Nove meses após o
casamento do Dr. Romero e Dona Marilena nasceu Maria Aparecida; ano depois veio
Ana Maria. As duas eram xodós da mãe, Dona Marilena, como se brincasse de
boneca, vestia as duas iguaizinhas, andavam juntas, estudavam juntas, só não pareciam
gêmeas porque Cidinha era branca, igual à mãe, e Aninha, morena, como o pai.
Na adolescência a
primeira revolta, acabaram esse negócio de se vestirem iguais. Aos 13 anos,
Aninha, mais esperta, já havia beijado um namoradinho. Cresceram na praia da
Pajuçara. A juventude dos anos dourados era uma festa, apareceram namorados, Henrique
amava Aninha que amava João que amava Cidinha que amava Henrique, assim, nesse
círculo amoroso, passou o tempo. Para desespero e dor de corno de Henrique,
João namorou Aninha, engravidou, noivaram e casaram em uma festa bonita no
sítio dos pais na Massagueira, beirando a Lagoa. No dia do casamento, sem
esperança de Aninha, Henrique cedeu aos encantos de Cidinha, começaram namoro, em
dois anos casaram-se na mesma casa, no mesmo terraço, no mesmo jardim.
Anos passaram, os dois
casais unidos em torno da família, vieram filhos para alegria dos avós. Dr.
Romero comprou três apartamentos no mesmo prédio onde foi morar, deu um a cada
filha, facilitando a visita constante dos netos, para felicidade de Dona
Marilena.
Entretanto, a vida é um
relâmpago como disse o poeta Lêdo Ivo, de repente um infarto, Dr. Romero caiu
fulminado no chão de sua cozinha onde gostava de se deliciar com carnes gordurosas
e as pernas das empregadas, tinha o pecado de gostar de mulher, às vezes se
distraia com raparigas arranjadas por Audálio, o motorista.
Os genros tomaram conta
dos negócios do sogro, inclusive uma fazenda lucrativa, eles se davam bem,
corretos, os negócios continuaram a dar sustento de classe média alta para
família. Entretanto, João percebia, era visível o carinho, o desvelo, de
Henrique por sua mulher, tinha ciúme contido para o bem da família.
O destino tem seus
caprichos. Certa noite os dois casais saíram para uma festa, muito vinho,
comida, bebida. Ao voltar, João dirigia em velocidade, Henrique pediu para desacelerar,
João virou a cabeça:
- Está com medo?
Nesse momento, um
estrondo, um jipe vinha no sentido contrário bateu de lado, o carro virou duas
vezes, gritos de dor. Custou a chegar socorro. Todos levados ao hospital foram
atendidos, apenas João precisava maiores cuidados, ficou internado, entrou em
coma, morreu uma semana depois. Maior tristeza para família, muita dor,
contudo, a vida continuou.
Um ano após a morte de
João, Cidinha inventou uma viagem, um cruzeiro às Ilhas Gregas. Deixaram os
filhos com a avó. Na Itália, tomaram um transatlântico de luxo, duas semanas
visitando as românticas, Miconos, Patmos, Lesbos, entre outras. No navio, toda
noite depois do jantar, dançavam, se divertiam, arranjavam paqueras para
Aninha, sempre rejeitados discretamente. Certa noite a orquestra tocou "As
Time Goes By", Aninha pediu permissão à irmã pegou na mão de Henrique,
puxou-o, dançaram lentamente. Aninha abraçava o cunhado, olhou em seus olhos
perguntando:
- Lembra da música, vimos o filme juntos no Cinema de Arte?
Ele sorriu.
- Inesquecível, está guardada
em minha mente e coração, já assisti "Casablanca" 300 vezes pensando
em você.
Aninha sorriu. Ele
continuou:
- Somos adultos, quase velhos, entretanto, amor não envelhece, nunca
deixei de lhe amar, todos sabem, inclusive João, ele sabia. Só agora confesso a
verdade, apenas para nós dois, casei-me com Cidinha para estar perto de você.
Calaram-se,
abraçaram-se, juntaram o rosto. Nesse momento Henrique sentiu uma mão leve nas
costas, a esposa comunicava cansaço, ia se recolher, ficassem mais um pouco. Dançaram
apertados. Discretamente entraram no camarote da cunhada e se amaram pela
primeira vez com toda ternura recolhida que tinham para dar.
Dia seguinte, no café da
manhã, os três felizes, alegres, conversavam sobre o que viria na continuação.
Ao retornarem, contaram as aventuras à família e aos filhos, mostrando fotos da
viagem linda maravilhosa...
Henrique, hoje, aos 63
anos, vive bem com Cidinha, a esposa, em seu apartamento. Vez em quando, encontros
de amor, ternura e carinho com Aninha, a cunhada.
Os três sabem,
discretamente...
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