
Quis o destino que casasse com
uma prima, Maria de Lourdes, criada no sertão com leite de cabra, disposta e
ciumenta. Ela adorava o bigodinho à lá Clark Gable de Pedrinho. Sempre teve
adoração pelo marido com pinta de galã do cinema mudo.
Nosso herói casou-se com muito
respeito e medo de Lourdinha. Ele fazia suas estripulias bem escondidas. Porém,
a paixão e o ciúme da esposa, impeliam uma marcação cerrada. Ela descobriu alguns
indícios no bolso de paletó do marido, deu briga e discussão.
Pedro nunca foi de deixar as coisas
acontecerem, sua imaginação funcionava, inventava viagens e reuniões para ter
nos braços alguma mulher, geralmente de programa. Para ele não interessava,
fosse mulher, bastava.
No início do ano, num
aniversário, Pedro conheceu uma morena, Rosa, mulher bonita e vistosa,
quarentona, com todas as carnes no lugar. Era de Olinda, muito divertida. Rosa dava
suas opiniões bem avançadas, achava o casamento enfadonho, já passara por dois.
Afirmou que na vida para valer todos nós somos solteiros, ninguém é dono de
ninguém. Deu vários discretos olhares para Pedrinho, ele estremeceu na cadeira
ao perceber aquela mulher esplendorosa se escancarando para ele.
Na saída, Pedro conseguiu entregar
um cartão de visita à Rosa, falando-lhe discretamente:
- Telefone-me.
Em casa, antes de dormir, Lourdinha
comentou que Rosa tinha cara de piranha, estava se oferecendo aos homens da festa.
Ainda bem que não havia dado em cima de seu querido marido.
Na segunda-feira Pedrinho
trabalhava no escritório quando recebeu um telefonema de Rosa. Ele quase
explode de alegria. Conversaram algum tempo e marcaram para 3 da tarde,
defronte ao Memorial Teotônio Vilela na praia de Pajuçara.
Ele não atrasou um segundo, a
100 metros percebeu a morena de vestido vermelho rodado. Parou o carro, ela
entrou e sentou-se cruzando as pernas. Seguiram direto para o motel. Pedro não
se apaixona pelas mulheres, gosta simplesmente de ter o prazer em estar com
elas, de flertar, de transar. Acha mulher a criatura mais sublime do planeta. E
uma aventura com uma morena daquela categoria, era a Glória.
Rosa era extremamente divertida,
ainda passou alguns dias na cidade, quando podia, saía com Pedro. Convidou-o a
passar o carnaval no Recife, aliás, em Olinda onde ela morava. Ele iria
conhecer o melhor carnaval do mundo. Deu-lhe o telefone de sua casa.
Pedro ficou matutando, fugir
para Olinda era muito difícil. Faltavam 20 dias para o carnaval quando ele leu
num jornal uma propaganda de um retiro espiritual religioso no Litoral Sul de
Pernambuco durante o carnaval.
Pedrinho imediatamente começou a
ir às missas e disse à esposa que um impulso inexplicável o chamara para
religião. Lourdinha, crente e temente a Deus, deu incentivo para a conversão
religiosa do marido. Ao voltar do trabalho Pedrinho abria a bíblia e orava.
Certo momento ele veio com a
novidade, estava com vontade de fazer um retiro espiritual, só para homens em
Pernambuco durante os quatro dias de carnaval, coisa fechada, não poderia
sequer usar celular. Lourdinha espantou-se com a transformação do marido.
Concordou; ela aproveitaria para visitar a família na fazenda perto de Cacimbinhas
durante o carnaval. Os dois filhos, já homens, se viravam.
Pedro inscreveu-se para o retiro
via E-mail, incluía a hospedagem num ótimo hotel.
No sábado de Zé Pereira, depois
que Lourdinha partiu no carro da irmã para Cacimbinhas, Pedrinho viajou para o
retiro. Conheceu companheiros, orou, saiu a caminhar com a turma. Ao cair da tarde
pegou o carro e tomou a estrada rumo à Olinda. Chegou a tempo. Conforme
combinado, Rosa lhe entregou uma fantasia de mascarado, saíram para a rua. O casal
pulou a noite toda subindo e descendo as ladeiras de Olinda. Hospedado numa
pousada discreta, passou o maior carnaval de sua vida nos braços da morena,
fazendo o passo nos acordes do Vassourinhas, cantando a Evocação e o Frevo da
Saudade.
Na terça-feira, depois do
almoço, dirigiu-se ao retiro, sua falta foi notada por poucos, no encerramento
do encontro recebeu a certidão de frequência para mostrar a Deus. Ao chegar a
Maceió, sozinho, recordava o melhor carnaval de sua vida, com Rosa. Lourdinha só
chegou na quinta-feira. Pedrinho vai continuar frequentando a Igreja por um
tempo. O Carnaval de Olinda vale uma missa.
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