
Na manhã seguinte depois de
tomar um café generoso daqueles que só existe na casa da nossa mãe, dirigi o
carro rumo à Faculdade. Ao ligar o rádio sintonizado num programa de ronda
policial, o locutor escandaloso esbravejava contando os acontecimentos:
- E
atenção para essa notícia da juventude transviada! Um bando de xexelentos,
rabugentos, estudantes da Faculdade de Engenharia da UFAL, promoveu um bacanal
na praia da Sereia juntamente com algumas mundanas. Estavam como vieram ao
mundo perturbando a moralidade pública, um escândalo na praia da Sereia. A
depravação era tanta que uma moradora da redondeza chamou a Rádio Patrulha.
Todos foram recolhidos à 1ª Delegacia de Polícia da Capital.
Logo percebi que os xexelentos
eram meus colegas. Mentalmente agradeci à namorada por não ter ido à festa. Na
Faculdade um dos colegas contou a proeza, às gargalhadas.
Os meninos saíram em dois carros
e um jipe percorrendo alguns pontos da cidade pegando as convidadas para a
festinha. Eram sete acadêmicos e oito mulheres na praia em noite de lua cheia.
No bar discreto pediram cerveja, cachaça, rabo de galo, tira-gosto de camarão,
panã, siri, cioba. Todos conversando, sorrindo e cantando. A animação
prosseguiu, um dos colegas tocava divinamente flauta, deu um show tocando
músicas de Chico Buarque e Caetano. A cachaça rolava. Alguns mais apressadinhos
davam uma saída para deitar-se olhando a Lua, os corpos rolando, lambuzando-se
de areia da praia, parecia filé à milanesa.
Em certo momento, alguém teve a ideia:
- Está
tudo muito bom, festa arretada, mas vamos animar um bocadinho, é tarde da noite
e não tem vizinho por aqui. Vamos brincar de pega! As meninas correndo na
frente se escondem, nós partimos depois para procurá-las. Quem conseguir achar
e pegar alguma, os dois vão saudar Iemanjá num banho de mar ou em qualquer
lugar. A ordem é essa!
A sugestão foi aceita por
unanimidade. Logo estavam os 13 festeiros correndo e gritando pela praia
iluminados por um luar prateado. Viam-se os vultos correndo e ouviam-se os
gritinhos nervosos das meninas escondendo-se dos caçadores, brincadeira
apimentada. Dois amigos preferiram ficar sentados no bar apenas olhando a
brincadeira de pega, divertindo-se. Já durava uma hora de corre-corre, quando
apareceu um jipe em marcha lenta com luz alta acesa focando os alegres jovens
que brincavam de pega. Quando focou um dos acadêmicos pegando uma bonita
morena, o estudante virou-se gritando alto.
- Apague
essa luz, seu filho....!!!
O jipe parou, saltaram três
policias com cassetete na mão e revólver nos quartos, era a Rádio Patrulha.
Prenderam o casal. O comandante chamou todos para reunirem-se no bar. O pessoal
foi se achegando, vestindo a roupa. Um dos estudantes apresentou-se como aluno
do NPOR, mas não houve acordo. O sargento comandante da patrulha informou que a
denúncia foi uma ligação de um capitão do Exército que morava pela redondeza
pedindo para acabar aquela imoralidade pública, contra os bons costumes. Exigiu
a prisão de todos os marginais da orgia.
Convidados para comparecerem à
delegacia, foram os quinze pegadores, pecadores. O delegado logo trancafiou as
mulheres no xadrez. A sorte é que um dos acadêmicos era primo do delegado. Os
estudantes comovidos pediram para liberar as meninas. Às quatro da manhã
chegaram a um acordo, os homens estavam liberados, podiam ir para casa, as
mulheres depois seriam soltas. O delegado não cumpriu o acordo, as moças
dormiram na delegacia, foram soltas no dia seguinte. Jornalistas encarregaram-se
de espalhar a notícia do bacanal nas rádios e jornais.
Hoje esses engenheiros da brincadeira
de pega na praia da Sereia são respeitosos pais de famílias, avôs, ainda
trabalhando pelo desenvolvimento do belo Estado das Alagoas. E essa turma de
Engenharia 1971 ainda se reúne toda primeira quinta-feira do mês num almoço
fraterno, nostálgico e alegre, lembrando-se das histórias da juventude.
Essa e outras histórias serão
contadas na peça SE FOR PRA CHORAR QUE SEJA DE ALEGRIA - Dia 5 de julho no
Teatro Deodoro – Maceió - 19 horas.
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