sábado, 14 de setembro de 2013

A VIÚVA ALEGRE

Texto de Carlito Lima

Foi um choque emocional para Conceição receber a notícia da morte do marido. O amado Zé Peixoto lia o jornal na repartição quando sentiu-se mal, de repente gritou para os colegas:
 - Socorro! Estou com dor no peito. Estou com...
Não terminou a frase, sua cabeça pendeu, caiu de bruços por cima do birô, infarto fulminante. Deitaram Zé Peixoto no chão tentaram respiração boca-a-boca. Quando a ambulância chegou, já estava morto.
Zé Peixoto, homem formal, vida regrada, não bebia, nunca fumou, magro, parecia ter saúde de ferro. Entretanto, seu coração era fraco.
Conceição apaixonada, dizia convicta:
- Meu marido é homem sério, decente, por ele ponho a mão no fogo.
Os amigos concordavam. Apenas algumas amigas comentavam discreta;
- Conceição pode se queimar...
Zé Peixoto tinha um vício, mania, gostava de pescaria, fim de semana viajava para pescar no litoral.
O cemitério Parque das Flores estava repleto de amigos. O defunto era popular, foi candidato a vereador por cinco vezes seguidas. Na última eleição chegou a ter 231 votos.
Os amigos abraçavam, consolavam a viúva. Apenas Conceição não percebeu uma senhora desconhecida chorar além do normal, de mãos dadas com uma jovem de 13 anos. Ao aproximarem do caixão, a menina colocou um buquê de rosas no caixão, chamou o defunto de pai. Foi retirada discretamente
Dia seguinte Conceição foi procurada em sua casa por uma mulher, morena, bonita, cabelos escorridos, olhos irritados de muito choro... Ela foi enfática:
- Dona Conceição, me chamo Marina, preciso falar com a senhora, assunto de seu interesse, aliás, de nosso interesse.
A viúva, que estava abraçada à sua única filha, Rita, de 13 anos, convidou-a a sentar na sala. Marina foi direta, sem preparar a viúva:
- Dona Conceição a senhora precisa saber agora, não se pode adiar. Eu e Zé Peixoto há muitos anos éramos amantes. Tenho uma filha dele, essa que está na sala conversando com sua filha, são irmãs, coincidência, nasceram na mesma semana, diferença de cinco dias.
Conceição arregalou os olhos, desnorteada com a imprevisível notícia. Um choque, um coice no estômago. Não admitiu. Não podia acreditar. Respondeu aos gritos à Marina:
- Mentirosa, ponha-se para fora! Não manche o nome de meu marido!
A amante sem fazer barulho respondeu, com firmeza.
- A Senhora precisava saber, Zé Peixoto não era santo. Tome meu cartão, telefone-me quando se acalmar.
Levantou-se, saiu da casa levando pela mão a sua filha, que havia adorado a nova amiga, sua meia irmã.
Ainda pela manhã Sara, uma amiga solteira, bateu na porta. Conceição atendeu aos prantos se lamentando:
- Descobri tudo, toda traição! Eu era corna e não sabia...
Sara teve um choque. Tentando acalmar a amiga, falou com voz baixa humildemente. Pensando que era com ela, confessou chorando:
- Desculpe, Conceição! Agora que você descobriu, não tive culpa. Zé Peixoto era um finório na lábia. Juro que dei a primeira vez porque prometeu parar com aquelas cantadas. Mas Zé Peixoto insistiu. Peço perdão, pelo amor de Deus!
Conceição ficou boquiaberta. Atirou no que viu, acertou no que não viu. Botou Sara de casa para fora. Chorou o resto do dia, de raiva. Trancou-se durante uma semana, não atendeu aos amigos nem parentes.
Na missa de 7º dia, ela entrou na Igreja de São Pedro às 7:30 da noite escandalizando: vestido vermelho, decotado, justo, transparecendo bonitas e sensuais curvas. Chocou mais ainda quando no final da missa convidou às amigas para uma volta na balada de Maceió. A partir desse dia, Conceição se liberou: deu e dá para quem quer.
Domingo passado encontrei a viúva, toda charmosa, na Barraca Pedra Virada tomando uma cervejinha. Cumprimentou-me com alegria. Lamentei pelo finado, meu primo. Ela sorriu debochada, desabafou:
- É o primeiro defunto corno no mundo.

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