Texto de Rubens Mário
O São João sempre foi a festa
mais popular e mais bonita do Nordeste brasileiro. Tudo dessa época é muito
bonito e gostoso - as comidas, os enfeites, as fogueiras, os fogos, e,
principalmente, a música genuína.
PROFESSOR E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

No passado, a festa era muito
tradicional e a cultura nordestina era respeitada. Muita gente vinha de outras
regiões atraída pelas nossas tradições culturais. Na época, ainda tínhamos vivo
o grande mestre “Gonzagão”, que, mesmo vivendo no sudeste, divulgava a verdadeira
música e o sotaque nordestinos não só para as outras regiões do país, mas, para
todo o mundo, e olhem que o mundo ainda não estava globalizado! Aqui e acolá, o
xote, o xaxado e o baião, eram ecoados pela sanfona, o triângulo e a zabumba,
através do “Gonzagão”, e foi tocado e cantado até pelos Beatles, num ensaio da
banda em 1970. Nesse tempo as mídias tecnológicas orientadas pelo capitalismo
atroz, ainda não tinham ousado tomar conta das nossas vidas! Ainda tínhamos
autonomia e independência! O capitalismo sempre foi muito cruel, mas, devido à
nossa população, à época, ainda ser pequenina, sem o gigantismo populacional,
ou, a doença do crescimento, a “banda podre” da invasão tecnológica, ainda não
havia produzido os estragos irreversíveis na nossa cultura popular. Entendo que
essa crudelidade do capitalismo avança na medida em que há um aumento desmedido
da população, diminuindo a informação dessas pessoas, e, consequentemente,
acentuando o poder de absorção das coisas negativas determinadas pela avalanche
tecnológica.
É impressionante como perdemos a
vergonha e o amor próprio! Não temos mais uma identidade! Mesmo as pessoas
nativas do interior, salvo raríssimas exceções, já foram contaminadas pela
massificação do lixo midiático que é despejado, incessantemente, pelos inúmeros
meios de comunicação do novo mundo. Na semana passada assisti num canal de
televisão local a divulgação de uma festa junina na cidade de Piranhas. O
título do evento - “forrógaço” - nos sugeriu que a festa iria reviver a música
tocada pelos cangaceiros que barbarizaram por aquelas bandas no tempo do
cangaço. Pesquisando a programação do evento na internet, fiquei chocado com as
atrações principais estampadas na brochura promocional: Jonas Esticado, Samira
Show e Gabriel Diniz. Investigando depois o gênero musical dos três
penetras/convidados, fiquei ainda mais constrangido e confuso - o mesmo que
importuna as nossas “oiças” no carnaval e no Natal. Pasmem! Não consigo
entender o porquê de autoridades responsáveis pela cultura de um povo,
promoverem um evento com esse sugestivo título, e, depois, convidarem intrusos
que não têm nada haver com a nossa cultura nordestina, muito menos, com o forró
do cangaço, como mal sugere o equivocado título.
Os crimes contra a cultura
nordestina, infelizmente, também foram cometidos nas duas cidades conhecidas
como as “capitais brasileiras do forró”. Em Campina Grande, foram convidados,
os forasteiros: Jorge&Mateus, Safadão, Mateus&Kauan, e Gustavo Lima.
Pasmem de novo! Já em Caruaru, o desrespeito foi ainda maior, pois, foram
contratados os intrusos: Marília Mendonça, Maiara &Maraísa, Bel Marques,
Simone e Simaria, Gustavo Lima, Dj Alok, Bruno e Marrone, e Mateus e Kauan.
Pasmem, mais uma vez! O que mais nos revolta é que esses penetras/convidados estão
tomando o lugar de: Flávio José, Elba Ramalho, Geraldo Cardoso, Geraldo
Azevedo, Jorge de Altinho, Amazan, Trio nordestino, 3 do Nordeste, Alcimar
Monteiro, Nando Cordel, Eliezer Setton, Genival Lacerda, Gerson Filho,
Osvaldinho, Edgar dos 8 Baixos, forró no sítio, orquestra sanfônica, e muitos
outros do mesmo quilate.
É fulcral lembramos que toda
essa falta de respeito à nossa cultura está, também, ligada às quadrilhas,
dantes marcadas e dançadas, inocentemente, pelos nossos jovens vestidos de
matutos.
Respeitem a nossa música!
Respeitem a nossa cultura!
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