Texto de Carlito Lima
Há mais de seis anos deixei de dirigir, tornei-me amigo de taxistas.
Gosto de conversar com esses motoristas anônimos, futebol, política (é um
termômetro), o que acontece na cidade. A prefeitura da cidade de São Paulo proibiu
taxistas conversarem esses assuntos com clientes, fico imaginando a conversa de
taxista paulista, Sartre? Tchaikovsky? Marx?
Semana passada peguei um
taxi no posto, disse o destino ao amigo Arara, fomos conversando, perguntei
sobre o movimento dos turistas. Ele não se fez de rogado, gosta de contar casos,
ótimo contador de história. Enfrentamos o trânsito louco enquanto ele narrava
com entusiasmo sua aventura.
- Coronel, o senhor não vai
acreditar, eu aguardava passageiro calmamente no posto, eram 10 horas, quando a
argentina apareceu, coroa bonita, vestido transparente de renda branca, por
baixo maiô azul claro. Sorrindo foi negociando o custo em levá-la à praia de
Ipioca e ficar esperando até às três da tarde, o almoço ela pagava. Fiz meus
cálculos, ela aceitou. Sentou-se no banco dianteiro, partimos rumo ao litoral
norte. A coroa se apresentou, Filipa, mora em Córdoba, fascinada por Maceió,
está comprando um apartamento na Jatiúca, sempre passa férias e feriados, conhece
todas as praias, apaixonada por Ipioca. Ficou empolgada ao passarmos pelas
novas ruas e avenidas em frente ao mar. Em Ipioca, estacionei embaixo de uma
árvore, Filipa desceu, rumou à barraca de praia, acompanhei-a à distância, pediu
ao garçom, sombrinha, mesa, cadeira. Eu apreciando, a argentina tirou o
vestido, de maiô respirou fundo, de repente correu, entrou no mar, pulou marolas,
mergulhou.
Interessadíssimo na história,
perguntei:
- Que tal a coroa?
- Uma Deusa, corpo enxuto,
tudo em seus lugares, foi campeã de natação na Argentina.
Respondeu o Arara com ar de cumplicidade. Continuou:
- A bonitona nadou meia
hora mar a dentro. Saiu da água saltitando, feliz, alegre, sorrindo, deu-me um
adeus ao longe, retornou à mesa, ajeitou a sombrinha pediu ao garçom cerveja e
peixe frito, camarão. Na segunda cerveja ela virou-se, chamou-me com os dedos,
atendi, sentei-me a seu lado, num português com sotaque entendível, conversamos
bastante. Trocou para uísque, eu na coca. Cada vez soltava-se mais,
perguntou-me que tal a veterana? Só depois entendi que veterana é coroa, mulher
usada, seminova, em argentino. Respondi, “a senhora ganha de muita jovem”.
Arara, todo orgulhoso disse ter notado depois da bebida um clima de
paquera.
- Filipa puxou assuntos
picantes, sexo e coisa e tal. Ela perguntou-me se queria almoçar em algum restaurante
ou comeria na barraca, respondi-lhe que o peixe estava ótimo, matava a fome com
aquele delicioso bijupirá e camarão. Ela tomava uísque como se fosse cerveja,
sorria, cantava, quase embriaga, deu três da tarde, ela falou que não
importasse a hora, pagava mais. Às quatro, ela pagou a conta, levantou-se, eu
ajudei-a a levar o vestido, de maiô entrou no carro, cantando e sorrindo. Ao
sentar-se, de repente olhou para mim, puxou meu rosto, beijou-me a boca, ficamos
grudados. Olhamos, olhos nos olhos, ela deu as ordens, para o hotel. Segui com
o carro conversando com a veterana, não deixava de sorrir e cantar. No hotel levei-a
ao quarto, nos abraçamos, fomos ao banho. Passei um resto de tarde maravilhoso,
coroa extraordinária a argentina nadadora, sabia tudo na cama. Sai às nove da
noite, pagou-me o combinado, deixei-a dormindo.
Eu ansioso por saber se a argentina estava ainda na cidade,
perguntei se ele a procurou novamente, qual hotel se hospedava. Arara continuou
sua história:
- No dia seguinte fui ao
hotel, encontrei-a no café da manhã, pediu-me para sentar, disse-me em seu espanhol:
"Arara, me gustó sair con usted, pero, saio solamente una vez, sin repetir
lo taxista, una vez cada uno, una vez nada más, solamente una vez."
Levantou-se, entrou no hotel. Com alguns dias descobri, três colegas taxistas
tiveram a mesma aventura maravilhosa com a argentina. Vão completar dois meses,
nunca mais avistei a veterana".
Chegamos ao nosso destino, Arara parou o taxi, eu pensando, "solamente una vez", deu-me uma
ponta de inveja do Arara.
Aloísio,meu caro... Sempre curto suas postagem. São Ótimas! Nunca comentei, mas estou sempre atualizado com o que você coloca, aqui, no blog. Recebo as informações no meu e-mail. Agora estou brincando de ser escritor. Publiquei meu primeiro livro O VENENO NOSSO DE CADA DIA, pela Editora Viva, Maceeió. Como seu blog é um espaço cultural,gostaria de saber se é possível você fazer uma divulgação aqui, no blog.
ResponderExcluirSeverino Ramos Barbosa
Caro Severino,
ExcluirCaso tenhas algum material para divulgação, podes enviá-lo pelo e-mail, que terei o prazer em atender o teu pedido.
Sucesso.
Abraço.