- Meu marido é um crápula, um pervertido!
Com essa estonteante declaração Ritinha me contou seu drama. Fiquei surpreso e comovido. Ela abaixou a cabeça, chorou batendo os cotovelos na mesa. Estávamos ao ar livre no Bar Celona. Ninguém percebeu o desespero de minha amiga, era cedo, boca da noite, início da boemia, havia pouca gente nas mesas. Ao se recuperar, Ritinha, mais calma, contou sua história. Tinha necessidade, precisava desabafar, contar sua tragédia. Carecia de ombro e amparo, essa a razão do encontro marcado, somos amigos de velha data.
Depois de sete anos de casada, Ritinha intuitiva, desconfiou de Rodrigo, seu marido, havia diminuiu a procura de amor, chegava tarde, cansado, há tempo ela não gemia em seus braços, não tinha as carícias daquele homem bonito, peito cabeludo, bom na cama.
Um mês jejuando amor, Rita não se conteve, contratou um investigador. Mandou seguir o marido, forneceu fotos, roteiros e costumes do Rodrigão.
Audálio, o detetive não teve muita dificuldade em descobrir as peripécias do investigado. Com quinze dias marcou encontro com a cliente em seu escritório para mostrar o relatório das averiguações. Foram momentos dramáticos, emotivos, surpreendentes, ao ouvir o relato e ver fotografias, provas inequívocas, vários encontros amorosos durante uma quinzena de investigação. Fotografias claras, Rita se chocou, ficou pensativa ao perceber meninas de programa entrando no carro de Rodrigo.
Não acreditou quando Audálio esclareceu pormenores, aquelas garotas eram travestis. As fotos não mentiam, Rodrigo gosta, tem tara por travesti, é sua fantasia.
O mais trágico, o que mais entristeceu, arrasou minha amiga, foram fotos do marido entrando de carro em motéis. Sua companhia era, nada mais nada menos, seu dileto amigo, auxiliar, pau-para-toda-obra, o administrador da fazenda, o jovem Cicinho.
Conversou pouco com o detetive, não quis entrar em mais detalhes, ofendida, humilhada, pagou os serviços de Audálio. Abalada, trêmula, emocionada, desceu o elevador, dirigiu-se ao estacionamento, entrou no carro, fechou o vidro, danou-se a chorar, raiva e mágoa nas entranhas do peito. Custou a se recompor, respirou fundo, acalmou-se, retornou à sua casa, esperou o marido.
Rodrigo ao entrar teve a grande surpresa. Ritinha sem conseguir falar, atirou em seu peito o envelope, as fotografias reveladoras se espalharam no chão.
Rodrigão olhou a primeira foto ficou vermelho de vergonha, seu corpo tremeu. Botou a cabeça entre as mãos, chorou como menino, só sabia dizer: “Me perdoe, me perdoe Ritinha”.
A tensão ficou alta, fortes emoções, Rita encarava o marido, copo de uísque na mão, falava baixo, viado, não acredito, meu marido é viado...
Depois de algum tempo, muito choro e algumas doses de uísque, se acalmaram. O gaúcho se abriu, confessou tudo a Ritinha, gostava de homem desde a adolescência no Rio Grande do Sul, sua paixão verdadeira era o administrador, jovem Cicinho. Amava-a também, gostava dos carinhos das noites de amor, enfim era bissexual. Rita não aceitou sequer ele dormir em casa, Rodrigo foi para um hotel, dias depois comunicaram a separação ao filho único morando no Rio, não explicaram o motivo.
Esta infeliz história, Rita contou-me com muita emoção naquela noite, sem perder o humor, lamentou-se:
- Um homão tão másculo e bonito, que desperdício!
Ao terminar o relato, desabou a chorar, deitou sua cabeça em meu ombro, pediu que lhe abraçasse. Não resisto aos pedidos, às lágrimas de uma frágil e bonita mulher, um ser carente precisa de ombro. Dei-lhe aconchego. Sou homem de coração mole. Amigo é para essas coisas.
"Dei-lhe aconchego. Sou homem de coração mole.
ResponderExcluirAmigo é para essas coisas.", é mesmo meu caro
Irmãozinho; mas, seu coração é superflexível:
'elasticidade=1'. Tenho um amigão de quatro
costados, de dentro do peito, que já vai no
quarto casório; ele tem um coração mole ...
Quando lhe pergunto por que, a resposta tem
sido sempre: dei-lhe aconchego.