sábado, 30 de agosto de 2014
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
PAPILLON
Texto de Carlito
Lima
Albuquerque frequenta a academia duas a três noites por semana, vício em
nadar, contínuas braçadas, relaxar antes de dormir. Certa noite depois da
natação, dormiu feito um menino, roncou feito um bode, teve um sonho, surreal,
quase pesadelo. Ele se aproxima por trás de uma mulher, costa nua, na nuca tatuada
uma borboleta colorida, asas abertas, num impulso ele estende a mão tentando alcançar
a mulher, de repente a borboleta tatuada levanta voo batendo as asas por cima
de seu nariz, nesse momento a mulher vira-se, não tem rosto definido, falta-lhe
nariz e boca, apenas dois olhos cinzas olham nos seus olhos, ele se assusta. Acordou-se
ofegante, excitado, o nariz irritado, coçando. Sonhou algumas noites seguidas,
a mesma mulher, a borboleta, o nariz coçando. O sonho ficou nítido em sua
mente, coisa rara, durante o dia tentava interpretar a história, tinha certeza,
conhecia aquela tatuagem, tinha visto a borboleta colorida num pescoço, não
recordava a pessoa.

À noite custava a adormecer pensando no sonho. Tentou relaxar, apelou para
cinema, andar na praia, escrever, saiu com casais amigos, bebeu além da conta,
dormiu feito um príncipe, entretanto, o mesmo sonho veio-lhe na madrugada. Consultou
a um psicólogo amigo, a conversa de uma hora não deu resultado prático. A nuca tatuada
não lhe saía da cabeça durante o dia, nem nos sonhos durante a noite.
Foi à natação relaxar, a academia repleta de jovens, velhos, mulheres, exercitando
ou nadando. Albuquerque nadou ininterruptamente oito piscinas, ao terminar 200
metros, boa marca para um sessentão, segurou-se na borda, pequeno descanso. Ele
notou na raia vizinha uma mulher fazendo exercício de respiração, mergulhava,
soltava o ar, emergia, respirava novamente. Seu coração disparou, entre surpreso
e emocionado, avistou por trás do pescoço da mulher, a tatuagem, a borboleta
colorida. Encantado, extasiado ao ver a nuca tatuada, tentou conter a emoção, não
pode conter o olhar insistente à nadadora, mulher madura, bem conservada, nem
bonita, nem feia, ele olhava fixamente a borboleta. Certo momento ela tirou os
óculos, olhos cinzas, segurou a escada da piscina, subiu. Albuquerque teve
certeza, era a mulher do sonho. Ele também subiu, acompanhou-a discretamente,
aproximou-se, num impulso puxou conversa.
- Essa borboleta tatuada
me lembrou um livro, Papillon, a história de um preso fugitivo na Guiana
Francesa, ele tinha uma borboleta tatuada, era conhecido como Papillon,
borboleta em francês.
- Interessante, eu
gostaria de ler, qual livraria tem esse livro?
- Posso lhe emprestar, a senhora
vem quando por aqui na academia?
- Toda noite eu nado a
partir das sete horas.
- Amanhã trago o livro,
a senhora vai gostar, tenho certeza. Fizeram um filme com o Dustin Hoffman.
- Até amanhã,
despediu-se a nadadora entrando no carro.
Albuquerque ao chegar em casa tomou um bom café, conversou com Natália, a
esposa, estava tranquilo, satisfeito. Procurou "Papillon", não
encontrou, ficou especulando, lembrou, havia doado alguns livros a uma
Biblioteca Comunitária. Nessa noite teve o mesmo sonho, mudou um detalhe, o
rosto da mulher era visível, a nadadora.
Dia seguinte pela manhã foi à biblioteca, estava o livro, a bibliotecária emprestou-lhe.
À noite, antes das sete ele nadava, ao avistar a mulher, alegrou-se, cumprimentaram-se,
trouxe o livro, disse-lhe arrancando um sorriso, saíram juntos da piscina, conversaram
na lanchonete por meia hora. Na outro dia conversaram mais. Ela, professora de
música, divorciada, dois filhos, não queria compromissos, gostava de ler, estava
adorando o livro. Nessa noite, durante o sonho ele abraçou a nadadora,
acordou-se excitado, agarrado à esposa, Natália gostou.
De conversa em conversa à beira da piscina, tornaram-se amigos, dois
adultos, ele não teve dúvida em contar a história do sonho, confessou, só deixava
de ter o sonho quando beijasse a borboleta, ela gargalhou. Marcaram encontro na
outra tarde. Amizade colorida, sem compromisso, assim acertaram. Albuquerque não sonha mais com a mulher sem
rosto, entretanto, em algumas tardes deliciosas, ao vivo e a cores beija a
borboleta tatuada. Com carinho sussurra ao ouvido da nadadora, "Minha Papillon".
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
RECEITA MÉDICA
Texto de Aloisio
Guimarães

