terça-feira, 27 de outubro de 2020

VOTO DE CABRESTO

 Texto de Aloisio Guimarães

Os mais novos não alcançaram, mas as nossas eleições já foram manuais, tanto a votação como a sua apuração. Era uma época do vale-tudo: “voto de cabresto”, “voto camarão”, “voto carbono”, “voto formiguinha”... Eram artimanhas usadas pelos endinheirados e maus políticos para ganhar a eleição.
E como funcionava o processo manual de votação? Na hora de votar, o eleitor recebia a cédula e um envelope, onde era colocado o voto, e depois depositado na urna. Hoje, a eleição é toda informatizada, mas, mesmo assim, muitos safados ainda tentam fraudar a vontade do povo. Agora, além do Bolsa Família, instrumento de dominação da vontade popular, dizem que o voto mais famoso do processo eleitoral é o “voto zap-zap”, onde o eleitor, munido do celular, filma o seu voto, para depois mostrar ao candidato e assim receber o seu “bônus”.
Como acabar com isto? É muito simples: no que se refere ao “Bolsa Família”, deve-se fazer uma triagem rigorosa para eliminar muita gente que está recebendo, sem merecer, e com isso diminuir a sua influência nas eleições. No tocante ao voto “zap-zap", que tal proibir e punir quem entrar na cabine de votação com aparelho celular. É só querer...
Pois bem, vamos ao nosso causo:
Contam que, em décadas passadas, o “Coroné” Tenório, rico fazendeiro de uma conceituada cidade do sertão alagoano, era o “chefe político da região”. Quem quisesse ser eleito tinha que pedir a benção dele, antes de se candidatar, e assumir o compromisso de ser “pau mandado” dele, após eleito.
Nesse tempo, quase que não existia fiscalização eleitoral. Se existia, era uma faz de conta. Ai daquele que se atrevesse a denunciar...
Pois bem, no dia da eleição, o "Coroné" Tenório reuniu a peãozada da sua fazenda, entregou um envelope fechado a cada um deles e avisou:
- Pessoá, cada um de vosmicês, vai receber um envelopi igualzinho a esse qui vosmicês receberam agora. Vão pegar o envelopi que vão receber no locá de votação, guardá no bolso e colocá na urna essi que lhe entreguei agora. Num quero ninguém de cunversa por aí... Cabou de votá, vem direto pra fazenda, entendidu?
Nisso, um peão pergunta:
- Sinhô "Coroné", eu num posso pelo menus abrir o envelopi prumode vê em quem  tô votando?
Ao ouvir a pergunta do caboclo atrevido, o “Coroné” Tenório, esbraveja:
- Oxente! Deixe de besteira seu cabra! Vosmicê nunca ouviu dizê que o voto é secreto?!

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