Sábado, irresistível e
luminosa manhã ensolarada no rigoroso inverno nordestino. Vestindo um velho
calção de banho, sandália havaiana, desço à praia, o dia para vadiar. Sento-me
à mesa no Acarajé da Irmã, em frente ao Hotel Meliá, sem camisa, pés descalços,
areia morna, fofa, branca. Faço um reconhecimento geral, avisto o mar azul
esverdeado encontrando o céu no infinito, praia cheia, crianças, velhos,
ambulantes, em torno de minha mesa algumas mulheres deitadas, pegando sol, um
toque de sensualidade entre os banhistas, sinto-me em casa, é minha praia. Faço
o pedido.
- Irmã, um acarajé só com
camarão, sem pimenta, cerveja gelada.
Nesse momento encosta um
bêbado amigo, abrindo os braços, sorrindo, tentando me cativar.
- Assisti sua entrevista na
televisão, me dê seu novo livro, quero ler, deixe aqui, no Acarajé.
Senta-se sem cerimônia na
cadeira vizinha, chega-se a meu lado, recita um poema de Bandeira, puxa
conversa. É letrado, não sei a causa, caiu no alcoolismo, semana passada
paguei-lhe uma lata de Pitu às 8 horas da manhã no supermercado. A irmãzinha
trouxe o acarajé e cerveja, dou R$ 10,00 ao bêbado, satisfeito, feliz, ele
parte em busca de uma dose. Meu amigo é inteligente, deve ter uma historia
interessante, qualquer dia descubro.
Acarajé crocante, saboroso,
recheio de camarão, a cerveja gelada desce junto, aumenta o prazer. Ambulantes
passam, param, oferecem variadas mercadorias, óculos escuros, sanduíche
natural, amendoim, caipirosca, brinquedo, casquinha de siri, pulseiras e
brincos. São heróis do Brasil real, sobrevivem, sustentam a família,
trabalhando na areia quente, oferecendo artigos diversos, sempre de bom humor,
peculiaridade de nosso povo, merecedor de melhor qualidade de vida, de um país
mais justo, sem essa cruel diferença entre classes sociais, e privilégios de
poucos.
Estava em meus devaneios
socialistas quando elas chegaram. Eram três jovens, se assim posso chamar
mulheres passando dos 30 anos. Plantaram-se em frente à minha mesa. A loura
alta tirou a "saída de praia", um minúsculo biquíni branco cobria seu
belo corpo, segurou firme o pau da sombrinha, enfiou-o cavando na areia até
firmá-lo para receber a sombrinha multicolorida. A segunda moça, morena dos
cabelos cacheados, abriu as três cadeiras alugadas, uma para cada colega,
sentou-se ao sol, pegou uma revista de celebridades, cheias de fotos, folheou
até encontrar boa notícia, comentou, o artista tal deixou a mulher, já estava
com outra. A terceira, morena de cabelos lisos, Terezinha, ouvi bem o nome,
segurou firme sua cadeira, abriu-a, em minha frente, continuou em pé, enfiou a
mão numa pequena bolsa cheia de bugigangas femininas, conseguiu tirar um tubo
de óleo. Iniciou o ritual, liturgia do alisado, massageava seu corpo bem
torneado, cheios de curvas, de deixar eunuco excitado, passava vagarosamente
suas mãos untadas por entre as pernas morenas. Tomando cerveja, eu admirava
aquela prática, competentes mãos, devia ser massagista, pensava, sem tirar os
olhos da moça, desbragadamente. De repente ela virou o rosto como se procurasse
alguém olhando, um possível "voyeur", disfarcei a vista. Ela
notou-me, olhou novamente pelos lados. Como se ninguém tivesse olhando, colocou
a mão por dentro do biquíni por trás, na parte glútea, alisou forte,
massageando a bunda, eu descaradamente olhava embevecido aquele movimento de
vai e vem, ao mesmo tempo irado, não pelo movimento, por sentir que ela me viu,
tenho certeza, achou-me um idoso inofensivo, não importou minha presença,
ofendeu meu ego, afinal tenho apenas 74 anos. O massagear glúteo compensou a
ofensa.
Depois da quinta cerveja e
dois acarajés, hora de almoço, juntei meus trecos na mesa, cheguei-me perto das
vizinhas, pedi para dar uma olhada enquanto mergulhava, elas, simpáticas,
sensuais, sorrindo disseram sim.
Pulei as primeiras marolas,
mergulhei de cabeça dentro ao mar verde esmeralda, nadei devagar um bom pedaço,
retornei, relaxei o corpo imerso na água morna, ao longe avistei as três
meninas, nem sabem, enriqueceram minha manhã de sábado na Jatiúca.
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