Psiquiatra e Psicoterapeuta

Assim, após escutá-las atentamente, eu lhes digo que não precisam
de nenhum antidepressivo; digo-lhes que precisam de um amante!
É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem meu
conselho. Há as que pensam: "Como é
possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa dessas"?! Há
também as que, chocadas e escandalizadas, se despedem e não voltam nunca mais.
Aquelas, porém, que decidem ficar e não fogem horrorizadas, eu
explico o seguinte:
- “Amante" é aquilo
que nos "apaixona", é o que
toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono. É também aquilo que,
às vezes, nos impede de dormir. O nosso “amante"
é aquilo que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É
o que nos mostra o sentido e a motivação da vida. Às vezes encontramos o nosso “amante" em nosso parceiro; outras,
em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e
sensações incríveis. Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na
literatura, na música, na política, no esporte, no trabalho, na necessidade de
transcender espiritualmente, na boa mesa, no estudo ou no prazer obsessivo do passatempo
predileto... Enfim, é "alguém"
ou "algo" que nos faz
"namorar a vida" e nos
afasta do triste destino de "ir
levando". E o que é "ir
levando"? “Ir levando” é ter
medo de viver. É o vigiar a forma como os outros vivem, é o se deixar dominar
pela pressão, afastar-se do que é gratificante, observar decepcionado cada ruga
nova que o espelho mostra, é se aborrecer com o calor ou com o frio, com a
umidade, com o sol ou com a chuva. Ir levando é adiar a possibilidade de
desfrutar o hoje, fingindo se contentar com a incerta e frágil ilusão de que
talvez possamos realizar algo amanhã. Por favor, não se contente com "ir levando"; procure um amante, seja
também um...
Para estar satisfeito,
ativo e sentir-se jovem e feliz, é preciso namorar a vida.