- Rapaz, é melhor você
ir procurar um médico...
A minha filha, que,
com apenas 22 aninhos, já era médica, uma vez que passou no
vestibular com 16 anos (eu sou um
pai coruja, com muito orgulho), tem um tal de “refluxo”.
Pense numa coisinha
chata da gota serena! É somente terminar de comer, que “mete o pau
a tossir”! Chega a ser irritante.
Um dia desses, logo
após o almoço, como sempre, quando ela começou a tossir, não me contive e
dei-lhe o conselho de sempre, um pouco modificado, é claro:
- Minha filha, é
melhor você ir procurar “você”...
Pai liberal que eu sou,
quase que apanho!
terça-feira, 26 de agosto de 2014
sábado, 23 de agosto de 2014
MANHÃ DE SÁBADO NA JATIÚCA
Texto de Carlito
Lima
Sábado, irresistível e
luminosa manhã ensolarada no rigoroso inverno nordestino. Vestindo um velho
calção de banho, sandália havaiana, desço à praia, o dia para vadiar. Sento-me
à mesa no Acarajé da Irmã, em frente ao Hotel Meliá, sem camisa, pés descalços,
areia morna, fofa, branca. Faço um reconhecimento geral, avisto o mar azul
esverdeado encontrando o céu no infinito, praia cheia, crianças, velhos,
ambulantes, em torno de minha mesa algumas mulheres deitadas, pegando sol, um
toque de sensualidade entre os banhistas, sinto-me em casa, é minha praia. Faço
o pedido.

- Irmã, um acarajé só com
camarão, sem pimenta, cerveja gelada.
Nesse momento encosta um
bêbado amigo, abrindo os braços, sorrindo, tentando me cativar.
- Assisti sua entrevista na
televisão, me dê seu novo livro, quero ler, deixe aqui, no Acarajé.
Senta-se sem cerimônia na
cadeira vizinha, chega-se a meu lado, recita um poema de Bandeira, puxa
conversa. É letrado, não sei a causa, caiu no alcoolismo, semana passada
paguei-lhe uma lata de Pitu às 8 horas da manhã no supermercado. A irmãzinha
trouxe o acarajé e cerveja, dou R$ 10,00 ao bêbado, satisfeito, feliz, ele
parte em busca de uma dose. Meu amigo é inteligente, deve ter uma historia
interessante, qualquer dia descubro.
Acarajé crocante, saboroso,
recheio de camarão, a cerveja gelada desce junto, aumenta o prazer. Ambulantes
passam, param, oferecem variadas mercadorias, óculos escuros, sanduíche
natural, amendoim, caipirosca, brinquedo, casquinha de siri, pulseiras e
brincos. São heróis do Brasil real, sobrevivem, sustentam a família,
trabalhando na areia quente, oferecendo artigos diversos, sempre de bom humor,
peculiaridade de nosso povo, merecedor de melhor qualidade de vida, de um país
mais justo, sem essa cruel diferença entre classes sociais, e privilégios de
poucos.
Estava em meus devaneios
socialistas quando elas chegaram. Eram três jovens, se assim posso chamar
mulheres passando dos 30 anos. Plantaram-se em frente à minha mesa. A loura
alta tirou a "saída de praia", um minúsculo biquíni branco cobria seu
belo corpo, segurou firme o pau da sombrinha, enfiou-o cavando na areia até
firmá-lo para receber a sombrinha multicolorida. A segunda moça, morena dos
cabelos cacheados, abriu as três cadeiras alugadas, uma para cada colega,
sentou-se ao sol, pegou uma revista de celebridades, cheias de fotos, folheou
até encontrar boa notícia, comentou, o artista tal deixou a mulher, já estava
com outra. A terceira, morena de cabelos lisos, Terezinha, ouvi bem o nome,
segurou firme sua cadeira, abriu-a, em minha frente, continuou em pé, enfiou a
mão numa pequena bolsa cheia de bugigangas femininas, conseguiu tirar um tubo
de óleo. Iniciou o ritual, liturgia do alisado, massageava seu corpo bem
torneado, cheios de curvas, de deixar eunuco excitado, passava vagarosamente
suas mãos untadas por entre as pernas morenas. Tomando cerveja, eu admirava
aquela prática, competentes mãos, devia ser massagista, pensava, sem tirar os
olhos da moça, desbragadamente. De repente ela virou o rosto como se procurasse
alguém olhando, um possível "voyeur", disfarcei a vista. Ela
notou-me, olhou novamente pelos lados. Como se ninguém tivesse olhando, colocou
a mão por dentro do biquíni por trás, na parte glútea, alisou forte,
massageando a bunda, eu descaradamente olhava embevecido aquele movimento de
vai e vem, ao mesmo tempo irado, não pelo movimento, por sentir que ela me viu,
tenho certeza, achou-me um idoso inofensivo, não importou minha presença,
ofendeu meu ego, afinal tenho apenas 74 anos. O massagear glúteo compensou a
ofensa.
Depois da quinta cerveja e
dois acarajés, hora de almoço, juntei meus trecos na mesa, cheguei-me perto das
vizinhas, pedi para dar uma olhada enquanto mergulhava, elas, simpáticas,
sensuais, sorrindo disseram sim.
Pulei as primeiras marolas,
mergulhei de cabeça dentro ao mar verde esmeralda, nadei devagar um bom pedaço,
retornei, relaxei o corpo imerso na água morna, ao longe avistei as três
meninas, nem sabem, enriqueceram minha manhã de sábado na Jatiúca.
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
sábado, 16 de agosto de 2014
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
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