Texto de Aloisio Guimarães
The Great Dictator, O Grande Ditador, é um dos maiores clássicos do
cinema, sendo o primeiro filme falado escrito,
protagonizado e dirigido por Charles Chaplin. No filme, Chaplin satiriza o nazismo, o fascismo e seus maiores propagadores, Adolf Hitler e Benito Mussolini. O filme recebeu cinco
indicações ao Oscar: Melhor filme, Melhor ator
(Charlie Chaplin), Melhor roteiro original,
Melhor trilha sonora
e Melhor ator coadjuvante
(Jack Oakie). O ponto máximo da película é o discurso
ao final do filme, usado posteriormente, por J. Edgar Hoover, para acusar Chaplin de comunista ser impedido e entrar nos Estados Unidos. Na parte final do discurso, ele se dirige a Hannah, mocinha do filme.
O DISCURSO
Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não
é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja.
Gostaria de ajudar - se possível - judeus, o gentio, negros, brancos...
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres
humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo, não para o seu
infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há
espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas
necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da
beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens, levantou
no mundo as muralhas do ódio e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a
miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos
enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em
penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência,
empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de
máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de
afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será
perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A
própria natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem, um
apelo à fraternidade universal, à união de todos nós. Neste mesmo instante a
minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora; milhões de
desesperados, homens, mulheres, criancinhas… vítimas de um sistema que tortura
seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não
desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da
cobiça em agonia… da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano.
Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo
arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a
liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais, que
vos desprezam, que vos escravizam, que arregimentam as vossas vidas… que ditam
os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar
no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como
gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é
que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os
que não se fazem amar, os que não se fazem amar e os inumanos!
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela
liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de
Deus está dentro do homem - não de um só homem ou grupo de homens, mas dos
homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar
máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar
esta vida livre e bela… de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto, em nome
da democracia, usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um
mundo novo; um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê
futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm
subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o
cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém, escravizam o povo. Lutemos agora
para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao
ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência
e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia,
unamo-nos!"
- Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares,
levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam!
Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo - um mundo
melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade.
Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa
para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os
olhos!
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