POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES
Esta é a história de duas
criaturas que viviam numa floresta distante há muitos anos atrás. Eram elas, um
cavalinho e uma borboleta.
Na verdade, não tinham
praticamente nada em comum, mas em certo momento de suas vidas se aproximaram e
criaram um elo.
A borboleta era livre, voava por
todos os cantos da floresta enfeitando a paisagem. Já o cavalinho, tinha
grandes limitações, não era bicho solto que pudesse viver entregue à natureza. Nele,
certa vez, foi colocado um cabresto por alguém que visitou a floresta e a
partir daí sua liberdade foi cerceada. A borboleta, no entanto, embora tivesse
a amizade de muitos outros animais e a liberdade de voar por toda a floresta, gostava
de fazer companhia ao cavalinho, agradava-lhe ficar ao seu lado e não era por
pena, era por companheirismo, afeição, dedicação e carinho.
Assim, todos os dias, ia
visitá-lo e lá chegando, levava sempre um coice, depois então um sorriso. Entre
um e outro ela optava por esquecer o coice e guardar dentro do seu coração o
sorriso.
O cavalinho sempre insistia com a
borboleta que lhe ajudasse a carregar o seu cabresto por causa do seu enorme
peso. Ela, muito carinhosamente, tentava de todas as formas ajudá-lo, mas isso
nem sempre era possível por ser ela uma criaturinha tão frágil.
Os anos se passaram e numa manhã
de verão a borboleta não apareceu para visitar o seu companheiro. Ele nem
percebeu, preocupado que ainda estava em se livrar do cabresto.
E vieram outras manhãs e mais
outras e milhares de outras, até que chegou o inverno e o cavalinho sentiu-se
só e finalmente percebeu a ausência da borboleta. Resolveu então sair do seu
canto e procurar por ela. Caminhou por toda a floresta a observar cada cantinho
onde ela poderia ter se escondido e não a encontrou. Cansado se deitou embaixo
de uma árvore. Logo em seguida um elefante se aproximou e lhe perguntou quem
era ele e o que fazia por ali.
- Eu sou o cavalinho do cabresto e estou à procura de uma borboleta que
sumiu.
- Ah, é você então o famoso cavalinho?
- Famoso, eu?
- É que eu tive uma grande amiga que me disse que também era sua amiga e
falava muito bem de você.
- Mas afinal, qual borboleta que você está procurando?
- É uma borboleta colorida, alegre, que sobrevoa a floresta todos os dias
visitando todos os animais amigos.
- Nossa, mas era justamente dela que eu estava falando.
- Não ficou sabendo? Ela morreu e já faz muito tempo.
- Morreu? Como foi isso?
- Dizem que ela conhecia, aqui na
floresta, um cavalinho, assim como você e todos os dias quando ela ia
visitá-lo, ele dava-lhe um coice. Ela sempre voltava com marcas horríveis e
todos perguntavam a ela quem havia feito aquilo, mas ela jamais contou a
ninguém. Insistíamos muito para saber quem era o autor daquela malvadeza e ela
respondia que só ia falar das visitas boas que tinha feito naquela manhã e era
aí que ela falava com a maior alegria de você.
Nesse momento, o cavalinho já
estava derramando muitas lágrimas de tristeza e de arrependimento.
- Não chore meu amigo, sei o quanto você deve estar sofrendo. Ela sempre
me disse que você era um grande amigo, mas entenda, foram tantos os coices que ela
recebeu desse outro cavalinho, que ela acabou perdendo as asinhas, depois ficou
muito doente, triste e sucumbiu e morreu.
- E ela não mandou me chamar nos seus últimos dias?
- Não, todos os animais da floresta quiseram lhe avisar, mas ela disse o
seguinte: "Não perturbem meu amigo com coisas pequenas, ele tem um grande
problema que eu nunca pude ajudá-lo a resolver. Carrega no seu dorso um
cabresto, então será cansativo demais para ele vir até aqui."
Você pode até aceitar os coices
que lhe derem quando vierem acompanhados de beijos, mas em algum momento da sua
vida, as feridas que eles vão lhe causar, não serão mais possíveis de serem
cicatrizadas. Quanto ao cabresto que tiver que carregar durante sua existência,
não culpe ninguém por isso, afinal muitas vezes, foi você mesmo que o colocou
no seu dorso!
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