PROFESSOR E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS
Felizmente, ainda não me acostumei com esse novo mundo globalizado e
repleto de modernismos insanos, cruéis e desvairados. Nessas minhas observações
tomarei como parâmetro, apenas, a nossa, outrora, gostosa, Maceió provinciana.
Há algum tempo, não vou precisar o espaço temporal, pois, tudo ainda está bem
vivo na minha doce lembrança, eu era feliz, mas, sem imaginar as abruptas e
trágicas transfigurações mundanas que estavam por vir, hoje sinto que poderia
ter aproveitado melhor tudo daquele tempo - a música, os campinhos de pelada, a
família, as praças, os “rachas” na praia do Sobral, as festas na praça, o
carnaval, o folclore, a paz nas ruas, as escolas públicas, e, tudo mais.
No começo da minha infância, na rua Pedro Monteiro, lembro dos bucólicos
bangalôs, com seus lindos jardins de muros baixos, mesmo assim, intransponíveis à roubos e
invasões - muito raros naquele tempo; no final daquela rua ficava a pioneira e potente Rádio Difusora.
Semelhante às outras crianças, independente de classe social, estudávamos num
grupo escolar público - Fernandes Lima - e, ainda me recordo da nossa
professora, “dona” Eurídice, e que, após fazer junto com meu irmão, Robson, as
tarefas da escola, vigiados por nossa mãe, íamos brincar nas baias - imenso terreno
situado por trás da casa onde morávamos, em frente a Santa Casa - ou na praia
do Sobral, onde os únicos perigos eram
as traiçoeiras “bacias” do agitado mar, até as imediações do “salgadinho”.
Mais tarde, no começo da nossa adolescência, já residindo em frente a
“praça da faculdade”, vivi momentos extasiantes! Após à nossa aprovação no
exame de admissão ao ginásio do saudoso Colégio Estadual de Alagoas, apesar dos
conturbados momentos políticos, ainda tínhamos paz, família e educação. A
violência atribuída à nós pelo povo do sul e do sudeste, era tão somente a praticada entre os políticos e algumas
famílias alagoanas que brigavam pelo poder e pelo dinheiro. Nas ruas,
raramente, assistíamos à um roubo ou assassinato, exceto na situação narrada
acima. Um pouco mais tarde, já na UFAL, lembro com bastantes saudades quando
saíamos da Universidade, à noite, entre os anos 70 e 80, após tomarmos alguns copos
de cerveja pela cidade, terminávamos a noitada, já na madrugada, no saudoso bar
“Gracy”, por trás do também nostálgico, cinema “ideal”. Dali, à pés, ia
sossegado, para a minha residência em frente a querida praça da “faculdade”.
Hoje, passar por aquele local, mesmo em plena luz do dia, torna-se um ato de
coragem e bravura.
A saudosa praça do “Pirulito”, atualmente, antro de desordem de todos os
tipos, dividia com a nossa, igualmente, nostálgica, praça da “Faculdade”, os
mais saudáveis pontos de encontro da população, especialmente, do bairro do
Prado e adjacências. Lembro com certa melancolia, das memoráveis festas de São
João e Natal, nas duas praças. A música
que nós ouvíamos, mesmo a chamada brega, era audível e tinha qualidade. A
palavra assalto só ouvíamos quando algum colega nos convidava para ir a sua
casa, onde cada um levava algo para
beber e comer.
Hoje, vivemos sobressaltados, aprisionados em apartamentos ou em
residências de muros altos, com cercas elétricas e câmeras de segurança, dantes
só vistas em filmes de ação. As crianças perderam as suas inocências e cometem
atos inimagináveis para os adultos dos tempos idos; a nossa Rádio Difusora
perdeu a sua hegemonia para o poder econômico; a música foi substituída por excrescências
“berradas” por imbecis sem pudor e sem
talento; a praia do Sobral foi desertada e hoje, serve apenas como depositária
de esgotos e, à noite, de ponto de
encontro de travestis e afins; o nosso folclore agoniza torturado de forma covarde e impiedosa, pois, a nossa cultura foi substituída por modismos
manquitolantes exportados de plagas alheias. O inchaço populacional e a emergência
mercantil expulsaram as famílias tradicionais do entorno das duas praças e
permitiu a desertificação das nossas praias do Sobral e da Avenida.
Agora eu pergunto: cadê o meu lugar?
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