Texto de Rubens Mário
PROFESSOR E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS
PROFESSOR E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS
Na quarta-feira da semana passada, antes de resolver algumas coisas no centro da cidade, resolvi ir ao estádio “Rei Pelé” assistir ao primeiro jogo da decisão do nosso campeonato de juniores. Confesso que fui, movido pela curiosidade de verificar como andava a qualidade dos nossos jovens jogadores, já que, devido à falta de estrutura do nosso futebol, esses jovens só são vistos pelas torcidas nessas finais de campeonato.
Ao chegar e me posicionar ao lado de alguns amigos frequentadores dos treinos do CRB, com o jogo já em andamento, comecei a me inquietar e me decepcionar com o que começara a assistir. Alguns atletas do CRB que, inclusive, já jogaram no time profissional, não conseguiam se destacar perante os demais; mesmo com o nosso time um pouco superior, não me entusiasmei muito com o que estava vendo. Essa decepção com os jovens que estavam jogando, era plenamente justificável. Sei que com o advento da lei Pelé, os nossos meninos mais talentosos são levados sem a aquiescência dos clubes, bem antes dos 15 anos de idade! Porém, no caso do CRB, o clube deveria ter um cuidado bem maior com as suas categorias de base, escolhendo melhor as pessoas que irão preparar os nossos futuros jogadores profissionais. Com o futebol bastante competitivo de hoje, onde a força física se sobressai, fiquei impressionado com a compleição física raquítica dos nossos atletas. Acredito que nessa nova fase que se iniciará no próximo ano, com bons campos de treinos para os amadores, a direção fará uma reformulação nesse departamento.
Gostaria de aqui comentar o que vi os meninos fazendo dentro do campo de jogo, também na segunda partida, mas, infelizmente, passo agora a relatar o que eu e os demais espectadores do futebol não gostaríamos de ter visto os meninos fazendo fora dele.
Meninos eu vi, ou, eu vi meninos, na mais tenra idade, dos dois sexos, usando entorpecentes, com os uniformes da gangue vermelha – eu estava do lado do CRB; vi crianças do sexo feminino, com aspectos e gestos mundanos, deixando às mostras, a ausência da família, a maioria com uma euforia anormal, acompanhadas de outros jovens mais calejados, da mesma facção. Com os cânticos imorais e ameaçadores de ambos os lados se acirrando, comentei com os meus amigos torcedores que uma tragédia se anunciava e que eu dali á poucos minutos iria me retirar! O que mais me chamava à atenção era que os baderneiros juvenis, não assistiam ao jogo, pois eles ficavam o tempo todo correndo de um lado para o outro, tais quais animais selvagens enfurecidos, tentando se confrontar, a todo custo, como os outros que estavam do outro lado e vice versa, até que um bando dos delinquentes azuis conseguiram, facilmente, vir ao encontro dos marginais vermelhos, e protagonizarem uma guerra de pedras. Foi a partir desse momento que eu e uma grande quantidade de pessoas civilizadas, dos dois lados, começamos a sair apressadamente, tentando fugir da batalha campal prenunciada nas ruas circunvizinhas ao estádio e nos transportes coletivos. Soube depois, que tudo aquilo que nós temíamos, aconteceu e vitimou pessoas de bem que, por acaso, trabalhavam nas redondezas ou seguiam nos ônibus das linhas do Trapiche.
Como punição aos torcedores das duas agremiações, os quais, já tinham sido vítimas no primeiro confronto, eles foram impedidos de comparecer ao segundo jogo. Essa decisão dos organizadores, lembra-nos àquela que contam, que o marido tomou, ao flagrar a mulher transando com o outro em cima do seu sofá, e, como punição, jogou o móvel na rua.
Na verdade, todos - polícias, Ministério Público, políticos, justiça, direção dos clubes, “família”, imprensa, e etc. - sabem quem são os comandantes, ou aliciadores dos delinquentes vermelhos e azuis, afinal, eles não se escondem de ninguém! Quem passa pela rua do sol ou pela Sá e Albuquerque, observa uma legião de desocupados, aglomerados! O mais grave é que nesses covis se misturam crianças com adultos desvirtuados.
Infelizmente, tanto essa modalidade de violência, quanto a outra vivenciada por toda a sociedade, têm as suas gêneses, pela ordem: na negação da educação pública básica, na destruição da família, na corrupção generalizada, e, na impunidade, também generalizada.
Ao contrario da magistral obra do genial, Chico Buarque de Holanda (meninos, eu vi), onde ele termina dizendo aos meninos, que viu um homem ser feliz, nesse humilde texto, com, a retirada do vocativo, eu afirmo que vi meninos nos fazerem infelizes.
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