafa verde de guaraná cheia de xixi matinal,
bem fechada, para entregar ao médico no Hospital Militar. Veloso recomendou a
encomenda ao soldado Cícero, ordem de entregar imediatamente ao Major médico no
Hospital Militar.
Dia seguinte, no final do expediente, o general
confessou ao Capitão, o resultado do exame deu gonorreia. Ele estava admirado,
há mais de um mês não saía com alguma das suas amigas. O médico esclareceu, era
gonorreia encubada que só agora se manifestou e passou quatro dolorosíssima
Benzetacil, uma por dia. O General determinou ao Capitão sigilo de Segurança
Nacional, a compra do remédio, feita pessoalmente por Veloso. As injeções
aconteceram na própria farmácia, a tropa jamais poderia saber da gonorreia do
General.
No quarto dia o general, antes do início de
expediente, tomou a última Benzetacil. Não aguentou sentar, a bunda dolorida,
retornou para casa, disse à mulher que estava indisposto, deitou-se de lado,
ouvindo rádio.
Nesse mesmo dia o soldado Cícero apresentou uma
licença médica, dois dias para tratamento de gonorreia. Veloso estranhou muita gonorreia
no Quartel General. Chamou Cícero em seu
gabinete, apertou o soldado, como sabia fazê-lo, finalmente ele confessou. Ao
levar a urina do General, teve um desequilíbrio na bicicleta, a garrafa caiu,
espatifou-se no chão. Com medo, Cícero comprou um guaraná, tomou o líquido
delicioso, limpou, fez xixi na garrafa, entregou no Hospital como se fosse o
mijo do General. Nessa altura, o capitão Veloso preferiu guardar segredo. O
General morreu ano passado, 91 anos, sem desconfiar que certa vez, tomou quatro
Benzetacil sem precisão.
O ABSTÊMIO
Quando Veloso servia como tenente na 9ª Companhia
de Fronteira em Roraima foi marcada uma visita de inspeção do General
Comandante da Amazônia. O tenente preparou os soldados para as perguntas
durante a inspeção. “Quais as 10 deveres de um soldado quando incorpora no
Exército?” O soldado tinha que responder: “1º- Obediência aos superiores; 2º -
Vestir a farda com dignidade e limpeza; 3º- Cortar o cabelo toda semana; 4º -
Prestar serviços à comunidade...”, assim por diante, até o 10º.
Como o General era conhecido como severo crítico à
bebida, dirigente da liga antialcoólica, na véspera da inspeção, o tenente
Veloso reuniu a tropa, para puxar o saco inventou e recomendou aos soldados,
quando perguntado, além de citar os 10 deveres do militar, citassem também o 11º:
“Todo soldado deve se abster de álcool”.
O general desembarcou no avião, tropa formada,
recebido com honras militares, dirigiu-se ao quartel, muito rigoroso fez a
inspeção com seu Estado Maior anotando as deficiências, entretanto, o quartel
estava nos melhores padrões de limpeza, o alojamento dos soldados brilhando,
tudo dentro do gabarito, o general parco em elogios, deu parabéns ao Tenente
Veloso. Para aquilatar a instrução da tropa, reuniu os soldados no pátio,
demonstração de ordem unida, ao sopro de apito de um sargento, a tropa, o
"pelotão elétrico", apresentou 15 minutos de ordem unida, ininterrupta, com armas, sem interferência, o general ficou mais que satisfeito. Finalmente
os soldados foram reunidos, apertados, numa sala de aulas, o General olhou a
tropa, mandou sentar à vontade, apontou para o Soldado "Perna", um índio macuxi,
perguntando os deveres do soldado. "Perna" na posição de sentido citou os 10
deveres em voz bem alta, e completou sorrindo mostrando sapiência para o
General: “Ainda tem o onze: Todo soldado ao incorporar no Exército deve se abastecer
de álcool.”.
Precisou o Tenente Veloso explicar bem explicado ao
General para não ser punido.
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