Texto de Aloisio Guimarães

Para esclarecimento dos mais jovens, antigamente, café em pó industrializado era coisa de rico. A maioria das famílias torrava seu café na própria casa e depois esfarelavas os grãos, em um pilão, para torná-lo pó. O pilão é um tronco de madeira, com uma cavidade nas pontas - onde se colocava o café, para ser triturado com a "mão de pilão" (pedaço de madeira, roliço, liso, pesado e cerca de 70 cm de comprimento).
A figura palmeirense que atendia pelo apelido de “PILÃO” era um moreno, estatura mediana, físico forte e usava bigodes. Desempregado, ganhava a vida fazendo bicos, principalmente como misto de garçom e ajudante de casa de jogo/bar de sinuca, que ficava na Praça da Independência, perto do extinto Cine Moderno. Como não tinha emprego fixo, mas era da vida boêmia, ele costumava “serrar” (pedir e conseguir na lábia) seus tragos de pinga tanto dos seus conhecidos como também dos frequentadores dos bares da cidade.
O que fazia Pilão bastante conhecido e temido pela “turma do copo” era um fato inusitado: conta a lenda que Pilão, além de ter sido agraciado com um “instrumento de respeito”, tipo "mão de pilão", daí o seu apelido, costumava fazer a gentileza de levar os bêbados da cidade para as suas casas. E, como diz o ditado que “cu de bêbado não tem dono”, diziam que o Pilão “costumava cobrar pelos seus serviços”, enrabando todos eles!
A gozação era tanta que, quando alguém era visto nas ruas, de ressaca e andando bem devagar, a turma logo comentava:
- Parece que o Pilão levou esse ai para casa...
Durante muito tempo em Palmeira dos Índios, sempre que um sujeito gozador encontrava algum bêbado pelas ruas da cidade, logo lhe avisava:
- Parêia, toma cuidado que o Pilão vem vindo aí...
Sabedor da fama do Pilão, o bebum, ao ouvir tal comentário, imediatamente se levantava e saia correndo, com mais de mil!
Felizmente, nos “tempos áureos” do Pilão eu era menino e nem bebia. Hoje, passados muitos anos, longe da minha terra, não sei informar se ele ainda é vivo e se continua “fazendo a caridade” de levar os “pés de cana” em casa.
Pilão, graças a Deus, eu só o conheci de vista. Diziam as más línguas que ele tinha levado muita "gente boa" para casa...
Agora, só para nós dois, se você conheceu o Pilão, fala a verdade:
- Você é daqueles que trazem boas recordações do Pilão ou é daqueles que fazem questão de esquecê-lo?
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