Texto de Aloisio Guimarães

O meu irmão Casé, já perto dos seus 60 anos, tinha um medo danado de avião e por isso mesmo nunca tinha voado. Como ele não conhecia São Paulo, aproveitei que eu sempre ia à capital paulista visitar minha filha, onde ela fazia Residência Médica, resolvi levar Casé comigo, nem que fosse amarrado. De uma tacada só, Casé viveu grandes emoções: andou de avião, conheceu São Paulo e assistiu a uma corrida de Fórmula 1, em Interlagos (no domingo, dia 15/11/2015). Só não foi possível assistir um jogo de futebol porque o calendário do campeonato brasileiro tinha sido alterado devido a um jogo da seleção brasileira pelas eliminatórias da Copa do Mundo.
Por conta disso tudo, me lembrei de um causo que dizem ter ocorrido muitos anos atrás...
Antes, porém, para quem não é acostumado à vida rural, fique sabendo que o nosso matuto, quando quer fazer o famoso “número dois”, ou dar a sua “cagadinha”, popularmente falando, ele simplesmente avisa: “Vô ali, no mato, vorto já”.
Isto posto, vamos ao acontecido:
Nos anos 60, José Miguel, mais conhecido como “Pé de chumbo”, era um matuto que morava em Lagoa do Félix, povoado situado entre Igaci e Arapiraca. Plantador de fumo, numa época em que o fumo dava dinheiro, ”Pé de Chumbo” jamais tinha se ausentado do estado, muito embora vivesse “nadando em dinheiro”. Hoje, como é proibido fumar em quase tudo que é lugar, quem planta fumo está é “levando fumo”. E foi por ele nunca ter viajado, por nunca ter saído da sua pacata Lagoa do Félix, que botaram o apelido nele de “Pé de chumbo”: um sujeito difícil de sair do lugar, de se mover.
Os amigos, que viam o tempo passar e “Pé de chumbo” sempre naquela mesmice da vida rural, sempre lhe aconselhavam:
- Pé de Chumbo, hômi, vá viajá. Vá conhecê o mundu! A vida é curta, hômi!
De tanto encherem o saco do cara, ele resolveu ouvir os conselhos dos amigos...
- Apôis bem, já qui ôces queri, vô viajá, mas vô logo butando prá derretê: vô di avião!
E assim foi feito. Malas prontas, “Pé de chumbo” se mandou para Maceió, pegar o “asa dura”, como o avião era apelidado antigamente, e se mandar para o Rio de Janeiro.
Acontece que antes de viajar, ele se empanturrou com o almoço gorduroso que Filomena, sua mulher, preparou. Tinha de tudo: de galinha de capoeira a costela de porco, assada na brasa, tudo "regado" a umas doses de cachaça.
Pois bem, logo nos primeiros minutos, tão logo o avião partiu do Aeroporto Zumbi dos Palmares, “Pé de Chumbo” começou a passar mal, com náuseas, querendo vomitar e com uma cólica da gota serena. Quando não mais aguentava de tanta cólica, ele sentiu que era a hora de “arriar o barro”. Desesperado, não aguentando mais segurar a onda, “Pé de Chumbo”, correu até a aeromoça e perguntou:
- Mulé, pur Nossa Sinhora, adondi pesti é o “mato” dessa disgraça?
Como a aeromoça não entendeu o que era "mato", não deu tempo: "Pé de Chumbo" fez o "serviço" nas calças mesmo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário