Membro das Academias Maceioense e Alagoana de Letras e do IHGAL
Os números são chaves de ouro. Com elas podemos abrir o baú
da história e desnudar o ocorrido através dos tempos. Sem dúvida, o mundo é
norteado por um somatório de algarismos que, juntos, muito significam no
desenvolvimento da humanidade: Os trezentos de Esparta, por exemplo, reverencia
um grupo de guerreiros gregos que, quase cinco séculos antes da vinda de
Cristo, no Estreito de Termólipas, lutaram até a morte para refrear a invasão
do Rei Xerxes e seus milhares de soldados persas.
Ao mencionarmos “Ali Babá”, os pensamentos
são remetidos a algum lugar do oriente e se deparam com os quarenta ladrões,
cujo chefe, ao pronunciar a frase mágica Abre-te-Sésamo, movia enorme pedra,
desnudando passagem para uma caverna recheada de jóias, surrupiadas nas
inúmeras pilhagens praticadas por eles. Ao vislumbrarmos o céu repleto de
pérolas brilhantes, nossos olhos se deparam com a Constelação das três Marias,
também conhecida como Cinturão de Orion, o caçador gigante que, morto por um
escorpião, foi designado por Zeus para proteger a abóbada celeste.
Definitivamente, números vinculam fatos a
eras, de forma tão matematicamente cirúrgica que, quando acontecem,
dificilmente são esquecidos, mas, muito pelo contrário, repetidos com um
aperfeiçoamento incrível. Que o digam as centenas de larápios roubando, de
forma inusitada, os cofres públicos e privados deste imenso país chamado Brasil.
Falando em números e Brasil, nos últimos dias os filhos da
pátria quedaram boquiabertos ante o fantástico índice negativo alcançado por
alunos deste país que parece nunca cansar de dormir em berço esplêndido: ao
participarem do último ENEM, uma prova elaborada pelo Ministério da Educação
para verificar o domínio de competências e habilidades dos mesmos, nos anos de
estudo que antecedem o ingresso na Universidade, receberam quinhentos e trinta
e nove mil zeros em Redação. Um retrato da pobreza em que vivemos, devido,
principalmente, à explícita falta de respeito das autoridades às gerações
teoricamente sucessoras de suas funções e postos, ou melhor, à imagem e
semelhança dos que, momentaneamente, detém o poder.
Outro dia, em um ambiente público,
vislumbrei uma “autoridade” exercendo a competência de seu posto. Como bom
curioso, fiquei espiando o desenrolar do evento. Resolvido o imbróglio, o
competente superior se dirigiu a uma vendedora de galeto e perguntou quanto
custava “doizi”. A comerciante, sem entender, replicou: Hein? Ele repetiu a
palavra “doizi”, espalmando um par de dedos na direção de seu rosto. Como era
concursado, tenho certeza que aquele dirigente expressou “doizi”, por vício de
linguagem e não por ignorância. É uma pena, mas, é este o retrato de nosso
povo. Tenho esperança que aquele homem, detentor do poder, não trabalhe no
“nônimo” andar de sua repartição.
Felizmente, ainda há tempo para somarmos
ideias e multiplicarmos esperanças, ensejando que o saber possa iluminar a
mente de milhares de jovens brasileiros, hoje vagando na falta de cultura.
Rostand,
ResponderExcluirO número de zeros na Prova de Redação no último Enem é um retrato fiel do sistema de ensino no Brasil, onde a meritocracia foi substituída pela cor da pele. Um sistema de ensino que leva o pobre a ir à escola não para aprender, mas para comer e, os mais abastados, não para aprender, mas apenas para dar satisfação ao papai, passar de ano e serem premiados. É claro que toda regra tem exceção.
Quanto à "otoridade", ele é a prova de que o nosso país vai continuar "o mesmo" por muitos anos: "gunvernado" por meia "duiza" de analfabetos, se mantendo no poder, comprando votos com bolsas e outros programas.
Brilhante texto.
E, no contexto, nota "deizi", como diria a "otoridade".
Concordo plenamente com o comentário já feito... Valeu muito o texto; valeu muito o comentário.
ResponderExcluir