Texto de Rubens Mário
PROFESSOR E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS
Após o término das nossas prévias carnavalescas, fui obrigado a me recolher á minha residência por dois motivos bastantes óbvios: a música e a violência.
Durante a minha involuntária reclusão, inúmeras vezes tive que tentar aumentar o volume do meu impotente som, ou, em última instância, me aproximar mais dele para tentar escutar a música da época e a sua mensagem, tal a impune potência dos sons dos inimigos dos ouvidos alheios.
Enquanto eu tentava ouvir as marchinhas e frevos, para os quais tinha apenas quatro dias, pessoas, alienadas pelo novo mundo, faziam ecoar as mesmas “porcarias” tocadas durante o ano todo em nossas emissoras em geral - quanta falta faz o Edécio Lopes! Por outro lado, é absurda a falta de fiscalização, e consequente impunidade, por parte das nossas autoridades constituídas, com relação ao número de decibéis utilizados pelos cabeças ocas. Os "paredões", cada vez maiores, parecem se encantarem ao passarem diante das mesmas autoridades que prendem um cidadão após ele tomar um simples copo de cerveja.
Já ficou provada que a boa música é uma das armas mais poderosas na luta pela minimização da violência. As prévias do nosso carnaval, apesar de alguns falsos arautos da cultura democrática ainda tentarem misturar outros ritmos ao nosso frevo, provam, todos os anos, que a manutenção da música tradicional da época, provoca no povo um sentimento romântico que tanta falta nos faz nesse novo mundo movido a transformações e transfigurações tragicômicas.
Ainda lembro com bastantes saudades e melancolia, dos antigos carnavais de rua em Maceió, animados pelos tradicionais blocos carnavalescos, "Sai da frente", "Cara dura", "Cavaleiro dos montes", "Vareta de aço", "Vulcão", "Daqui não saio”, dentre tantos outros. Hoje, ainda temos muitos blocos de frevo espalhados pela cidade, que poderiam, além da sexta-feira prévia, continuar semeando a nossa cultura carnavalesca durante os quatro dias do carnaval.
Acredito que, com um maior incentivo do governo, poderíamos ressuscitar essa nossa festa mais popular. Tenho plenas convicções que campanhas bem organizadas do tipo "No carnaval, fique em Maceió", traria inúmeros benefícios, econômicos, sociais e culturais para todos nós, afinal, inibiríamos o grande fluxo de veículos nas nossas estradas e suas consequências. Dessa forma, somente sairiam de Maceió, aquelas pessoas que não gostam de carnaval e que procurariam os nossos balneários para descansar. É muito comum, hoje, observarmos pessoas, sem qualquer estrutura, viajarem à esmo, simplesmente, em busca do entretenimento. Imaginem quantos benefícios, econômicos, sociais e culturais, essa campanha traria para as pessoas e para a cidade!
O que na verdade mudou ou foi mudado, foi o foco das pessoas que, sem educação pública básica, e, em consequência, totalmente vulneráveis, foram desviadas para modismos desvairados e inadequados, que, assim, atendem aos apelos inescrupulosos da mídia aberta, e, terminam ajudando, involuntariamente, a descaracterizar a nossa cultura e os nossos costumes.
Fica muito difícil compreender, após passarmos o ano todo tendo que ouvir o “Psirico & Cia". Nas comemorações de Carnaval, São João e Natal, continuarmos a ouvi-los! Imaginem a situação de quem já os ouvem contra a própria vontade! Acreditem que é um sacrifício insuportável! Pensem que situação traumática: você está escutando "Máscara negra" e aí o cara liga o "paredão" com os berros do "Psirico" & Cia Ltda"! “É de fazer chorar...”
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