terça-feira, 9 de dezembro de 2014

CADÊ O MEU LUGAR?

Texto de Rubens Mário
 PROFESSOR E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

Felizmente, ainda não me acostumei com esse novo mundo globalizado e repleto de modernismos insanos, cruéis e desvairados. Nessas minhas observações tomarei como parâmetro, apenas, a nossa, outrora, gostosa, Maceió provinciana. Há algum tempo, não vou precisar o espaço temporal, pois, tudo ainda está bem vivo na minha doce lembrança, eu era feliz, mas, sem imaginar as abruptas e trágicas transfigurações mundanas que estavam por vir, hoje sinto que poderia ter aproveitado melhor tudo daquele tempo - a música, os campinhos de pelada, a família, as praças, os “rachas” na praia do Sobral, as festas na praça, o carnaval, o folclore, a paz nas ruas, as escolas públicas, e, tudo mais.
No começo da minha infância, na rua Pedro Monteiro, lembro dos bucólicos bangalôs, com seus lindos jardins de muros baixos,  mesmo assim, intransponíveis à roubos e invasões - muito raros naquele tempo; no final daquela rua  ficava a pioneira e potente Rádio Difusora. Semelhante às outras crianças, independente de classe social, estudávamos num grupo escolar público - Fernandes Lima - e, ainda me recordo da nossa professora, “dona” Eurídice, e que, após fazer junto com meu irmão, Robson, as tarefas da escola, vigiados por nossa mãe, íamos brincar nas baias - imenso terreno situado por trás da casa onde morávamos, em frente a Santa Casa - ou na praia do Sobral, onde os únicos perigos  eram as traiçoeiras “bacias” do agitado mar, até as imediações do “salgadinho”.
Mais tarde, no começo da nossa adolescência, já residindo em frente a “praça da faculdade”, vivi momentos extasiantes! Após à nossa aprovação no exame de admissão ao ginásio do saudoso Colégio Estadual de Alagoas, apesar dos conturbados momentos políticos, ainda tínhamos paz, família e educação. A violência atribuída à nós pelo povo do sul e do sudeste, era tão somente a  praticada entre os políticos e algumas famílias alagoanas que brigavam pelo poder e pelo dinheiro. Nas ruas, raramente, assistíamos à um roubo ou assassinato, exceto na situação narrada acima. Um pouco mais tarde, já na UFAL, lembro com bastantes saudades quando saíamos da Universidade, à noite, entre os anos 70 e 80, após tomarmos alguns copos de cerveja pela cidade, terminávamos a noitada, já na madrugada, no saudoso bar “Gracy”, por trás do também nostálgico, cinema “ideal”. Dali, à pés, ia sossegado, para a minha residência em frente a querida praça da “faculdade”. Hoje, passar por aquele local, mesmo em plena luz do dia, torna-se um ato de coragem e bravura.
A saudosa praça do “Pirulito”, atualmente, antro de desordem de todos os tipos, dividia com a nossa, igualmente, nostálgica, praça da “Faculdade”, os mais saudáveis pontos de encontro da população, especialmente, do bairro do Prado e adjacências. Lembro com certa melancolia, das memoráveis festas de São João e Natal, nas duas praças.  A música que nós ouvíamos, mesmo a chamada brega, era audível e tinha qualidade. A palavra assalto só ouvíamos quando algum colega nos convidava para ir a sua casa, onde  cada um levava algo para beber e comer.
Hoje, vivemos sobressaltados, aprisionados em apartamentos ou em residências de muros altos, com cercas elétricas e câmeras de segurança, dantes só vistas em filmes de ação. As crianças perderam as suas inocências e cometem atos inimagináveis para os adultos dos tempos idos; a nossa Rádio Difusora perdeu a sua hegemonia para o poder econômico; a música foi substituída por excrescências “berradas” por imbecis  sem pudor e sem talento; a praia do Sobral foi desertada e hoje, serve apenas como depositária de esgotos e, à noite, de  ponto de encontro de travestis e afins; o nosso folclore agoniza torturado de forma  covarde e impiedosa, pois,  a nossa cultura foi substituída por modismos manquitolantes exportados de plagas alheias. O inchaço populacional e a emergência mercantil expulsaram as famílias tradicionais do entorno das duas praças e permitiu a desertificação das nossas praias do Sobral e da Avenida.
Agora eu pergunto: cadê o meu lugar?

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