sábado, 1 de setembro de 2018

A IMPLOSÃO DA MENTIRA

Texto de Affonso Romano de Sant'anna 

Mentiram-me.
Mentiram-me ontem e hoje mentem novamente.
Mentem de corpo e alma completamente.
E mentem de maneira tão pungente que acho que mentem sinceramente.
Mentem, sobretudo impunemente.
Não mentem tristes, alegremente mentem.
Mentem tão nacionalmente que acho que mentindo história afora,·vão enganar a morte eternamente.
Mentem, mentem e calam, mas as frases falam e desfilam de tal modo nuas que mesmo o cego pode ver a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil e para alguns é cara e escura, mas não se chega à verdade pela mentira nem à democracia pela ditadura.
Evidentemente crer que uma flor nasceu em Hiroshima e em Auschwitz havia um circo permanentemente.
Mentem, mentem caricaturalmente, mentem como a careca mente ao pente, mentem como a dentadura mente ao dente, mentem como a carroça à besta em frente, mentem como a doença ao doente, mentem como o espelho transparente, mentem deslavadamente como nenhuma lavadeira mente ao ver a nódoa sobre o rio, mentem com a cara limpa e na mão o sangue quente, mentem ardentemente como doente nos seus instantes de febre, mentem fabulosamente como o caçador que quer passar gato por lebre e nessa pilha de mentiras a caça é que caça o caçador e assim cada qual mente indubitavelmente.
Mentem partidariamente, mentem incrivelmente, mentem tropicalmente, mentem hereditariamente, mentem, mentem e de tanto mentir tão bravamente constroem um país de mentiras diariamente.

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