segunda-feira, 3 de junho de 2019

ORAÇÃO DO MATUTO

Texto de Fátima Irene Pinto
 
Ói, Deus,
Nóis tá sempre pedindo as coisas pro Sinhô. Nóis pede dinhero, Nóis pede trabaio, nóis pede pra chovê e, se chove demais, nóis pede pra pará mode a coiêta num afetá.
Nóis pede amô, nóis pede pra casá, pede casa pra morá. Nóis pede saúde, nóis pede proteção, nóis pede paiz, nóis pede pra dislindá os nó, quando as coisa cumprica, mode a vida corrê mió.
Quano a coisa aperta, nóis reza pedindo tudo que farta. É uma pedição sem fim...
E quano as coisa dá certo, nóis vai na igreja mais perto e, no pé de argum santo que seja de devoção, nóis deixa sempre uns merréis e, lá no cofre da frente, nóis coloca mais uns tostão.
Ói Deus, nóis sempre pensa que o Sinhô num percisa de nada, mas tarvez num seja assim. Tarvez o Sinhô percisa de mim. Sim, o Sinhô percisa, sim! Percisa da minha bondade, percisa da minha alegria, percisa da minha caridade no trato c’os meus irmão.
Nóis semo seu espêio, nóis semo a Sua Criação. Nóis num pode fazê feio nem ficá fazendo rodeio, nem desapontá o Sinhô, nem amargá o seu sonho, que foi um sonho de amô, quando essa terra todinha criô.
Ói, Deus, eu prometo: vô rezá de ôtro jeito; vô pará com a pedição e trocá milagre por tostão. Tarvez eu inté peça uma graça, mas antes vô vê direitinho o que é que andei fazendo de bão. E se nada de bão eu encontrá, muito vô me envergonhá e ainda vô pedi perdão.

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