
O Brasil não foi à Guerra, entretanto, ao terminar a
Primeira Guerra Mundial (1918), o prefeito de Maceió comemorou com o povo o fim
da guerra na então “Praia do Aterro”. Depois de bons goles de
cachaça, prometeu, ali construiria uma bela Avenida, a Avenida da Paz. Político
de palavra (existia antigamente), logo iniciou a obra, a Avenida ficou linda,
começou a desbancar Bebedouro, a burguesia foi se transferindo para a Avenida
da Paz, construindo belas casas, mansões. Nessa época apareceu a moda do “banho
salgado”, hoje banho de mar, a mulherada moderna vestia maiô até o joelho, caía
na água. Maior sucesso, alguns achavam um escândalo. Vinham homens, velhos,
meninos do interior apreciar as modernas senhoritas de maiô aparecendo a batata
das pernas, causava reboliço entre os marmanjos. Nessa época também foram
aparecendo os primeiros “tarados”.
Nos anos 40 o maiô já havia diminuído o tamanho, subindo até a metade da coxa,
quanto mais diminuía o tamanho do maiô, mais aumentavam os discípulos de Onã na
esplêndida praia da Avenida da Paz.
Nos anos 50 eu era um jovem maloqueiro de praia. Nadava
singrando a calmaria do mar azul esverdeado, pulava da cumeeira dos trapiches
mar adentro, jogava bola na areia dura, pescava nas jangadas, puxava rede, a
Avenida da Paz foi berço esplêndido. Entretanto, o esporte predileto dos
meninos da avenida depois do futebol, era ficar na areia olhando, que nem
jacaré, as belas mulheres estendidas na areia, pegando um bronzeado.
É próprio do homem o “voyeurismo”,
olhar os encantos da mulher. Alguns não se controlavam, praticavam o onanismo
em esdrúxulas situações. Naquela época, os meninos com cara de santinho
frequentavam rodas de conversas das moças na praia, olhavam discretamente o
corpo dourado das jovens, quando entravam na água não havia quem segurassem.
Gaguinho era mestre... Aproximava-se das desavisadas de
maiô, deitava de bruços, cavava uma cova, adaptava a mão, estimulava suas
fantasias. Certa vez, um amigo percebeu o Gaguinho em posição de trincheira
perto de sua belíssima irmã, foi chegando por trás, devagar, de repente virou o
Gaguinho em vias da apoteose final. Levaram o “tarado” para a Delegacia de Jaraguá. Ficou preso.
Certo verão ela apareceu vestindo o primeiro biquíni em
Maceió. Bonita ruiva, dizia-se atriz, hóspede do Hotel Atlântico, sustentada
por um rico fazendeiro. Toda manhã descia à praia, como se fosse uma liturgia,
estendia a toalha, enfiava o pau da sombrinha na areia e armava. Devagar, cheia
de preguiça, tirava a blusa, aparecia parte do biquíni pouco cobrindo os seios.
Em seguida, como fosse um strip-tease, descia lentamente o short requebrando os
quadris, movimentos harmoniosos, sensuais, passando pelas pernas até
transpassá-lo por baixo dos pés. Finalmente levantava o short com o pé direito
como se chutasse o vento. Ainda em pé, dobrava o short, a blusa, colocava-os
junto à sombrinha. Deitava lentamente, de bruços, deixando o sol da manhã
acariciar suas pernas, seu dorso. Foi o grande espetáculo daquele verão. Os
homens se deliciavam com o ritual erótico da musa dos cabelos de fogo. “Chaina”, sua cachorrinha pequenez,
ficava amarrada no pau da sombrinha. Às vezes, ela se soltava para alegria da
moçada correndo, tentando capturá-la para receber o agradecimento, e olhar de
perto as penugens douradas nas coxas da magnífica.
Depois que “Chaina”
começou a frequentar a praia, o número de tarados aumentou nos mares da
Avenida. Muita gente graúda entre eles. Certa vez fizemos uma votação para
eleger o maior tarado da praia. Em terceiro lugar, "Punho de bronze", foi para um jogador de futebol. Segundo
lugar, "Punho de prata",
ganhou um coroa, vestia um velho calção de banho, passava o dia vadiando na
praia. E primeiro lugar, "Punho de
ouro", fez-se justiça, ganhou um comerciante muito conhecido, era
prático, profissional, conta a lenda, todas as suas calças tinham bolsos
furados.
Hoje, ao caminhar pela praia da Jatiúca, apreciando os
corpos deitados, belamente bronzeados, lembro dos velhos tempos da Avenida da
Paz. Com tantas mulheres seminuas, os tarados da Avenida iriam enlouquecer.
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