quarta-feira, 17 de março de 2021

QUE COISA!

 POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

O TEXTO ABAIXO FOI RECEBIDO POR E-MAIL E NÃO SEI QUEM É O AUTOR DESSA "COISA" QUE VOCÊ VAI LER, MAS QUE É BEM BOLADA NINGUÉM PODE NEGAR.
A palavra "coisa" é um bombril do idioma: tem mil e uma utilidades. É aquele tipo de termo-muleta ao qual a gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma ideia. "Coisas" do português...
Gramaticalmente, "coisa" pode ser substantivo, adjetivo, advérbio... Também pode ser verbo: o Houaiss registra a forma "coisificar". E no Nordeste há "coisar":
Ô, seu coisinha, você já coisou aquela coisa que eu mandei você coisar?
"Coisar", em Portugal, equivale ao ato sexual, lembra Josué Machado. Já as "coisas" nordestinas são sinônimas dos órgãos genitais, registra o Aurélio: "E deixava-se possuir pelo amante, que lhe beijava os pés, as coisas, os seios" (Riacho Doce, José Lins do Rego). Na Paraíba e em Pernambuco, "coisa" também é cigarro de maconha. Em Olinda, o bloco carnavalesco "Segura a Coisa" tem um baseado como símbolo em seu estandarte. Alceu Valença canta: "Segura a coisa com muito cuidado / Que eu chego já." E, como em Olinda sempre há bloco mirim, equivalente ao de gente grande, há também o "Segura a Coisinha". (Incentivando crianças ao uso de baseado?).
Na literatura, a "coisa" é "coisa antiga”; antiga, mas modernista. Oswald de Andrade escreveu a crônica "O Coisa" em 1943. "A Coisa" é título de romance de Stephen King. Simone de Beauvoir escreveu "A Força das Coisas" e Michel Foucault, "As Palavras e as Coisas".
Em Minas Gerais, todas as "coisas" são chamadas de trem. Menos o trem, que lá é chamado de "a coisa". A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz:
Minha filha, pega o trem que lá vem a coisa!
A "coisa" tem história na MPB. Na música popular, tem muita "coisa": "Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça (...)" - A garota de Ipanema era "coisa" de fechar o Rio de Janeiro. "Mas se ela voltar, se ela voltar / Que coisa linda / Que coisa louca." Coisas" de Jobim e de Vinicius, que sabiam das "coisas". Sampa também tem dessas "coisas" ("coisa" de louco!), seja quando canta "Alguma coisa acontece no meu coração", de Caetano Veloso, ou quando vê o Show de Calouros, do Silvio Santos, que é "coisa nossa”. Em 1997, a NASA lançou a "Missão Mars Pathfinder", enviando um robô para explorar Marte. O mecanismo foi programado para ser acionado a partir do som de uma música e a escolhida foi um samba de Jorge Aragão/Almir Guineto/Luis Carlos da Vila. Assim, o robô da Nasa, foi "acordado" com a música: "Ô coisinha tão bonitinha do pai...". Lembram? No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, estava na letra das duas vencedoras: Disparada, de Geraldo Vandré: "Prepare seu coração / Pras coisas que eu vou contar". A Banda, de Chico Buarque: "Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor". Naquele ano do festival, no entanto, a "coisa tava preta” (ou melhor, verde-oliva). E a turma da Jovem Guarda “não tava nem aí com as coisas": "Coisa linda / Coisa que eu adoro". Para Maria Bethânia, o diminutivo de “coisa” é uma questão de quantidade afinal, "são tantas coisinhas miúdas".  "Todas as Coisas e Eu" é título de CD de Gal. "Esse papo já tá qualquer coisa... Já qualquer coisa doida dentro mexe." “Essa coisa doida” é uma citação da música "Qualquer Coisa", de Caetano, que canta também: "Alguma coisa está fora da ordem." "As mesmas coisas", "Coisa bonita", "Coisas do coração", "Coisas que não se esquece", "Diga-me coisas bonitas", "Tem coisas que a gente não tira do coração". Todas essas "coisas" são títulos de canções interpretadas por Roberto Carlos, o "rei das coisas". Como ele, uma geração da MPB era preocupada com as "coisas". Mas, "deixemos de coisa, cuidemos da vida, senão chega a morte ou coisa parecida", cantarola Fagner em Canteiros, baseado no poema Marcha, de Cecília Meireles, uma "coisa linda”.
"Coisa" não tem sexo, pode ser masculino ou feminino. "Coisa ruim” é o capeta. "Coisa boa” é a mulher. Nunca vi "coisa" assim!
"Coisa de cinema”: "A Coisa" virou nome de filme de Hollywood, que tinha o seu “Coisa" no recente Quarteto Fantástico. Extraído dos quadrinhos, na TV o personagem ganhou também desenho animado, nos anos 70.
E no programa Casseta e Planeta, Urgente, Marcelo Madureira faz o personagem "Coisinha de Jesus".
"Coisa" também não tem tamanho. Na boca dos exagerados, "coisa nenhuma" vira "coisíssima". Por essas e por outras, é preciso colocar cada "coisa" no devido lugar. Uma "coisa" de cada vez, é claro, pois uma "coisa é uma "coisa; outra coisa é outra coisa". E “tal coisa" e coisa e tal”.
"O cheio de coisas" é o indivíduo chato, pleno de não-me-toques. "O cheio das coisas", por sua vez, é o sujeito estribado. Gente fina é outra "coisa". Para o pobre, a "coisa" está sempre feia: o salário-mínimo não dá para "coisa" nenhuma.
A "coisa pública” não funciona no Brasil. Desde os tempos de Cabral. Político quando está na oposição é uma "coisa", mas, quando assume o poder, a "coisa" muda de figura. Quando se elege, o eleitor pensa: "Agora a coisa vai!" "Coisa nenhuma! ”, a "coisa" fica na mesma. Uma "coisa é falar; outra coisa é fazer”. Que "coisa feia!” O eleitor já está "cheio dessas coisas"!
Se você aceita qualquer "coisa", logo se torna um "coisa qualquer”, um "coisa-à-toa". Numa crítica feroz a esse “estado de coisas", no poema "Eu, Etiqueta", Drummond radicaliza: "Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente." E, no verso do poeta, "coisa" vira "cousa".
Se as pessoas foram feitas para ser amadas e as "coisas", para serem usadas, por que então nós amamos tanto as "coisas" e usamos tanto as pessoas?
Bote uma "coisa", na cabeça: as melhores "coisas" da vida não são "coisas". Há "coisas" que o dinheiro não compra: paz, saúde, alegria e outras "coisas" mais...
Por isso, faça a "coisa" certa e não esqueça o grande mandamento: "AMARÁS A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS".
- ENTENDEU O ESPÍRITO DA COISA?
 

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