POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES
Com um aceno de
mão, eu o mandei para fora. Me virei para que ele não percebesse as lágrimas em
meus olhos. Eu adoro aquela azálea. Eu toquei no galho quebrado como que a
dizer-lhe silenciosamente:
- Sinto muito.
Para complicar
um pouco mais o meu dia, a máquina de lavar quebrou e quando Jonathan perguntou
o que eu faria para o almoço, percebi que estava com a geladeira vazia e não
tinha muitas opções. Dias como este me fazem querer parar e desistir de tudo.
Eu apenas queria fugir até as montanhas, me esconder em uma caverna e nunca
mais colocar a cara pra fora. De algum modo eu consegui arrastar a roupa
molhada até o tanque. Eu passei a maior parte do dia lavando roupa e pensando
em como o amor tinha desaparecido de minha vida. Quando eu terminei de pendurar
a última das camisas de meu marido, olhei o relógio: duas e meia. Eu estava
atrasada. A aula de Jonathan terminava às 2:15. Fui correndo para a escola. Ofegante,
bati na porta da sala e olhei através do vidro. A professora fez sinal para que
eu esperasse. Ela disse algo a Jonathan e entregou para ele e para outras duas
crianças, lápis de cera e uma folha de papel. O que virá agora? Eu pensei
quando, através da porta, ela pediu que eu entrasse na sala:
- Quero lhe
falar sobre o Jonathan - ela disse.
Me preparei
para o pior. Nada mais me surpreenderia naquele dia. Ela perguntou:
- Você sabe das
flores trazidas por Jonathan à escola hoje?
Eu respondi que
sim, lembrando de meu arbusto favorito e tentando esconder a mágoa em meus
olhos. Eu olhei de relance para meu filho que estava ocupado colorindo um desenho.
Seu cabelo ondulado estava muito comprido e caía em sua testa. Seus olhos azuis
brilhavam enquanto admirava sua obra.
- Deixe-me
contar sobre o que aconteceu ontem... - a professora continuou - Está
vendo aquela menina?
Eu olhei para a
menina que ria divertida, apontando um desenho na parede e assenti.
- Bem, ontem
estava quase histérica. Seus pais estão atravessando um momento muito difícil,
estão se divorciando. Ela disse que não queria mais viver. E disse bem alto,
com o rosto escondido entre as mãozinhas, para toda a sala ouvir: "ninguém
me ama". Eu fiz tudo o que pude para consolar, mas parecia que nada mais
importava...
Eu interrompi:
- Eu achei que
você queria me falar sobre Jonathan...
- Eu vou... - ela disse - Hoje seu
filho entrou e foi direto até ela. Ele a entregou algumas bonitas flores e
sussurrou "eu te amo".
Mais tarde, eu
arrancava ervas daninhas em torno de meu desequilibrado arbusto de azaléa.
Pensando no amor que Jonathan demonstrou pela menina, um verso bíblico me veio
à memória: "... estes três permanecem: a Fé, a Esperança e o Amor. Mas o
maior de todos é o amor." Enquanto meu filho tinha colocado o amor na
prática, eu tinha apenas sentido raiva. Eu ouvi o barulho familiar do carro de
meu marido entrando na garagem. Eu arranquei um pequeno galho de azáleas e
corri até ele. Eu senti a semente do amor que Deus plantou em minha família
recomeçar a florescer em mim. Meu marido arregalou os olhos de surpresa quando
eu lhe entreguei as flores e disse:
- Eu te amo.
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