sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

O HOMEM DOS TAMANCOS

Texto de Aloisio Guimarães

Todos nós, que temos mais de 5.0, já usamos tamancos. Os mais jovens já ouviram falar deles, mas muitos não têm a mínima ideia de como eles eram feitos antigamente. Para você, que é jovem, explico que os tamancos eram calçados rústicos, pesados, fabricados artesanalmente, com uma tira de couro e solado de madeira, feito principalmente do tronco da mangueira. Por serem muito pesados, quando andávamos, o contato do solado de madeira com o piso cimentado das casas, fazia um enorme e irritante barulho, do tipo "ploc!, ploc!, ploc!..."  Esclareço ainda, a quem não viveu essa época, que piso cerâmico nas casas era coisa de rico e quase ninguém podia colocá-los; quando muito, o piso era de mosaico.
Além de ser o principal calçado da população pobre, os tamancos serviram também como palmatória, instrumento usado pelos pais para aplicar corretivos nas traquinagens dos seus filhos, batendo com o solado do calçado na palma das mãos da garotada.
Pois bem, durante muitos anos, os tamancos foram os calçados dos meninos e das meninas no nordeste brasileiro. Hoje, os tamancos estão completamente diferentes, mais sofisticados e leves, sendo até artigo de grife. Mas muita gente "boa" já andou de tamancos e morou em casa com piso cimentado...
Apresentado a personagem principal do nosso causo de hoje, o tamanco, vamos a ele:
João José, colega engenheiro civil, conhecido como Jota-Jota, é daquele tipo sonso, "come-quieto", que se faz de morto para comer o coveiro. Contam que, certo dia, a esposa de Jota-Jota precisou da sua ajuda em um serviço doméstico e o chamou:
- Jota-Jota! Vem cá, morzão!
Os minutos passaram e nada do Jota-Jota aparecer. Novamente, a esposa chamou:
- Jota-Jota, tá ouvindo não?! Vem cá!
Nada do Jota-Jota aparecer. Então, a mulher começou a ficar invocada:
- Jota-Jota, cadê você, peste?!
Novamente, nada do Jota-Jota aparecer...
Cansada de não ser atendida, ela resolveu procurá-lo pela casa. Para a sua surpresa, quando ela chegou à área de serviço, flagrou Jota-Jota "brechando" (olhando, escondido, pela fresta da janela) a empregada tomando banho.
Ao ver a cena, a mulher de Jota-Jota esbravejou:
- Ah, então foi por isso que você não me escutou, não foi, seu safado?!
Aí, a confusão rolou solta. Dizem as más línguas e fofoqueiros de plantão que o Jota-Jota chegou até a levar uns tabefes da "dona encrenca", para deixar de ser "mané".
Como castigo, desse dia em diante, a mulher do Jota-Jota fez ele voltar aos seus tempos de criança: agora ele é obrigado a andar sempre de tamancos, pisando forte: “ploc! ploc! ploc!...” Para ela saber em que lugar da casa o “taradinho” se encontra.
Não me perguntem quem é o Jota-Jota: conto o milagre, mas não digo o santo! 

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