quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

O VIBRADOR

 POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES 

No final do século XIX a “histeria”, suposta doença que os gregos tinham descrito como "útero ardente", era considerada uma "doença" exclusivamente feminina e se tornou numa espécie de praga entre as mulheres da época. 
Para apagar esse "fogo", a massagem clitoriana era dada como sendo o único tratamento adequado contra a histeria. Dessa forma. centenas de mulheres iam ao médico apenas para que tivessem a zona vaginal massageada e induzidas a um "paroxismo histérico", hoje conhecido como orgasmo. 
Qualquer comportamento estranho, como "ansiedade", "irritabilidade" e "fantasias sexuais", era considerado como um claro sintoma de histeria e a mulher era imediatamente enviada ao médico para receber uma massagem clitoriana relaxante. masturbação realizada pelos médicos nas mulheres viralizou tanto que a quantidade delas que iam às consultas foi tão grande que os médicos começaram a ter problemas de LER (Lesões por esforço repetitivo) nas mãos e pulsos - haja siririca!. Para aliviar as dores pelo excesso desse "trabalho manual", os médicos começaram a usar vários objetos na tentativa de minimizar o trabalho!  
Somente no ano de 1880 foi que o doutor Joseph Mortimer Granville, cansado de tanto masturbar manualmente as suas pacientes, criou e patenteou o primeiro vibrador eletromecânico com uma forma fálica (forma de pênis)..
No inicio, os vibradores eram bastões de plástico com um mecanismo bastante complexo, deixando o produto muito pesado e de difícil manipulação. Mesmo assim a variedade de vibradores é absurda: muitos modelos funcionavam com energia elétrica, outros com baterias ou gás ou água, inclusive foram desenvolvidos alguns que funcionavam a pedal. E os aparelhos tinham velocidades que variavam de 1.000 a 7.000 pulsações por minuto. 
Foi devido à grande procura e a fabricação em escala comercial que os preços dos vibradores logo começaram a ser compatíveis para uso doméstico e deixaram de existir somente nos consultórios médicos. Sua comercialização chegou a tal extremo que alguns modelos incluíam um adaptador que convertia o vibrador numa batedeira de bolo. E foram os primeiros aparelhos de uso pessoal a serem introduzidos em casa, precedendo o secador de cabelos e o aspirador de pó. Modelos como o "Barker Universal", o "Gyro-Lator" ou a "Miracle Ball” começam a ser comercializados através dos jornais de tiragem nacional. "A vibração é a vida", diziam alguns anúncios. "Porque você, mulher, tem o direito a não estar doente" era o principal mote de muitos catálogos femininos onde o vibrador era publicitado como "instrumento para a tensão e ansiedade feminina". Seu uso era promovido como uma forma de manter às mulheres relaxadas e contentes. "A vibração proporciona vida e vigor, força e beleza" ou ainda "O segredo da juventude foi descoberto na vibração". 
Sabemos o que o uso do vibrador significa nos dias de hoje, mas naquela época, a aplicação do vibrador sobre o clitóris era tida como uma prática exclusivamente médica, não sendo considerado ato sexual. 
Os problemas, os tabus e a grande "sacanagem" começam mais tarde, a partir de 1920, pois foi a partir deste ano que os médicos abandonaram o uso do vibrador em seus consultórios pois eles começaram a aparecer em filmes pornográficos. E, neles, as “atrizes” curavam sua histeria frente as câmaras. Os filmes fizeram com que o vibrador ficasse estigmatizado como coisa de mulheres da vida; nenhuma mulher fina ou mãe de família poderia ter uma histeria tranquila, sabendo que a rameira da esquina fazia uso do mesmo instrumento.
Nos anos seguintes, a venda de vibradores foi então disfarçada sob formas de discutível sutileza. Imagine a felicidade daquela esposa que, tendo recebido um aspirador de pó como presente de aniversário de seu marido, se deparasse com a panaceia ao abrir a caixa. A partir desse momento, o vibrador começou a perder sua imagem de instrumento médico e nos finais dos anos 60, início da "queima dos sutiãs", quando estudos revelaram a importância do orgasmo pela estimulação direta no clitóris, o vibrador se popularizou como um aparelho sexual fundamental para a mulher. Daí, veio a primeira grande mudança: agregar ao bastão uma capa de silicone ou látex, dando ao produto novos formatos e cores e proporcionando um contato muito mais agradável à pele. Em seguida, com a evolução tecnológica, micromotores foram desenvolvidos aliados a baterias mais leves e duradouras, reduzindo o peso dos produtos e criando vários tipos de vibração para estimular ainda mais a região pubiana.
A empresa Canden Enterprises lançou o "Earth Angel", o primeiro vibrador ecológico, o primeiro aparelho do género a funcionar sem pilhas e ativa-se graças a um mecanismo que utiliza uma manivela (voltamos aos anos 20) para carregar. A empresa assegura que com apenas quatro minutos usando a manivela, o aparelho funcionará durante 30 minutos.
O cinema - sob uma ótica não pornográfica - prestou sua homenagem aos vibradores. As filmagens foram realizadas nas cidades de Londres e Luxemburgo. O filme, "Hysteria" ("Histeria", em tradução livre), se passa na Era Vitoriana e mostra dois médicos que tratam casos de histeria, uma condição caracterizada por uma irritabilidade aguda, raiva e choro súbito, associada às mulheres. Um dos personagens faz um experimento elétrico para o tratamento da "doença".

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