domingo, 6 de dezembro de 2015

A NOSSA LAMA

Texto de Rubens Mário
  PROFESSOR E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

Há alguns dias a sociedade brasileira foi sacudida pelo maior desastre ambiental de todos os tempos no Brasil. Estamos nos referindo ao inescrupuloso rompimento de uma das barragens da mineradora Samarco que armazenava em seu bojo rejeitos com altas concentrações de alumínio, ferro, e manganês, dentre outros componentes químicos altamente prejudiciais à vida de todos os seres vivos. Algumas multas foram anunciadas pelo governo, mas, paralela a punição dos responsáveis pela mineradora, dever-se-ia penalizar, também, as autoridades que aprovaram a instalação daquelas barragens naquele local! Será que, isentos de quaisquer subterfúgios politiqueiros, não seria trivial se imaginar que o rompimento futuro daquelas barragens seria uma coisa possível? Até quando, o dinheiro continuará sendo o “senhor da razão”? Essa última indagação deveria servir de alerta para toda sociedade brasileira, incluindo aqueles que comandam os nossos setores mais vitais.
A “anunciada” ruptura da represa liberou uma avalanche de lama tóxica; a palavra lama que possui diversas conotações na nossa, secundária, língua portuguesa, e que já vinha sendo bastante pronunciada nos nossos noticiários jornalísticos, se referindo aos roubos e canalhices dos nossos políticos, continuou sendo explorada pela mídia mostrando-a agora na sua forma literal – mistura de água com argila e os elementos químicos já citados acima. O composto que se transformou na lama tóxica e foi rapidamente misturada às águas dos rios e lagos da região, além do oceano, causou danos irreparáveis e irreversíveis à natureza e a toda espécie de vida que alimentava as populações circunvizinhas.
Infelizmente, a ausência de iniciativas sérias, desvinculadas de conchavos e hipocrisias políticos, tem causado prejuízos sociais, infinitamente superiores aos frágeis benefícios econômicos que, na verdade, só servem para aumentar a segregação entre ricos e pobres num país já eivado de inexplicáveis desigualdades sociais e econômicas.
O caso da mineradora Samarco que atua em conluio com a ex estatal, vale do rio doce, gerava lucros exorbitantes para os seus proprietários, em detrimento de parcos benefícios econômicos para a região e os seus trabalhadores, até o trágico desenlace.
Esse fatídico acontecimento que dizimou a vida de um rio e seus afluentes lá nos estados de Minas Gerais e Espirito Santo, deveria servir de mote para a nossa sociedade organizada, mormente, as entidades responsáveis pelo meio ambiente, e, assim, provocar uma luta, sem tréguas, para ainda tentar salvar as nossas arquejantes, Lagoas Mundaú e Manguaba. No caso da nossa Lagoa Mundaú, ao contrário do Rio doce, ela tem sido trucidada, paulatinamente, por uma outra espécie de lama, composta, essencialmente, por coliformes fecais, ou, uma lama de fezes e urinas, que é despejada diariamente, pela população residente no seu entorno. Na parte da Lagoa Mundaú que banha os bairros do Vergel do Lago e Trapiche da Barra, que deveria servir de fonte de alimento e belo cartão postal, não é mais possível se enxergar as suas margens, pois, ela foi, vergonhosamente, ocupada por barracos que servem de moradias para as famílias vítimas do holocausto social, maquiavelicamente, perpetrado pelo governo. Naquelas comunidades improvisadas, onde a vidas surgem por acaso, o índice de criminalidade é assustador, e, seres humanos são assassinados diariamente, na mesma proporção da vida animal, que, de forma doentia, ainda tenta sobreviver, bravamente, nas águas fétidas e poluídas daquele complexo lagunar.
Ao contrário da lama do rio doce, a nossa, ainda é possível de ser estancada.

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