Texto de Aloisio Guimarães
Na nossa juventude, anos 60/70, era muito comum que a Formatura de Conclusão do Curso Ginasial (Ensino Fundamental), Curso Pedagógico (Professora) ou do Curso Científico (Ensino Médio) fosse comemorada com muita pompa, inclusive, com um baile.
Era um tempo em que a mulher não bebia e não fumava. Por isso, se não tivesse uma aparência de um galã de cinema, o "bafo de cana" de um rapaz, após tomar uns drinks, tornava quase impossível ele conseguir dançar com alguma garota.
Nesse tempo, morava em Palmeira dos Índios um rapaz chamado Sebastião Tupã, bastante conhecido da população local porque era filho de uma tradicional família palmeirense. O seu pai, "seu" Caetano, era um próspero comerciante, dono da melhor mercearia da cidade, até a chegada dos supermercados, motivo de quebradeira dele e de outros pequenos comerciantes.
De constituição forte, Sebastião Tupã era um sujeito moreno, espirituoso, solteirão convicto e fazia parte daquele grupo de rapazes que bebia para criar coragem para falar com as moças nas festas e bailes da cidade.
Contam que, num determinado sábado, era realizado no Aero Clube (o principal clube social de Palmeira dos Índios) o tradicional "Baile da Primavera", com a finalidade de arrecadar fundos para as despesas da formatura do Curso Científico da meninada do Colégio Pio XII.
Pois bem, começa o baile e lá estava presente o Sebastião Tupã, como sempre, tomando seu "Cuba Libre" (Montilla, Coca-cola, gelo e limão) e louco para dançar. Lá pelas tantas, ele se engraçou de uma garota que estava sentada à mesa em frente e foi convidá-la para dançar, lembrando que, antigamente, ninguém dançava sozinho no meio do salão; nem mesmo homem com homem e mulher com mulher, soltos, como hoje. Homem dançava com mulher e agarradinhos.
- A senhorita que me dar o prazer desta dança? - perguntou Tupã à jovem.
- Estou cansada... - respondeu a jovem donzela, com a clássica desculpa, mesmo não tendo dançado ainda.
Contrariado, Tupã retornou para a sua mesa e voltou a bebericar. Depois de certo tempo, ele voltou a convidá-la, tendo recebido a mesma resposta:
- Estou cansada...
Depois da décima tentativa do Tupã, a moça, querendo se livrar dele, de uma vez por todas, resolveu aceitar, mas disse-lhe que seria apenas uma única música.
- Tudo bem... - concordou o Tupã, já maquinando a sua desforra.
Após instantes no meio do salão, o Tupã abanou a mão na frente do nariz e falou para a moça, bem alto, para que todos o ouvissem:
- Você peidou! Peidona!
Dito isto, deixou a garota sozinha no meio do salão e saiu. Não precisa dizer mais nada sobre a vergonha que ela passou.
Com certeza, desse dia em diante, ela nunca mais negou dança a homem nenhum, com ou sem "bafo de cachaça".