terça-feira, 27 de agosto de 2024

A VINGANÇA DO TUPÃ

Texto de Aloisio Guimarães

Na nossa juventude, anos 60/70, era muito comum que a Formatura de Conclusão do Curso Ginasial (Ensino Fundamental), Curso Pedagógico (Professora) ou do Curso Científico (Ensino Médio) fosse comemorada com muita pompa, inclusive, com um baile.
Era um tempo em que a mulher não bebia e não fumava. Por isso, se não tivesse uma aparência de um galã de cinema, o "bafo de cana" de um rapaz, após tomar uns drinks, tornava quase impossível ele conseguir dançar com alguma garota.
Nesse tempo, morava em Palmeira dos Índios um rapaz chamado Sebastião Tupã, bastante conhecido da população local porque era filho de uma tradicional família palmeirense. O seu pai, "seu" Caetano, era um próspero comerciante, dono da melhor mercearia da cidade, até a chegada dos supermercados, motivo de quebradeira dele e de outros pequenos comerciantes.
De constituição forte, Sebastião Tupã era um sujeito moreno, espirituoso, solteirão convicto e fazia parte daquele grupo de rapazes que bebia para criar coragem para falar com as moças nas festas e bailes da cidade.
Contam que, num determinado sábado, era realizado no Aero Clube (o principal clube social de Palmeira dos Índios) o tradicional "Baile da Primavera", com a finalidade de arrecadar fundos para as despesas da formatura do Curso Científico da meninada do Colégio Pio XII.
Pois bem, começa o baile e lá estava presente o Sebastião Tupã, como sempre, tomando seu "Cuba Libre" (Montilla, Coca-cola, gelo e limão) e louco para dançar. Lá pelas tantas, ele se engraçou de uma garota que estava sentada à mesa em frente e foi convidá-la para dançar, lembrando que, antigamente, ninguém dançava sozinho no meio do salão; nem mesmo homem com homem e mulher com mulher, soltos, como hoje. Homem dançava com mulher e agarradinhos.
- A senhorita que me dar o prazer desta dança? - perguntou Tupã à jovem.
- Estou cansada... - respondeu a jovem donzela, com a clássica desculpa, mesmo não tendo dançado ainda.
Contrariado, Tupã retornou para a sua mesa e voltou a bebericar. Depois de certo tempo, ele voltou a convidá-la, tendo recebido a mesma resposta:
- Estou cansada...
Depois da décima tentativa do Tupã, a moça, querendo se livrar dele, de uma vez por todas, resolveu aceitar, mas disse-lhe que seria apenas uma única música.
- Tudo bem... - concordou o Tupã, já maquinando a sua desforra.
Após instantes no meio do salão, o Tupã abanou a mão na frente do nariz e falou para a moça, bem alto, para que todos o ouvissem:
- Você peidou! Peidona!
Dito isto, deixou a garota sozinha no meio do salão e saiu. Não precisa dizer mais nada sobre a vergonha que ela passou.
Com certeza, desse dia em diante, ela nunca mais negou dança a homem nenhum, com ou sem "bafo de cachaça".

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

PILÃO, O BOM SAMARITANO

 Texto de Aloisio Guimarães

Em Palmeira dos Índios, como em qualquer outra cidade do mundo, sempre existiram figuras folclóricas. Já tive oportunidade de falar sobre algumas delas no texto "MALUCO BELEZA". Entretanto, outras personagens interessantes da “Terra do Xucurus” também merecem ser lembradas; não pela loucura, mas por outros detalhes bastante singulares.
Para esclarecimento dos mais jovens, antigamente, café em pó industrializado era coisa de rico. A maioria das famílias torrava seu café na própria casa e depois esfarelavas os grãos, em um pilão, para torná-lo pó. O pilão é um tronco de madeira, com uma cavidade nas pontas - onde se colocava o café, para ser triturado com a "mão de pilão" (pedaço de madeira, roliço, liso, pesado e cerca de 70 cm de comprimento).
A figura palmeirense que atendia pelo apelido de “PILÃO” era um moreno, estatura mediana, físico forte e usava bigodes. Desempregado, ganhava a vida fazendo bicos, principalmente como misto de garçom e ajudante de casa de jogo/bar de sinuca, que ficava na Praça da Independência, perto do extinto Cine Moderno. Como não tinha emprego fixo, mas era da vida boêmia, ele costumava “serrar” (pedir e conseguir na lábia) seus tragos de pinga tanto dos seus conhecidos como também dos frequentadores dos bares da cidade.
O que fazia Pilão bastante conhecido e temido pela “turma do copo” era um fato inusitado: conta a lenda que Pilão, além de ter sido agraciado com um “instrumento de respeito”, tipo "mão de pilão", daí o seu apelido, costumava fazer a gentileza de levar os bêbados da cidade para as suas casas. E, como diz o ditado que “cu de bêbado não tem dono”, diziam que o Pilão “costumava cobrar pelos seus serviços”, enrabando todos eles!
A gozação era tanta que, quando alguém era visto nas ruas, de ressaca e andando bem devagar, a turma logo comentava:
- Parece que o Pilão levou esse ai para casa...
Durante muito tempo em Palmeira dos Índios, sempre que um sujeito gozador encontrava algum bêbado pelas ruas da cidade, logo lhe avisava:
- Parêia, toma cuidado que o Pilão vem vindo aí...
Sabedor da fama do Pilão, o bebum, ao ouvir tal comentário, imediatamente se levantava e saia correndo, com mais de mil! 
Felizmente, nos “tempos áureos” do Pilão eu era menino e nem bebia. Hoje, passados muitos anos, longe da minha terra, não sei informar se ele ainda é vivo e se continua “fazendo a caridade” de levar os “pés de cana” em casa.
Pilão, graças a Deus, eu só o conheci de vista. Diziam as más línguas que ele tinha levado muita "gente boa" para casa...
Agora, só para nós dois, se você conheceu o Pilão, fala a verdade:
- Você é daqueles que trazem boas recordações do Pilão ou é daqueles que fazem questão de esquecê-lo?