Nezito Mourão é o nome
dele, colega no Colégio Diocesano em Maceió, anos 50, estudioso, 1º de turma, o
Negão jogava um vigoroso futebol. Preferiu a carreira de atleta, beque
extraordinário do CRB, poucos atacantes passavam. Eu tinha maior orgulho em ver
nos jornais fotografias de meu amigo Mourão junto a Pelé e Coutinho no maior
time de futebol que o Brasil já teve, o Santos anos 60 - 61- 62.
Certa vez o Mourão jogava
num time do Recife, a torcida adversária pegou no pé do Negão, xingando,
gritando, “é esse!” incentivando ao adversário dar cacetada. Num lance infeliz
Mourão caiu, foi vaiado pela torcida. Cabeça quente, levantou-se, segurou no
calção, balançou os quibas para torcida. Era jogo televisionado, Mourão teve
que se explicar na Delegacia.
Quando eu morava no Recife,
1966, depois do namoro bem comportado, juntava-me ao irmão Quico para a ronda
noturna nas baladas. Certa noite encontramos Mourão. Imensa alegria, aquele
abraço. Era preciso comemorar o encontro, tomar uma cerveja. Mourão deu a
idéia: Boate Flamboyant, na galeria do Edifício Walfrido Antunes, onde fomos
certa vez com seu amigo, cantor Agostinho do Santos.
Sentamos numa mesa de
pista, pedimos “cuba-libre”, ouvindo a bonita cantora arrasar com músicas de
sucesso. Ela atendeu nossos pedidos, “Felicidade”, “Apelo”, “Chega de Saudade.”
No intervalo a cantora aceitou o convite, sentou-se à nossa mesa. Estávamos num
papo agradável, os 3 amigos paquerando a menina, ela sorria para todos,
entretanto, era notória sua preferência por Mourão. De repente um bêbado
achegou-se à nossa mesa, falou alto com a cantora, mandando se levantar e
esperá-lo na cozinha. Era o proprietário da boate, tinha um caso e pensava que
era proprietário também da bonita artista. Estava bêbado, com ciúme ou com
despeito, coisa de corno, tentava tirar a moça bonita de nossa descontraída e bem-humorada
conversa. O Bêbado insistente segurou-a pelo braço. Mourão, como um cavalheiro,
levantou-se e falou educadamente para o cidadão.
- Meu senhor, a moça está
em nossa companhia, ela só sai daqui se quiser, seja quem for o senhor.
O dono da boate voltou para
o balcão. A moça nos pediu desculpas foi conversar com seu patrão. De repente,
o garçom trouxe a conta pedindo para que nós pagássemos e que nos retirássemos
da boate por ordem do dono, ameaçando chamar a polícia. Como éramos inocentes,
nesse caso, não saímos, ficamos esperando a polícia chegar. Depois de quase uma
hora de espera pagamos a conta, nos retiramos.
Ao sairmos da galeria,
parou um jipe com quatro policiais civis, armados. Entraram na boate.
Dispersamo-nos, cada qual tomou rua diferente. No momento que parei um táxi,
freou o jipe junto a mim, descerem quatro homens armados gritando, eu estava
preso. Conhecendo esse tipo de policial, pedi calma, falei que era tenente do Exército,
tinha que ser ouvido, além de tudo prerrogativa no caso de prisão, ser feita
pela Polícia do Exército. O policial foi taxativo:
- Tenente porra nenhuma!
Vai preso agora, seu merda! Suba!
Como detesto apanhar, subi
no jipe antes que levasse uma cacetada. Na Secretaria de Segurança, um belo
prédio à margem do Capibaribe, desci do jipe escoltado. O Delegado mandou
calar-me quando tentei esclarecer. Só fui ouvido depois de uma hora de espera.
Ao me identificar como tenente do Exército, servindo na 2ª Cia. de Guardas,
tropa de elite do IV Exército, o delegado pediu desculpas, chamou os
investigadores de imbecis.
Na hora de minha prisão,
Quico e Mourão assistiram ao longe. Correram para o Edifício Caeté, onde eu
morava com os tenentes Marinho e Coelho. No momento que o delegado se
desculpava, ouviu-se um barulho na Secretaria, uma patrulha do Exército e meus
amigos, entraram causando tumulto.
Eu fui bombeiro, evitei um
quebra-pau que ia ficar na história do Recife. Agradeci o apoio dos amigos,
mandei a patrulha se recolher. Os soldados estavam inconformados em ver seu
comandante preso. Há pouco tempo um investigador havia matado um soldado da 2ª
Companhia de Guardas, os ânimos estavam quentes por uma vingança. Se eu não
segurasse os soldados, se eu atiçasse, as consequências seriam inimagináveis.
Dia seguinte deu em
manchete num jornal: “Tenente Lima do Exército, acompanhado do jogador Mourão e
um indivíduo, fazem arruaça em uma boate”. O indivíduo era o Quico. E o
pacífico Mourão hoje vive aposentado com uma pousada na Rua do Aragão, centro
do Recife, cheio de recordações do incrível Santos, anos 60, o melhor time do
mundo, inigualável.
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